Há anos o uso recreativo de medicamentos para disfunção erétil por homens jovens é estudado na literatura internacional. Além das pesquisas, é possível observar na prática clínica que uma das principais queixas sexuais que chegam aos consultórios médicos e psicológicos por essas faixas etárias do público masculino é a dependência dessas drogas nas relações sexuais.

Nesta entrevista, o assunto é aprofundado pela psicóloga clínica e educadora Patrícia Brito Ribeiro de Oliveira. Ela é mestre em psicologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), tem formação em sexologia clínica e terapia cognitiva e está se especializando em sexualidade humana.

Quais são as principais causas do uso indiscriminado de medicamentos para ereção por homens jovens?

Uma pesquisa feita pelo Instituto GFK de 2014 a 2015 mostrou que, entre os homens de 22 a 30 anos que experimentaram os estimuladores nos últimos seis meses, um em cada cinco passou a usar em todas as relações sexuais. E o que leva esses jovens a buscarem esses medicamentos é a ansiedade por um bom desempenho e o medo de falhar.

Quais podem ser as consequências físicas e psicológicas desse uso indiscriminado?

Além da dependência, alguns dos efeitos colaterais físicos que podem atingir os pacientes são dores de cabeça, vista embaçada, dores nas costas e nas pernas e sensação de nariz entupido. O uso do medicamento faz com que os jovens não aprendam a ter uma relação sexual de forma espontânea, o que aumenta a dependência do remédio e a insegurança de tentar qualquer experiência sem ele, podendo gerar ansiedade e dificultar de fato a ereção.

De que forma psicologia pode e vem contribuindo para que o uso indiscriminado de medicamentos para disfunção erétil deixe de ser uma realidade alarmante e as relações sexuais passem a ser mais saudáveis na juventude (e consequentemente no resto da vida)?

A psicoterapia pode ajudar a desfazer vários mitos associados ao sexo, que é aprendido da pior forma por meio da indústria pornográfica, que exige das pessoas um sexo performático e um desempenho irreal. Além disso, a psicoterapia pode ajudar os jovens a construírem relações genuínas, de intimidade e conexão que vão contribuir para uma experiência sexual transparente e com muita comunicação. A psicoterapia vai construir os caminhos para reduzir a ansiedade e fortalecer a autoestima dos jovens.

Qual o papel dos demais profissionais da saúde (como médicos e até mesmo farmacêuticos) para a prevenção e o combate dessa prática?

Os profissionais de saúde devem orientar sobre os riscos do uso recreativo de tais medicamentos e incentivar a busca de uma avaliação médica especializada e a ajuda de um profissional de psicologia capacitado para lidar com queixas sexuais.

De que forma a família, a escola, os parceiros sexuais e também as amizades próximas podem contribuir nesse sentido?

Por meio da educação sexual de qualidade, podemos desconstruir muitos mitos e tabus e possibilitar espaços de escuta e esclarecimento de dúvidas sobre a sexualidade de maneira geral. A educação é transformadora.

Existe alguma política pública no sentido de conscientizar para a prevenção e/ou o combate desse tipo de automedicação?

Não políticas públicas específicas que falem sobre esse problema de saúde pública. O que temos são proibições de propagandas desses medicamentos e um incentivo a buscar avaliação médica. Os conselhos federais de medicina, farmácia e psicologia também já se posicionaram sobre o tema e até emitiram notas de orientação aos profissionais e a população em geral. Precisamos tratar o uso recreativo desses medicamentos de forma séria e eficaz, mas não punitiva. E a educação sexual é o melhor caminho.