Você já imaginou como seria um mundo com a certeza da vida após a morte? Como as pessoas agiriam aqui? Você se sentiria aliviado? E se eu dissesse que existe um filme em que o cientista comprova a existência da vida após a morte por meio de um experimento? No filme “The discovery”, o cientista Thomas Harbor (Robert Redford) comprova, sem sombra de dúvidas, a existência de vida após a morte, dando início a uma onda de suicídios.

Como (futuros) psicólogos, teríamos imenso papel diante desse cenário, afinal todo o apoio emocional seria necessário para aqueles que cogitam o suicídio e para aqueles que perderam alguém para a onda de suicídios após a descoberta. Nessa situação, tenho a certeza de que haveria grande aumento no número de pacientes com ideação suicida, mas você saberia atendê-los? E saberia qual a melhor abordagem?

A trama se concentra em dois personagens principais: Will, interpretado por Jason Segel, e Isla, interpretada por Rooney Mara. Will, que perdeu um ente querido, tenta entender as implicações da descoberta de Thomas. Isla também está lidando com seu próprio passado e as consequências da revelação sobre a vida após a morte. Nosso foco hoje será em Isla e em pacientes com ideação e tentativa de suicídio. Como podemos ajudá-los?

Suporte emocional

Diante da revelação sobre a vida após a morte e o aumento dos suicídios, um psicólogo poderia oferecer suporte emocional a indivíduos que estão lutando com sentimentos de desespero, ansiedade ou depressão. Eles poderiam ajudar a processar essas emoções e a encontrar um sentido na vida. Psicólogos estariam na linha de frente para intervir em situações de crise, fornecendo estratégias de enfrentamento e ferramentas para lidar com pensamentos suicidas, ajudando a desestigmatizar a busca por ajuda, além de educar a população sobre os riscos associados à nova descoberta, ajudando a compreender que, embora a vida após a morte possa ser uma possibilidade, a vida atual tem valor e merece ser vivida plenamente.

Para aqueles que perderam entes queridos, um psicólogo poderia oferecer terapia de luto, ajudando as famílias a lidarem com a perda e a complexidade emocional de saber que a vida após a morte é uma possibilidade, atuando no estudo do impacto social da descoberta, ajudando a entender as dinâmicas entre crença, comportamento e saúde mental, contribuindo para políticas públicas e estratégias de prevenção ao suicídio.

Padrão-ouro

Existe uma abordagem considerada a padrão-ouro para manejo da ideação suicida, a terapia comportamental dialética, mas conhecida como DBT (do inglês dialectical behavior therapy). Essa abordagem poderia ser eficaz para trabalhar com personagens como Isla e outros que estão lidando com pensamentos suicidas em “The discovery”.

A DBT é especialmente voltada para pessoas que enfrentam dificuldades emocionais intensas e comportamentos autodestrutivo. Tem ferramentas para circunstâncias difíceis com as quais iremos nos deparar, com pacientes que têm imensa desregulação emocional, em que as vulnerabilidades às emoções destroem uma vida de qualidade ao ponto de os pensamentos suicidas se tornarem uma das poucas fontes de alívio.

A DBT conta com terapia individual, treinamento semanal de habilidades, consultoria por telefone, rede de apoio e mais. Mas como isso poderá ajudar esses pacientes? Pense em uma sala de emergência no hospital: ela está lotada, a cada minuto chegam mais pacientes, os médicos estão sobrecarregados, os enfermeiros correm de um lado para o outro, o ambiente está barulhento e desorganizado. Para que isso não aconteça, existem protocolos e procedimentos para situações como essa. O mesmo ocorre com essa abordagem, que adota um protocolo estruturado de sessão e contrato terapêutico para dar ordem ao caos, ajudando o paciente a viver uma vida valiosa que justifique viver.

Sessões estruturadas

A terapia comportamental dialética é uma abordagem psicoterapêutica desenvolvida para ajudar pessoas com dificuldades emocionais e comportamentais, especialmente aquelas que apresentam traços de transtorno da personalidade borderline e pacientes com ideação suicida. A DBT combina elementos da terapia cognitivo-comportamental (TCC) com conceitos de aceitação e mindfulness (atenção plena). O objetivo é ensinar o indivíduo a lidar melhor com suas emoções intensas e comportamentos autodestrutivos.

As sessões com Isla e outros pacientes suicidas, geralmente, são estruturadas em dois componentes principais: sessões individuais, em que o terapeuta trabalha com o paciente questões específicas, estabelecendo metas e estratégias; e grupos de habilidades, nos quais os pacientes aprendem e praticam habilidades de enfrentamento, regulação emocional e relacionamentos interpessoais.

Habilidades

A DBT foca em quatro conjuntos principais de habilidades que são importantes para Isla.

Mindfulness: a prática de estar presente e consciente dos próprios pensamentos e sentimentos.

Regulação emocional: técnicas para entender e gerenciar emoções intensas.

Tolerância ao estresse: métodos para lidar com crises sem recorrer a comportamentos prejudiciais.

Eficácia interpessoal: habilidades para melhorar relacionamentos e se comunicar de maneira assertiva.

Já o termo “dialética” refere-se à ideia de encontrar um equilíbrio entre aceitação e mudança, ensinando que é possível aceitar a realidade atual enquanto se trabalha para mudar aspectos dela. O foco principal é ajudar os pacientes a desenvolverem uma vida que considerem significativa e satisfatória, reduzindo comportamentos autodestrutivos e melhorando a qualidade de vida.

Contrato terapêutico

Um ponto importante da estrutura da DBT é o contrato terapêutico, em que o terapeuta e o paciente estabelecem expectativas, responsabilidades e objetivos para o tratamento, com o compromisso do paciente em priorizar sua segurança. Isso inclui concordar em comunicar ao terapeuta qualquer pensamento suicida ou comportamento de risco e seguir um plano de segurança.

Desde o início, o terapeuta trabalha em estreita colaboração com o paciente para identificar riscos potenciais e desenvolver um plano de segurança. Esse plano inclui estratégias para lidar com pensamentos suicidas, como identificar sinais de alerta, técnicas de enfrentamento e contatos de emergência. Essa abordagem proativa proporciona ao paciente um sentido de controle e um recurso valioso durante momentos de crise.

A DBT é uma abordagem abrangente e empática que oferece não apenas uma estrutura terapêutica, mas também ferramentas práticas para lidar com pensamentos e comportamentos suicidas. Ao combinar aceitação e mudança, desenvolvimento de habilidades e um forte suporte comunitário, capacita os pacientes a encontrarem novas maneiras de enfrentar seus desafios.

Para aqueles que lutam com a ideação suicida, essa terapia não é apenas uma opção, é um caminho potencial para a recuperação e uma vida mais significativa. Quer saber mais sobre a DBT? Então baixe gratuitamente o primeiro capítulo do livro Terapia comportamental dialética, da coleção Características Distintivas, publicada pela Sinopsys Editora.