Confesso que tenho a sensação de que o ano de 2020 se estendeu para 2021 e estamos em compasso de espera, ainda aguardando quando vamos nos vacinar e retomar a nossa rotina com segurança para todos. Neste contexto, é preciso muito autoconhecimento para evitar a perda de energia em processos destrutivos ou em comportamentos de procrastinação

Enquanto não descobrimos o nosso propósito, como reagimos às situações de conflito, quais as nossas emoções, não conseguimos avançar. Quem nunca experimentou ciclos de preguiça para mudar ou simplesmente agir?

Por exemplo, no contexto de tanta impermanência, fica difícil planejar férias, viagens, eventos. Você já parou para pensar que está perdendo o contato com o autorrespeito, quando vai adiando a realização de coisas importantes em sua vida? O desafio é aprender a redirecionar a nossa energia e perceber que tudo passa. Quando as coisas não passam, provavelmente você está dentro de um ciclo de padrões repetitivos. Portanto, o alívio de dar um check list em sua listinha de tarefas e concretizá-las é fundamental.

Autoconhecimento: nossa bússola interna

Recentemente, ouvi em um curso de estudos budistas a seguinte frase: “Quais são os ralos que levam a nossa energia”? Segundo a psicóloga Sandra Guimarães e professora do curso “Caminho da Habilidade”, do Centro Nyingma de Budismo Tibetano, os ralos são: a arrogância, o desinteresse, o estresse, a apatia e o desejo que as coisas sejam diferentes. Sandra comenta que o autoconhecimento funciona como uma bússola interna e a preguiça como uma parte energética que precisa ser vista e ser cuidada. Nesse primeiro trimestre, muitos de nós tem dificuldade para organizar as metas de 2021. “A disciplina, a paciência e o vigor de continuidade é levantar e começar a fazer. Para fazermos o nosso planejamento do ano, precisamos nos libertar da preguiça. Quais as crenças limitantes que nos fazem desistir de colocar as metas no papel?”, destaca.

Há uma lista infinita de justificativas e desculpas quando estamos preguiçosos.

Aprendi o quanto a preguiça atrasa a nossa vida. Então, o que é preciso fazer para tomar atitude e mudar esse comportamento? “É preciso falar sim para você mesmo, levantar e fazer as atividades. Nem que seja arrumar uma gaveta. Energia precisa circular. Se não, vira tédio”. A preguiça nos dá um álibi para a inação, para o não fazer. Ela tem uma lógica. A preguiça é muito inteligente. Ela dá muitas justificativas e desculpas. Em todo esse processo, você está desperdiçando o tempo. “Tem pessoas que cultivam o hábito da preguiça com glamour. Para que nós vamos nos cansar tanto?”, alerta a psicóloga.

É natural que isso ocorra em um momento que exige grande resiliência e adaptação frente à continuidade da pandemia. Tomar consciência do desperdício do tempo de vida, das coisas que acontecem agora é o primeiro passo.  Não podemos fazer poupança do tempo e ficar remoendo os problemas com pensamentos negativos, que não vão mudar a nossa vida. Pelo contrário, acabamos alimentando os pensamentos disfuncionais, gerando mais ansiedade.

Os três tipos de preguiça

No curso “Caminho da Habilidade”, aprendi que há três tipos de preguiça que acometem as pessoas e atrapalham a realização das ações necessárias: a preguiça do adiamento, a preguiça das distrações e a preguiça do desencorajamento. Na primeira, é importante reconhecer a importância do aqui e agora e não dar chance à mente preguiçosa. Nós adiamos as tarefas na cara de pau. Ignoramos que a vida está passando, que as oportunidades não voltam e que existe a possibilidade de morrer. Nós não pensamos na finitude, que as coisas acabam. Muitas vezes, a família e grupos de amigos cultivam tipos de preguiça. Durante a pandemia, nós experimentamos isso de forma muito concreta. “Percebemos que a lei da impermanência é o grande antídoto para o adiamento”, afirma.

Na preguiça das distrações, verificamos que qualquer coisa é distração e pode ser usada como justificativa e desculpa. Sua energia pode ir para o ralo. Afinal, o que estamos querendo esconder? Já na preguiça do desencorajamento: ela vem do que você vê de forma equivocada. Você se desencoraja. “Nesse contexto, a pessoa vê que terá trabalho, e será necessário abrir mão de coisas e realizar outras. Aí, muitas pessoas desistem. Para atravessarmos as nossas negatividades, temos que nos conscientizar desses três tipos de preguiça”, conclui Sandra.

E MAIS …

A literatura como reforço à compreensão

Para refletir mais sobre esse tema, elegi dois pequenos trechos do livro: “Viver sem Arrependimento” (Arnaud Maitland, p. 365 e 366):

“Para nos esforçar de uma maneira equilibrada, que possa ser sustentada com o passar do tempo, precisamos aprender o truque de nos movermos um pouco mais rápido, nos esforçando um pouquinho mais do que estamos inclinados a fazer. Se empenharmos só cinco por cento a mais de energia e concentração, nossos padrões de resistência se dissolvem…”

“O esforço está relacionado com o tempo. Quando estamos atrasados ou adiantados no tempo, tudo exige um grande esforço. Quando estamos na hora, movendo-nos no ritmo do tempo, em vez de resistir a ele, nossos empreendimentos ficam cada vez mais fáceis de realizar.”