O Dia Internacional da Pessoa com Deficiência que será comemorado amanhã, dia 3 de dezembro, foi criada em 1992 pela ONU (organização das Nações Unidas).
O momento se faz importante para refletirmos sobre a necessidade de Acessibilidade inclusão social para todas as pessoas.
Principalmente para que tenhamos consciência e mudança atitudinal no que diz respeito ao respeito e o reconhecimento da singularidade de todos os sujeitos.
Vida real
Construí minha carreira e autonomia porque fui incluído em uma escola regular.
Após quarenta anos pesquisando, falando e principalmente escrevendo sobre inclusão, psicologia e pessoas com deficiência, reabilitação, eu poderia falar aqui de vários aspectos que envolvem essas temáticas.
Mas como sei que aqui há pessoas maravilhosas para falar de vários aspectos que envolvem esses e outros assuntos fundamentais às pautas da Educação Inclusiva, peço licença e vou focar minha fala em meu relato pessoal e impressões.
Quando fiquei com paralisia cerebral durante o meu parto no final dos anos 1960, com sérios danos na fala e na coordenação motora, para grande parte das pessoas que me conheciam, eu já estava com o meu destino traçado.
Meus primeiros anos escolares foram isolados dentro da AACD – Associação de Assistência à Criança Deficiente. Em 1977, fui transferido para a AACD-Santana. Nessa época existia um muro interno que separava essa unidade do Colégio Buenos Aires, impedindo nós os alunos com deficiência em ter contato com os demais.
Quantas vezes eu ficava olhando pelo portão de grade com cadeado as crianças correndo e brincando no pátio e não podia participar com elas. E, quando o colégio tinha alguma Data Comemorativa, o cadeado era aberto e nós, alunos da AACD, podíamos ir até lá. Mas ficávamos separados, vigiados em um canto do pátio sem poder se misturar e brincar com as demais crianças.
Os dois lados da educação
Só que eu conheci os dois lados da educação. Em 1981, ao ser desligado da AACD, aos 11 anos de idade, minha família conseguiu um documento que o governo emitia na época, autorizando alunos com deficiência a ingressarem em escolas ditas normais.
Mudei-me para um colégio público em uma cidade pequena, aonde moravam meus avós maternos. Na AACD, eu estava no equivalente à quarta série. Especialistas da época acharam por bem me regredir dois anos, temendo que eu não acompanhasse a classe e me matricularam na segunda série.
Fui para a classe do professor Maroca. Na classe do Maroca, eu comecei a acompanhar todas as matérias como os demais alunos, a fazer e entregar trabalhos, participar dentro das minhas possibilidades de todas as atividades. A fazer provas e ter que tirar as médias para fechar o ano.
Sem qualquer privilégio, o que não pode haver para ninguém na Educação Inclusiva, a única diferença, era que o professor Maroca colava minhas folhas de atividades com durex na mesa para eu escrever.
Desenvolvimento cognitivo e social
Esse desenvolvimento não foi só cognitivo, como também social e pessoal. Ao ser incluído na escola regular, comecei a fazer amigos. Amizades que ultrapassavam os muros escolares e eu era levado para todos os lugares por eles, participava de todas as brincadeiras e aventuras. Crescíamos juntos e descobríamos os sabores e dissabores da adolescência.
Aquele menino que na época da AACD não podia nem ter amizades com as demais crianças, agora estava totalmente incluído naturalmente. Muitas coisas aprendi e superei tendo a minha deficiência e imitando meus amigos sem deficiência. Oportunidade que eu não teria se eu tivesse ficado com crianças iguais a mim na escola especial que eram apenas espelhos da minha deficiência. E. na escola regular e brincadeiras, eu me desenvolvia por estar copiando e querendo fazer tudo igual aos meus amigos sem deficiência.
Hoje muitas pessoas se espantam ao saberem que, mesmo com paralisia cerebral, tenho três graduações, seis pós-graduações e dois doutorados e livros publicados.
Os desafios que motivam
Digo que fui capaz de construir minha carreira e autonomia, porque um dia eu fui incluído em uma escola regular. Tive professores que não focaram primeiramente em minha deficiência, mas sim em minhas possibilidades.
O bom professor não aprende com bons alunos, mas sim com desafios, com os alunos que lhe tira da zona de conforto. Isso envolve adaptar métodos de ensino, oferecer suporte personalizado e promover um ambiente inclusivo onde cada aluno se sinta valorizado e capaz de alcançar seu potencial máximo.
A abordagem inclusiva adotada por seus professores não só o capacita a superar obstáculos, mas também o inspira a seguir uma trajetória de sucesso e independência, demonstrando assim o poder transformador da Educação Inclusiva e do apoio adequado dos educadores.
Sem rótulos
Depois de relatar tudo isso, não quero que minha história seja vista como um fato isolado. A escola precisa perder a péssima mania de rotular “alunos normais” e “alunos especiais/inclusivos”. O que a verdadeira escola tem são simplesmente ALUNOS!!!
Quando pequeno, alguns médicos disseram que eu não seria alfabetizado. Hoje sou grato à minha família que desde o início não duvidou do meu potencial e aos professores que me incluíram em escolas públicas, desde o primário até a vida acadêmica, pois eles não pensavam assim.
Por intermédio da Educação Inclusiva, da equidade e do convívio escolar, o futuro dessas crianças está garantido, e suas conquistas pessoais pela vida o destino se encarregará com belas surpresas.