REFERÊNCIAS
BOWLBY, John. Apego: a natureza do vínculo. Volume I trilogia Apego e Perda. 3 edição. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
____. Cuidados Maternos e Saúde Mental. São Paulo: Martins Fontes, 2020.
____. Formação e rompimento dos laços afetivos. São Paulo: Martins Fontes, 2015.
____. Separação: angústica e raiva. Volume II trilogia Apego e Perda. 4 edição. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
FREUD, Sigmund. Obras completas. Rio de Janeiro: Imago, 1987.
YOUNG, Jeffrey; KLOSKO, Janet S.; WEISHAAR, Marjorie E. Terapia do Esquema: Guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras.
WAINER, Ricardo; PAIM, Kelly; ERDOS, Renata; ANDRIOLA, Rossana. Terapia Cognitiva focada em esquemas: Integração em psicoterapia.
Muitos chegam até os consultórios levados por motivações de terceiros ou mesmo “convencidos” por alguém.
No entanto, quando os pacientes se permitem fazer parte de um processo psicoterapêutico, quando se engajam verdadeiramente e se aplicam no entendimento de suas mazelas emocionais, a coisa muda de figura. Não são poucas as vezes em que psicólogos ouvem testemunhos incríveis do poder da transformação proporcionada pelo processo de psicoterapia.
E também não é incomum que o profissional ouça afirmações do tipo: “nossa, eu acho que todo mundo devia fazer terapia. Agora eu consigo ver isso!”.
A riqueza do autoconhecimento
Bem, nós psicólogos realmente somos suspeitos para falar o quão preciosa é a oportunidade de se fazer terapia, já que facilmente poderíamos listar inúmeras benfeitorias vistas na vida de nossos pacientes. E também nas nossas. Afinal, todo psicólogo que se preze fez e/ou faz terapia.
Mas, o que será que esta caminhada orientada por um profissional faz com as pessoas? Por que será que todo mundo deveria experimentar a psicoterapia? Além das mudanças óbvias percebidas por pacientes e terapeutas, quais outros motivos deveriam se considerados para que mais pessoas se engajassem num processo dessa natureza?
O ponto mais importante para poder se responder a estas questões é o autoconhecimento. Mas, não um conhecimento superficial de si. Antes, o conhecimento de “regiões” do “eu” que as pessoas em geral nem sabem que existem.
Regiões não conscientes
Essas ditas “regiões” nada mais são que espaços carregados de memórias, emoções e crenças que nem sempre pode ser acessado na consciência, mas que interferem na forma como as pessoas reagem e se comportam em suas vidas.
A Psicanálise de Sigmund Freud é um tratado incrível sobre essa vida inconsciente que não conhecemos totalmente, mas que nos acompanha ao longo de toda história.
O psicólogo e psicanalista britânico John Bowlby, em sua Teoria do Apego, também fez um tratado importantíssimo e amplamente utilizado até hoje sobre o poder das primeiras experiências de cuidado, aproximação e afeto no decorrer de nossas jornadas individuais.
Para Bowlby, toda ser humano nasce necessitando “se apegar”, se vincular a outro ser humano já que a nossa espécie nasce dependente de cuidado e zelo, diferente de outros animais que já conseguem ser mais autônomos nos primeiros instantes de vida.
Constituição saudável
Por conta dessa nossa dependência inicial, a figura de um ou mais cuidadores se torna, então, essencial. E a qualidade dos cuidados e dos vínculos proporcionados são, para Bowlby, determinantes para a constituição saudável e adaptada das pessoas.
Imagine um bebê dormindo tranquilamente em um berço, numa condição de paz e tranquilidade na qual ele e o ambiente estão em equilíbrio. Uma cena que todo mundo já teve a oportunidade de presenciar, de tão corriqueira e natural.
Agora imagine que um grande estrondo ocorre perto desse bebê e ele acorde assustado, com medo e muito perturbado com o que está acontecendo ao seu redor. O bebê teme porque sua segurança (cuja necessidade de preservação é instintiva) está sob ameaça. Em sua imaturidade, natural para a idade, o bebê não conhece meios para lidar com essa ameaça. Suas emoções tomam conta dele, já que racionalmente ele não tem ideia do que está acontecendo e nem de como se livrar do problema.
É nesse momento, que nosso lindo bebê procurará (em sua dependência primitiva e natural da nossa espécie) por esse porto seguro, pela figura que virá acalmá-lo, protege-lo, tranquilizá-lo. Se a mãe, o pai ou outra pessoa importante para o bebê vem e o protege, ele se sente novamente em equilíbrio e sua necessidade essencial é suprida. Mas, caso isso não aconteça, esse bebê pode interpretar a situação e internalizar a sensação de abandono, insegurança, receio.
Porém, em sua vida adulta, não terá a consciência plena desse fato, pois essa memória estará no inconsciente.
Necessidades centrais
Este é apenas um exemplo muito simples de situações que acontecem com todos os seres humanos. Bowlby afirma que todos temos necessidades centrais na infância, como a de ter vínculos seguros e saudáveis, de ser reconhecido, de ter espaço para ser espontâneo, livre, para ser quem se é.
O ser humano precisa ser orientado, ter limites razoáveis na infância. Também precisa ser valorizado, apoiado. Todas essas necessidades são consideradas essenciais porque são elas que norteiam a constituição de quem esse ser humano “pode ser”.
Se uma criança é valorizada, amada, orientada, protegida, amparada as chances de que se torne um adulto saudável e mais adaptados são enormes.
O problema é que nem sempre tais necessidades são inteiramente supridas.
Interpretações negativas
Ao longo da infância e da adolescência, os seres humanos vivem experiências que podem ser interpretadas de forma negativa.
Quem nunca viu uma família com três filhos que viveram as mesmíssimas experiências, mas, que se tornaram pessoas com qualidades bem distintas umas das outras.
Na Terapia do Esquema, Jeffrey Young propõem que o temperamento das pessoas somado as experiências da primeira infância e outros aspectos (como as tendências genéticas) devem ser sempre considerados no processo terapêutico.
E MAIS…
TCC e Terapia do Esquema
A Terapia do Esquema é um modelo mais recente de Terapia Cognitiva Comportamental que tem ajudado muitas pessoas a entender e reelaborar feridas emocionais do passado e comportamentos desadaptados do presente.
Então, observando apenas alguns dos inúmeros conceitos relevantes da Psicologia não fica difícil entender a resposta que sempre podemos dar quando alguém nos pergunta de todo mundo deveria fazer psicoterapia.
Talvez cada um possa encontrar sua própria resposta analisando as informações trazidas neste pequeno texto.
O fato é que no nosso mais profundo âmago, naquela nossa parte inconsciente e não tão facilmente acessível, todos temos questões por ressignificar, por entender.
E o mais provável é que o entendimento dessas questões traga cura e funcionalidade para nossas vidas. É exatamente sobre isso que a psicoterapia se refere. Então, por que não fazer?
Conte comigo e até a próxima!
