Os traumas estão na base de muitos sofrimentos psíquicos que se manifestam de formas diversas tanto no comportamento quanto na saúde emocional do indivíduo. Quando não tratados, comprometem a autonomia, os vínculos e a qualidade de vida. Ajudar os pacientes a ressignificarem essas experiências e retomarem sua capacidade de viver com liberdade e dignidade é, para o psicólogo clínico Matheus Procópio, uma das funções mais transformadoras da psicologia.

Com atuação autônoma no formato on-line, voltado à promoção da saúde mental com um olhar humanizado, ele possui especialização com foco em trauma, Dessensibilização e Reprocessamento por Movimentos Oculares (EMDR) e prevenção ao suicídio. Também tem experiência com avaliação psicológica para cirurgia bariátrica e orientação vocacional e é criador de projetos que promovem acolhimento emocional e conteúdos digitais que tornam a psicologia mais acessível.

Por que escolheu atuar com traumas dentro da psicologia clínica?

Escolhi atuar com traumas porque compreendo que eles estão na base de muitos sofrimentos psíquicos que se manifestam de formas diversas tanto no comportamento quanto na saúde emocional do indivíduo. O trauma não tratado compromete a autonomia, os vínculos e a qualidade de vida. Ajudar o paciente a ressignificar essas experiências e retomar sua capacidade de viver com liberdade e dignidade é, para mim, uma das funções mais transformadoras da psicologia.

De que maneira o estresse em relacionamentos afetivos pode evoluir para um quadro traumático?

Relacionamentos afetivos marcados por negligência, manipulação emocional, críticas constantes, traições ou violência, seja ela física ou psicológica, podem gerar um estado contínuo de estresse que, ao se tornar crônico, ultrapassa a capacidade adaptativa da psique. Quando não há suporte adequado e a experiência fere profundamente a identidade ou o senso de segurança, ela pode ser internalizada como um trauma. Isso se manifesta, posteriormente, por meio de sintomas como hipervigilância, evitação, baixa autoestima e dificuldade em estabelecer novas conexões afetivas.

Em que circunstâncias o ambiente de trabalho pode se tornar uma fonte de trauma psicológico?

O ambiente de trabalho pode se tornar uma fonte de trauma quando o indivíduo é exposto de forma prolongada a situações de humilhação, assédio moral, sobrecarga, instabilidade ou ameaças à integridade emocional. A ausência de reconhecimento, a competitividade tóxica e a desumanização das relações profissionais também são fatores que contribuem para experiências traumáticas, especialmente quando atingem o valor subjetivo que a pessoa atribui à sua identidade profissional.

Quais são as abordagens mais eficazes para o tratamento de traumas emocionais?

Dentre as abordagens disponíveis, destaco a eficácia da terapia EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento por Movimentos Oculares) no tratamento de traumas emocionais. Essa técnica trabalha diretamente com a memória traumática, permitindo que o cérebro processe experiências que ficaram “presas” de forma disfuncional.

Durante a sessão, o paciente é conduzido a acessar mentalmente a lembrança do evento enquanto faz movimentos bilaterais, geralmente com os olhos, mas também podendo ser táteis ou auditivos. Esse estímulo facilita a reorganização da memória, reduzindo a carga emocional associada e promovendo uma nova perspectiva sobre o ocorrido.

O EMDR é uma intervenção estruturada, validada cientificamente, e tem se mostrado altamente eficaz em casos de trauma único, traumas complexos, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e outras situações em que há sofrimento relacionado a eventos vividos.

Detalhe a terapia EMDR e para quais situações ela é mais indicada.

A terapia EMDR é uma abordagem psicoterapêutica estruturada que estimula o processamento adaptativo de memórias traumáticas por meio de movimentos bilaterais, geralmente oculares, feitos enquanto o paciente acessa mentalmente a experiência traumática. A técnica visa dessensibilizar a carga emocional associada à memória e promover uma reinterpretação mais funcional do evento. É especialmente indicada para TEPT, traumas simples ou complexos, fobias, luto, ansiedade e, em alguns casos, para quadros depressivos com origem traumática.

É possível prevenir o desenvolvimento de traumas? Como?

Sim, é possível prevenir o desenvolvimento de traumas, embora nem sempre seja possível evitar situações adversas. A prevenção se dá principalmente por meio de vínculos afetivos seguros, ambientes que favoreçam a expressão emocional sem julgamento, educação emocional desde a infância e acesso a apoio psicológico diante de situações de crise. A escuta qualificada e a validação das experiências do indivíduo atuam como fatores protetivos importantes.

O senhor desenvolve um projeto voltado à democratização do acesso à psicologia. Poderia falar mais sobre essa iniciativa?

Sim. Tenho um compromisso pessoal e ético com a ampliação do acesso à psicologia de qualidade, especialmente para populações que enfrentam barreiras econômicas, sociais ou simbólicas. Por meio de conteúdos educativos em plataformas digitais, como o Instagram e o YouTube, busco oferecer informações acessíveis, baseadas em evidências, sobre saúde mental, traumas e autocuidado. Além disso, ofereço atendimentos com valor social para pessoas em vulnerabilidade, acreditando que o cuidado psicológico deve ser um direito, não um privilégio.