A história narra fatos de crimes horrendos como os do Barba Azul, Jack Estripador, Maníaco do Parque e tantos outros. Estes personagens perversos são incansavelmente representados nos romances, filmes, seriados, são criaturas que ao mesmo tempo provocam horror e fascínio.
O universo das perversões traz uma vida paralela que, pela via da metamorfose e da animalidade, faz aparecer a crueldade do gozo, que leva ao aniquilamento, a desumanização, ao ódio, a destruição que está no cerne da raça humana.
Onde começa a parte obscura?
Estes atos pressupõe a preexistência da fala, da linguagem, da arte, do sexo, o mundo animal está excluído, assim como do crime. A perversão é um fenômeno sexual, político, psíquico, estrutural presente em todas as sociedades humanas. É uma parte obscura de nós mesmos, que somente os mecanismos de sublimação e amorosidade pode neutralizar.
Onde começa a perversão? Quem são os perversos? A psicanálise explica pela constituição do sujeito, se dá pela fixação durante o desenvolvimento psicossexual na primeira infância (0 -10 anos), período da organização do psiquismo, juntamente com os afetos.
Fixação edípica
Usando um termo psicanalítico pode-se dizer que houve uma fixação no primeiro tempo edípico, que a criança está em um estado de simbiotização com a figura materna. Este período é alicerçado pela fantasia de que a mãe é o único objeto fálico (poder).
A fixação neste período, faz com que se desenvolva uma estrutura psíquica que se denomina estrutura perversa. A característica principal é a eleição de um objeto fetiche e a negação da lei do pai, a castração (lei que introjetamos que barra o que está fora da lei social convencional).
O gozo do mal
O perverso é aquele em que a lei não funciona, ele acredita que pode fazer o que quiser, nada o deixa temeroso. Não são loucos, eles passam ao ato em plena lucidez, após terem verificado que nenhum perigo os ameaça, como a presença de um policial, testemunhas, principalmente os perversos sexuais.
É o gozo do mal, tipicamente humano que resulta da história subjetiva, psíquica e social do sujeito. Somente o acesso ao mundo civilizatório, a Lei introjetada como afirma Freud, o criador da Psicanálise, é que pode corrigir essa parte obscura de nós mesmos.
É essa parte obscura que resulta em atos abusivos, negligência, espancamento, de ódio, abandono, sedução por parte de um adulto próximo da criança. Quem viveu estas situações traumáticas perde o respeito por si próprio, ao mesmo tempo em que se julga culpado pelos maus tratos que lhe infligem, o leva em seguida, a repetir esses atos com os outros.
manutenção e construção do processo civilizatório
A lei pune e é necessária para a existência da civilização, mas é a ética, a educação, a amorosidade de um núcleo familiar integrado que pode evitar a organização perversa.
Esse conjunto de práticas tão necessário para a manutenção e construção do processo civilizatório, fica cada vez mais distante em nossa sociedade, pois hoje, o que impera é o discurso do ódio, que só leva a destruição da civilização.