Certa vez um viajante parou para estadia por um dia em uma cidade muito movimentada. Ele mal conseguia escutar seus pensamentos diante dos barulhos dos carros e todo o movimento na rua. Ele decidiu, então, procurar um lugar mais quieto, mas a verdade é que quanto mais ele andava à procura desse lugar de quietude, mais barulho ouvia. E a movimentação externa se tornou sua agitação interna. Ele se sentia tão aflito, que ia entrando de lugar em lugar, buscando o silêncio. Mas, logo percebeu que naquela cidade, tal local não existia. O barulho era constante e incitava a agitação. No momento em que ele se deu conta de que não tinha para onde ir, decidiu apenas ouvir os sons à sua volta. Fechou os olhos, deixou o vento bater em seu rosto e se misturou ao barulho.

Foi percebendo que podia deixar sua mente fluir junto com os sons, e deu atenção à sua respiração, seus batimentos cardíacos e, de repente, tudo foi se acalmando. Os sons externos continuavam lá, mas deixaram de incomodar. E ele encontrou a tranquilidade dentro de si.

Olhar para dentro

Essa pequena reflexão indica um caminho que vem cada dia mais sendo seguido por milhares de pessoas: a meditação. Na simples escolha de olhar para dentro, de escutar o que acontece sem julgamentos ou críticas, de aceitar o momento presente e trazer a atenção para a respiração, para o ser, é possível ter mais saúde e qualidade de vida. Ser saudável é muito mais do que não apresentar uma doença física e envolve consciência de si, autoestima, capacidade de realizar as atividades de vida diárias, escolhas pessoais benéficas para o sono, alimentação, atividade física, além de relação intra e interpessoal. E como a meditação pode ajudar a ter uma saúde melhor?

Pesquisas recentes realizadas em diversas universidades dos Estados Unidos mostram que os diferentes tipos de meditação ativam áreas cerebrais que influenciam o organismo como um todo.

“Na prática, aumenta a atividade do córtex cingulado anterior (área ligada à atenção e à concentração), do córtex pré-frontal (ligado à coordenação motora) e do hipocampo (que armazena a memória). Também estimula a amígdala, que regula as emoções e, quando acionada, acelera o funcionamento do hipotálamo, responsável pela sensação de relaxamento.” (CORDEIRO, Thiago).

A vida moderna é corrida, exigente e, muitas vezes, padronizada. As pessoas acabam por realizar tarefas de modo automático, sem espaço para perceber o que estão fazendo ou perceber como as atividades afetam a mente e o corpo. São horas na frente do computador, tablet ou celular; postura inadequada, tarefas repetitivas que trazem desconforto e adoecimento em múltiplos aspectos.

Autogerenciamento emocional

O Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos destaca que os estudos desenvolvidos no país consideram que a meditação é uma prática segura e pode contribuir em diferentes casos, como dor, pressão alta, síndrome do intestino irritável, ansiedade, depressão, insônia etc. Corpo e mente são beneficiados, melhorando muitos problemas de saúde e promovendo comportamentos mais saudáveis (NCCIH, 2016).

Em uma iniciativa inovadora, o parlamento britânico, na Inglaterra, contratou pesquisadores de meditação da Universidade de Oxford para treinar os parlamentares em mindfulness, o que acarretou um compilado de pesquisas para inspirar políticas públicas em saúde, educação, sistema carcerário e ambiente de trabalho.

Olhar para o ser humano e suas necessidades vem se tornando uma prioridade que não pode ser mais negada ou deixada de lado, pois as doenças do século XXI contemplam aspectos comportamentais e dependem da ação humana para que sejam superadas. Nesse contexto, um ponto específico deve ser considerado: mente e corpo formam um sistema intrinsecamente interligado e, quando uma parte é afetada, ocorrem desdobramentos na outra.

Sendo assim, destaca-se que a saúde mental é muito beneficiada pela prática da meditação, pois, ao colocar a atenção em si mesmo, na sua respiração, ao perceber que pensamentos e emoções surgem, suspendendo o julgamento e ativando o observador interno, é possível aprimorar o autoconhecimento e o autogerenciamento emocional.

E MAIS…

Outros benefícios

Diversas pesquisas sobre meditação vêm sendo desenvolvidas em todo o mundo e a maioria delas ressalta os benefícios da prática, que vão desde a melhoria da atenção e concentração, até o gerenciamento emocional e a melhora da saúde.

Alguns dados relevantes:

  • Dados da Pesquisa Nacional de Saúde dos EUA indicam que, de 2012 a 2017, triplicou o número de adultos praticantes de meditação.
  • No Reino Unido, a prática de meditação Mindfulness faz parte de um protocolo das diretrizes oficiais de saúde para tratamento de pessoas com depressão.
  • Em 2016, foi publicado um estudo, com autores espanhóis e brasileiros, que indica relação direta de práticas meditativas com maiores níveis de consciência plena, autocompaixão e felicidade.

Fonte: http://www.comciencia.br/meditacao-o-que-ciencia-diz-sobre-praticas-como-o-mindfulness/

Referências:
CORDEIRO, Thiago. Meditação ganha, enfim, aval científico. Revista Veja, 2013. Disponível em: https://veja.abril.com.br/saude/meditacao-ganha-enfim-aval-cientifico/
MEDITAÇÃO EM PROFUNDIDADE. NCCIH, 2016. Disponível em: https://www.nccih.nih.gov/health/meditation-in-depth
PETROPOULEAS, S. Meditação: o que a ciência diz sobre práticas como mindfulness. Dossiê Limites da Mente (Mar-2019) _Comciência. Disponível em: http://www.comciencia.br/meditacao-o-que-ciencia-diz-sobre-praticas-como-o-mindfulness/