Seja nas roupas, seja na decoração de ambientes ou em campanhas publicitárias, as cores exercem influências sobre as emoções, as experiências e os comportamentos mesmo que as pessoas não tenham consciência disso. Nesta entrevista, o tema é aprofundado pela professora de artes, pesquisadora, escritora e produtora de conteúdo digital Kacianni Ferreira.

Ela é autora do livro ‘Psicologia das cores’ (Wak Editora), que, além das características, classificações, dimensões, sensações, associações, efeitos e simbologias das cores, aborda diversos assuntos de estreita relação com as cores, tais como: estudiosos das cores e da luz, cor na decoração de ambientes, cores e faixas etárias, cores e roupas, cromoterapia e dicas publicitárias.

Graduada em educação artística, habilitação em artes plásticas, pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), Kacianni, natural de Teresina/PI, tem especialização em cultura e arte barroca pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e em educação global, inteligências humanas e construção da cidadania pela Fundação de Estudos Sociais do Paraná (FESP).

Por que decidiu escrever o livro ‘Psicologia das cores’? Qual o objetivo da obra?

As cores despertam minha curiosidade desde a infância. A mistura e a transformação delas em outras cores me levou a experimentar e pesquisar sobre o assunto. O livro ‘Psicologia das cores’ é fruto de pesquisa iniciada em 1988, quando ingressei no curso de educação artística, habilitação artes plásticas, em Teresina, Piauí. Foi onde aprofundei os estudos sobre os fundamentos da linguagem das cores e tive aulas de pintura com os mais diversos tipos de tintas e texturas.

Em agosto de 1999, já residindo na cidade de Natal/RN, recebi convite para ministrar minicurso sobre as cores e seus efeitos durante o III Encontro pela Consciência Holística, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Aceitei o convite e denominei o minicurso como psicologia das cores. Em seguida, continuei pesquisando o tema, culminando na escrita do livro e publicação da primeira edição em 2013, pela Wak Editora.

O objetivo da obra é beneficiar o máximo de pessoas possíveis, ampliando a visão e o conhecimento sobre os efeitos, as sensações, as características, as simbologias e os benefícios das cores, utilizando-as de modo mais consciente. Por meio de linguagem e escrita acessíveis, intercalo ressonâncias artísticas, poéticas, didáticas e técnicas. ‘Psicologia das cores’ é um livro destinado a todas as pessoas sensíveis às cores.

Fale sobre a simbologia das cores nas roupas.

Na obra ‘Teoria das cores’ (Zur farbenlehre), lançada em 1810 pelo cientista, escritor e pensador alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), é registrada, pela primeira vez na história, a influência que a cor exerce nas nossas vidas nos aspectos físico, mental e emocional. Ou seja, pesquisando sobre as cores, Goethe descobriu que o vermelho tem propriedade estimulante no organismo, o azul acalma e o amarelo provoca sensações de alegria. Esses efeitos dependem da tonalidade usada. A partir desse ponto, surge um novo enfoque no estudo da luz e seus efeitos na vida humana.

Tais efeitos também se estendem ao nosso vestuário. Ao usarmos uma roupa de determinada cor, somos influenciados por ela, tenhamos consciência disso ou não. Por exemplo, a roupa marrom nos auxilia a sentir mais segurança. A roupa amarela, mais alegria. Além da sensação causada em nós, a cor da roupa afeta a visão das outras pessoas. Ou seja, quando elas olham para nós, assimilam a impressão que provém da cor de nossas roupas.

As cores claras são alegres e envolventes, enquanto as escuras causam sensação de seriedade e isolamento. Você já viu um advogado usando terno amarelo? É mais fácil vermos um artista utilizando roupas com essa cor.

De acordo com outros pesquisadores das cores, entre os quais, Paulo Toledo Soares (‘O mundo das cores’, 1991) e Valcapelli (‘As cores e suas funções’, 2000), sintetizo a seguir a simbologia das cores nas roupas e seus efeitos.

Roupa branca: estar vestido de branco nos deixa festivos, joviais e alegres. Representa pureza, limpeza, leveza, sinceridade, paz. Vestir roupas brancas torna a pessoa mais propícia à descontração e à comunicação. Para os orientais, o branco está associado à morte e ao luto, mas, também, à seriedade, ao respeito e à transmutação.

Roupa preta: o uso de roupa preta demonstra o desejo de manter-se misterioso ou tentar encontrar sua individualidade. É uma cor muito utilizada por grupos religiosos, pois leva ao distanciamento do mundo externo e ao autoconhecimento. A roupa preta também simboliza requinte, elegância, nobreza, imponência, seriedade, tradição, responsabilidade e respeito.

Roupa cinza: mistura de branco e preto. Não produz tensão, nem relaxamento. É a cor da neutralidade. Combinada com outras cores, transmite sensação de equilíbrio. Em alguns casos, representa autonegação, repressão, tristeza, apatia, insegurança e tédio.

Roupa vermelha: ideal para a prática de esportes, atletismo e competições, pois acentua a disposição. Essa cor é ideal para quem quer ser visto, pois desperta atenção. É a cor mais frequente nos trajes femininos, justamente pela reação que causa. Um vestido vermelho despertará desejo sexual, mas é necessário cautela, pois, se o seu companheiro teve um dia cansativo e estressante, o vermelho irá agredi-lo, produzindo efeito oposto. O vermelho que nós, ocidentais, associamos à paixão, ao amor e à energia significa prosperidade, fortuna e sucesso para os chineses, razão pela qual algumas noivas chinesas usam vestidos com essa cor no dia do casamento, para atrair uma vida conjugal próspera.

Roupa rosa: é a mistura do vermelho com o branco. É vital para a beleza feminina; enaltece, vitaliza, estimula e aumenta o desejo de prazer. É ideal para o traje de dormir feminino, pois proporciona serenidade e harmonia. Essa cor simboliza amor, simpatia e gentileza. Também é purificador sanguíneo.

Roupa laranja: mistura do vermelho com o amarelo. Proporciona desconcentração verbal e corporal, é jovial, causa leveza, alegria e bom humor. É uma cor antidepressiva, ajuda a elevar a autoestima e liberar emoções e expressões. Aumenta o prazer e a sensualidade, mas não é uma cor envolvente, ou seja, não desperta a afetividade. Não é recomendada para quem precisa manter autoridade.

Roupa amarela: transmite alegria, atrai a atenção e favorece a comunicação. Causa uma sensação de estar radiante, jovial e alegre, porém não transmite segurança, autoridade, firmeza e estabilidade. Para os chineses, é a cor associada ao imperador, representando autoridade.

Roupa verde: mistura do azul com o amarelo. Recomendada para pessoas hiperativas. É uma cor que atrai bens materiais e oportunidades. É indicada para ser usada quando se procura empregos. É a cor do dinheiro, do sucesso e da prosperidade. Seu uso é propício em reuniões de negócios e empreendimentos.

Roupa azul: acalma as tensões e dá uma aparência jovem a quem usa. Convém usar roupas azuis combinadas com outras cores para não corrermos o risco de nos sentirmos cansados e deprimidos. Deve-se evitar roupas de tonalidades azuis em momentos depressivos. Para os orientais, a cor azul simboliza esperança.

Roupa índigo: mistura do azul com o preto. O uso de roupa de cor índigo deixa a pessoa tranquila, serena e mantém o equilíbrio. É relaxante para quem usa e permite a aproximação dos outros. É uma cor que transmite paz e conhecimento de causa, favorecendo a aprendizagem.

Roupa marrom: mistura de vermelho com verde (ou amarelo com violeta). Utilização de roupas com essa cor indica compromisso, seriedade, firmeza e segurança. Sugere confiança e ajuda a refrear extravagâncias. Uma pessoa que gosta de se vestir com marrom é dedicada e comprometida com o seu trabalho, sua família e seus amigos. A cor marrom favorece organização e constância, especialmente nas responsabilidades do cotidiano. As pessoas que gostam de usar essa cor são capazes de ir “à raiz das coisas” e lidar com questões complicadas de maneira simples e direta.

Podemos vestir roupas de todas as cores, combiná-las, formando belos contrastes ou não. Cada pessoa tem um gosto e pode fazer uso das cores que lhe agradam.

Qual a relação entre faixas etárias e cores?

Referência na psicologia da cor, Juan Basilio Gómez (J. Bamz), autor de ‘Arte y ciencia del color’, fez pesquisa que alia a idade à preferência que o indivíduo manifesta por determinada cor. Aqui compartilho quadro sinóptico com a relação entre faixas etárias e cores utilizado no campo mercadológico (Farina, 1990, p. 105).

As cores podem influenciar a percepção e o comportamento do consumidor. Na comunicação e no marketing, as cores são utilizadas estrategicamente para impulsionar vendas e fortalecer a identidade visual de pessoas e empresas, além de aumentar o engajamento.

O tema é praticamente inesgotável e as indicações aqui apresentadas devem servir apenas como referências e não como verdades absolutas. Um outro estudo que pode ser usado nos seus trabalhos de comunicação visual é a preferência das cores de acordo com a idade.

Veja como Bamz classificou as cores de acordo com a preferência dos indivíduos em faixas etárias:

1 a 10 anos: período da efervescência e da espontaneidade: vermelho

10 a 20 anos: idade da imaginação, excitação e aventura: laranja

20 a 30 anos: idade da força, potência, arrogância: amarelo

30 a 40 anos: idade da diminuição do fogo juvenil: verde

40 a 50 anos: idade do pensamento e da inteligência: azul

50 a 60 anos: idade do juízo e da lei: lilás

60 anos em diante: idade do saber, da experiência e da benevolência: roxo

Fale sobre a cor na decoração de ambientes.

Na decoração de ambientes ou design de interiores, a escolha adequada de cores busca estabilizar as emoções e promover sensação de harmonia. As cores das paredes, cortinas, tapetes, móveis e peças decorativas é de suma importância, pois elas causam sensações muito específicas, favorecendo ou não nosso bem-estar, podendo contribuir para a melhoria de nossa saúde ou trazer desequilíbrios. Por esse motivo, sugiro cores claras como branco, bege, areia e outras similares para as paredes de nossas residências e escritórios. Essas cores nos transmitem paz, serenidade e limpeza. No entanto, para algumas pessoas, o branco pode representar tristeza e frieza. É relevante saber quais as cores preferidas do cliente para os quais vamos desenvolver um projeto ou ambientação, evitando impacto negativo.

Eu utilizo as propriedades terapêuticas das cores para reduzir ansiedade, por exemplo. As paredes e o piso da minha residência são brancos. Mas apenas ter consciência disso não é suficiente. Utilizo técnicas e outros conhecimentos da medicina alternativa e da convencional para obter melhores resultados. E cada pessoa deve procurar o que for mais adequado para si. A seguir, apresento cores para decoração de ambientes e seus efeitos.

Dormitório: o branco, o bege e o azul claro são as cores mais indicadas para as paredes dos dormitórios, propiciando um sono tranquilo e profundo. A pouca luminosidade também é fundamental, de preferência, dormir no escuro, reduzindo ao máximo os estímulos visuais. Para quem tem insônia, sugiro testar um pequeno abajur com lâmpada azul. Essa luz produz um contato óptico com a cor e emana o raio colorido que nos atinge, causando o efeito relaxante, característico dela. No caso de pessoas com depressão ou fraqueza física, recomenda-se o uso do laranja em uma das paredes do dormitório.

Cozinha: na cozinha, o laranja tem a função de despertar o apetite. Essa cor pode ser utilizada em uma das paredes, em tonalidade clara. É ideal nas toalhas de mesa, jogo americano ou talheres, pelo fato de ser associado ao bom paladar. Se for uma toalha de mesa, poderá ser de tonalidade clara para não saturar; se for um objeto pequeno e talheres, poderão ter uma tonalidade mais viva para destacar.

Sala de estar: além do branco e do bege, o azul é uma das cores utilizadas em salas de estar, pois é a cor do aconchego, causando sensação acolhedora. O violeta causa sensação de sofisticação, requinte e espiritualidade, facilitando a elevação do padrão vibracional, mas utilize essa cor com moderação, em apenas uma parede e, de preferência, a menor, para não causar sonolência ou saturação.

Trabalho: o amarelo provoca um estímulo da capacidade psíquica e, para quem trabalha muito com a mente ou passa muito tempo diante do computador, essa cor é ideal; se você puder usar algo amarelo em volta do teclado ou no monitor, como, por exemplo, um adesivo, uma flanela ou um ímã, seu desempenho poderá aumentar. Essa cor é animadora, ajuda no autoequilíbrio, fortalece os ouvidos e os olhos.

O lilás e o violeta têm efeito purificador, acalmam o coração, a mente e os nervos. No entanto, para algumas pessoas, podem causar sonolência. Nesse caso, utilize as referidas cores apenas em pequenos detalhes.

As cores são companheiras diárias em nossas vidas, no entanto grande parte da população ocidental ainda não tem consciência do quanto elas influenciam nossas emoções e experiências. Vale ressaltar que as reações aos estímulos das cores podem fazer sentido e funcionar para umas pessoas e para outras não. E tudo bem. Minha sugestão é que os leitores observem, reflitam, vivenciem e utilizem as cores da forma que melhor lhes convier, com a mente aberta.