Muitas vezes, são a próprias pessoas que constroem as barreiras que as impedem de alcançar seu pleno potencial. E quando se acostumam com suas próprias prisões, a liberdade se torna um dos seus maiores medos. “É fácil ficar preso em padrões familiares e zonas de conforto, mas a verdadeira liberdade surge quando nos desafiamos a sair dessas prisões autoimpostas”, afirma a psicanalista Beatriz Felizarda Santana. Ela acrescenta que o medo do desconhecido pode ser um obstáculo, mas é também uma oportunidade de crescimento. Nesta entrevista, incentiva todos a abraçarem a mudança, enfrentar seus medos e buscar a liberdade de ser a melhor versão de si próprios.

Nascida em Santa Rita do Araguaia, Goiás, Beatriz é graduada em pedagogia e filosofia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com pós-graduação em psicanálise clínica. Foi representante do Conselho Brasileiro de Psicanálise nos Emirados Árabes e Qatar. Depois de vários anos morando e trabalhando em cinco países, está de volta ao Brasil, atendendo on-line e presencial em seu consultório localizado em Itapema, litoral de Santa Catarina.

Você afirma que o medo do desconhecido pode ser um obstáculo, mas é também uma oportunidade de crescimento. Fale a respeito.

O medo do desconhecido reflete a resistência inerente à descoberta de partes desconhecidas de nós mesmos. Embora inicialmente percebido como um obstáculo, pode ser reinterpretado como uma oportunidade valiosa para o crescimento. Ao enfrentarmos o desconhecido, somos desafiados a sair da zona de conforto, explorar novas possibilidades e aprender em experiências inéditas. É na superação desse medo que encontramos oportunidades de crescimento, fortalecimento da resiliência, autoconhecimento e evolução, revelando caminhos para uma compreensão mais profunda do eu.

Como são construídas as barreiras – as próprias prisões – que impedem as pessoas de alcançarem seu pleno potencial?

Essas barreiras são construídas ao longo do tempo, resultado de uma interação complexa entre fatores internos e externos muitas vezes interligados, e estão enraizadas em processos psicológicos e dinâmicas internas como, por exemplo:

  • Socialização e modelagem. Desde a infância, as pessoas são socializadas em padrões culturais, familiares e sociais. As expectativas impostas pelos outros podem influenciar a formação de crenças sobre o que é possível e aceitável realizar na vida.
  • Medo do desconhecido e da mudança pode levar à construção de barreiras autolimitantes.
  • Experiências de vida traumáticas. Traumas significativos, como abuso, perda ou experiências emocionais dolorosas, podem criar barreiras psicológicas, afetando a autoconfiança e a capacidade de se relacionar positivamente com o mundo.
  • Limitações educacionais e oportunidades. A falta de acesso à educação de qualidade e oportunidades de desenvolvimento pode limitar as habilidades e a autoestima, criando barreiras tangíveis para o crescimento.
  • Condicionalidades de amor e aceitação. Em ambientes nos quais o amor e a aceitação são condicionados ao sucesso ou conformidade com determinadas expectativas, as pessoas podem internalizar barreiras no medo de desapontar os outros.
  • Autoimagem e identidade. A construção da autoimagem e da identidade ao longo do tempo pode ser influenciada por experiências passadas e pelas mensagens recebidas, levando a percepções limitadas do próprio potencial.
  • Internalização de fracassos passados, criando uma mentalidade derrotista que se torna uma barreira para novas tentativas.

Existem muitas outras, e compreender como são construídas é crucial para desenvolver estratégias eficazes de superação. A autoconsciência, a educação, o apoio emocional e a busca por experiências positivas são elementos importantes para desconstruir e superar essas barreiras ao longo do tempo. Aqui destaco a importância do autoconhecimento, da análise pessoal e, se possível, do acompanhamento terapêutico para lidar com essas barreiras psicológicas profundas.

E o que é exatamente esse pleno potencial e sua importância?

O pleno potencial refere-se à capacidade máxima de uma pessoa em termos de habilidades, talentos e contribuições. É a expressão mais completa das nossas capacidades, o de alcançarmos o ápice do nosso desenvolvimento pessoal e profissional. Essa realização vai além das habilidades técnicas; engloba a totalidade de quem somos, integrando aspectos emocionais, sociais e intelectuais.

Essa importância é multifacetada. Individualmente, atingir nosso pleno potencial proporciona um senso de realização e satisfação pessoal. Isso não apenas alimenta nossa autoestima, mas também impulsiona o desejo de enfrentar novos desafios e metas ambiciosas. A busca constante pelo pleno potencial também contribui para o desenvolvimento contínuo, promovendo uma mentalidade de aprendizado e crescimento. Em resumo, o pleno potencial é a realização máxima de nossas capacidades.

Como sair de padrões familiares, zonas de conforto e outras prisões autoimpostas para alcançar a verdadeira liberdade?

É um processo desafiador, mas profundamente recompensador. Primeiramente, é fundamental desenvolver uma autoconsciência. Isso envolve uma reflexão honesta sobre nossos valores, crenças e comportamentos moldados por influências familiares e experiência de vida. Ao compreender as origens desses padrões, ganhamos o poder de questioná-los e decidir conscientemente se eles ainda nos servem.

A coragem para mudar é um componente crucial. Isso significa estar disposto a enfrentar o desconhecido, a desafiar normas estabelecidas e a romper com padrões que possam limitar nosso crescimento. A mudança pode ser assustadora, mas é muitas vezes necessária para alcançar a verdadeira liberdade. Para alcançá-la, temos que ter a disposição de sair da zona de conforto e isso implica abraçar o desconforto e a incerteza que vêm com a expansão de nossos limites.

Ao desafiar rotinas familiares e padrões enraizados, criamos espaço para o crescimento pessoal e a descoberta de novas possibilidades. Ao adotar esses princípios, podemos quebrar as correntes das prisões autoimpostas e criar uma vida mais autêntica e realizadora.

E o que é a verdadeira liberdade e sua importância?

Eu defino a verdadeira liberdade como a capacidade de viver alinhado com valores autênticos, sem ser limitado por padrões externos. É a liberdade de seguir seu próprio caminho, superando amarras sociais, e buscar o crescimento pessoal com a emancipação das influências inconscientes, permitindo a autorreflexão e a autenticidade. Sua importância reside na realização individual, na expressão genuína e na construção de uma existência significativa.

Qual o papel dos profissionais da saúde mental, como psicólogos e psicanalistas, nesse processo de autoconhecimento e evolução das pessoas?

O papel desses profissionais na jornada de autoconhecimento e evolução é fundamental. Eles guiam a identificação e resolução de conflitos internos, estimulam o crescimento pessoal, promovem a saúde mental, capacitam indivíduos a evoluir. Além disso, fornecem apoio valioso na navegação de transições de períodos desafiadores, fornecendo orientações e perspectivas inestimáveis, oferecendo suporte emocional, ferramentas práticas e insights que capacitam as pessoas a alcançarem seu pleno potencial.