Nada intriga tanto a comunidade científica como a evolução e adaptação do cérebro humano, o órgão mais importante do corpo o qual ainda guarda muitos segredos e nuances que ainda são motivos de debate. Recentemente, o livro ‘Desconstruindo a ansiedade’, do neurocientista Judson Brewer, apresentou uma perspectiva polêmica sobre o funcionamento cerebral na atualidade. De acordo com o autor, as divisões de córtex pré-frontal (cérebro novo – racional) e partes mais primitivas (cérebro velho – ligado ao instinto de sobrevivência) não se comunicariam corretamente, o que faria o cérebro dar mais atenção a cenários pessimistas, causando a ansiedade.
No entanto, essa posição não é consenso entre especialistas. De acordo com o neurocientista Fabiano de Abreu Agrela, a relação entre essas duas partes do cérebro não explica as dificuldades que ele enfrenta na sociedade atual, e sim o ritmo de evolução biológica e tecnológica que não ocorre na mesma velocidade. “Não é que não haja uma boa conexão, mas sim a maneira como houve uma mudança abrupta relacionada à tecnologia a qual nosso cérebro não consegue se adaptar. Toda essa vida que vivemos, a tecnologia e o mundo virtual não condizem com a natureza do nosso cérebro”, afirma.
Biologia x tecnologia
Desde o grande boom da tecnologia, internet, smartphones etc., iniciou-se uma grande corrida na qual o prêmio final é ter o aparelho mais moderno. Isso gerou avanços enormes a ponto de um aparelho se tornar obsoleto em questão de meses. Entretanto, segundo o neurocientista, o organismo humano não evolui com a mesma rapidez, é um processo lento e demorado, que leva várias gerações para que seus resultados sejam observados. “Essa discrepância entre a velocidade da evolução biológica e tecnológica faz com que o cérebro humano não consiga acompanhar as mudanças no contexto em que ele está”, complementa.
De acordo com um estudo publicado pela revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, os animais levaram cerca de 24 milhões de anos para evoluírem do tamanho de um rato para o deu um elefante, enquanto os computadores levaram pouco mais de 30 anos para reduzirem seu tamanho de uma sala inteira para a palma de nossas mãos.
O ciclo da ansiedade
Agrela complementa que o caso não é que não há uma boa conexão, mas ela está sendo prejudicada, pois a ansiedade funciona como uma pendência. Segundo o neurocientista, o cérebro recorre, por meio da amígdala cerebral, a um ‘mapa de memórias’ para identificar situações parecidas e buscar uma solução nessas recordações. “Então, para buscar soluções para situações tristes, o cérebro recorre a memórias tristes para usá-las como exemplo, o que gera uma atmosfera negativa. Para sair dela, o cérebro busca recompensas de prazer. Por isso, quanto maior a ansiedade, maior a necessidade de compensação”, afirma.
Ele ressalta que é esse processo cíclico que interfere na conexão entre o sistema límbico – região ligada a decisões emocionais – e o córtex pré-frontal – região ligada a decisões racionais e ponderadas. “Ou seja, não são situações intrínsecas ao cérebro, e sim sobre como condicionamos o seu funcionamento”, conclui.