Uma pesquisa realizada com pacientes internados com Covid-19 no Hospital Universitário (HU) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) indicou que a presença de comorbidades, como hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares, é a principal causa do agravamento da doença em pessoas idosas.
O estudo foi aprovado e deve ser publicado nos próximos dias na revista “Cytokine”, periódico oficial da International Cytokine & Interferon Society.
Presença de comorbidades
O estudo foi realizado a partir de amostras de sangue coletadas de 142 pacientes, internados entre julho e outubro de 2020, e investigou a associação entre marcadores sanguíneos de inflamação e a gravidade da doença, conforme a faixa etária dos pacientes e a presença de comorbidades.
Os resultados mostraram que idosos com a doença apresentam níveis séricos mais elevados dos marcadores sanguíneos IL-6 e IL-10 (que são tipos de proteínas envolvidas na ativação ou supressão do sistema imune), em comparação com pessoas abaixo dos 65 anos. O marcador IL-10 está independentemente associado à idade e à gravidade da doença, mas, no caso de IL-6, os níveis séricos não se mostraram diretamente associados à idade.
O índice de comorbidade parece ser o principal responsável, estando significativamente associado aos níveis de IL-6 em pessoas com 65 anos ou mais, além da gravidade da doença.
Produção de citocinas
“O estudo traz novas evidências de que a resposta inflamatória desbalanceada parece ser devida mais ao número de comorbidades que à idade em si”, afirma Henrique Pott-Junior, professor do Departamento de Medicina (DMed) da UFSCar e um dos autores do estudo.
A produção desbalanceada de citocinas, identificada como “tempestade de citocinas”, tem sido identificada em cerca de 20% dos pacientes infectados com Covid-19 e, frequentemente, está associada ao agravamento da doença e maior risco de morte.
Moléculas de citocinas
As citocinas são moléculas que participam da comunicação entre as células e desempenham um papel particularmente importante na regulação do sistema imunológico, acelerando o processo inflamatório para lidar com infecções.
Tempestades de citocinas podem explicar porque algumas pessoas têm uma reação grave aos coronavírus, enquanto outras experimentam apenas sintomas leves.
“Nosso estudo vem se juntar a outros indicando o papel dos níveis de IL-6 e IL-10 como preditores de gravidade da doença e, também, mortalidade. No entanto, a maior parte das pesquisas não fazem esta análise de possíveis fatores que intervêm nessa relação, como idade, gravidade da doença e, especialmente, comorbidades“, afirma Pott-Junior.