Após o nascimento prematuro da filha, a influenciadora Bia Miranda compartilhou os últimos momentos nas redes sociais, enquanto a bebê segue internada na UTI neonatal.
A situação chamou atenção para os impactos emocionais vividos por mulheres que passam pelo puerpério em meio à internação do recém-nascido.
Palavra do especialista
A psicóloga perinatal Rafaela Schiavo, fundadora do Instituto Mater Online, explica que o parto prematuro e a internação podem impactar emocionalmente a mãe não apenas nos primeiros dias, mas também durante todo o puerpério.
“Quando uma criança nasce prematura ou quando há qualquer tipo de intercorrência, uma internação da mãe, do bebê, aumentam as chances dessa mulher apresentar depressão pós-parto. Mesmo que ela não tenha apresentado sintomas durante a gestação, só o fato de haver essa intercorrência já eleva o risco”, explica.
Segundo ela, mulheres nessa situação têm um fator de risco para a saúde mental e precisam de acompanhamento psicológico durante todo o período de internação e também após a alta.
Como o distanciamento afeta a experiência da mãe?
A especialista explica que há uma quebra de expectativa que pode gerar frustração e sofrimento. “A mulher geralmente espera que o filho nasça saudável, de nove meses, que vá para casa com ela, que possa oferecer aleitamento materno, que viva aquele momento com o bebê nos braços. Quando isso não acontece, há uma frustração, uma quebra de expectativa. É um luto pela maternidade idealizada, pelo bebê idealizado, que não se concretiza”.
Esse impacto emocional pode vir acompanhado de tristeza, ansiedade e até sintomas depressivos.
Há risco no vínculo entre mãe e bebê?
Sim. Rafaela alerta que, em casos de internação neonatal, o afastamento e a falta de contato contínuo podem interferir na formação do vínculo afetivo.
“O vínculo não se dá imediatamente após o nascimento ou no momento em que a mulher descobre a gestação. Ele é uma construção diária, que acontece na relação com o bebê”, ressalta. Esse risco é ainda maior quando a mãe só pode ver o bebê em horários específicos e quando o hospital não oferece práticas como o método canguru. Em ambientes que permitem esse contato, a vinculação tende a ser mais protegida.
E quando a mãe não está emocionalmente pronta para ver o bebê?
Rafaela esclarece que essa reação é mais comum do que se imagina, e que precisa ser acolhida, não julgada.
“No caso da Bia Miranda, é importante que o hospital ofereça esse suporte de apoio psicológico. Inclusive, existe a Lei 14.721, que garante assistência psicológica durante a gestação, o parto e o pós-parto, especialmente para casos como esse”.
Ela afirma que o hospital deve estar preparado com um profissional da psicologia perinatal para conduzir essas situações com sensibilidade.
“Entre as técnicas que podem ser usadas, há estratégias como tirar fotos do bebê ou contar para a mãe como ele está, até que ela se sinta emocionalmente pronta para vê-lo. É importante respeitar o momento dessa mulher, mas o ideal seria que o hospital contasse com um psicólogo perinatal, pois esse profissional sabe como conduzir cada situação, pensando no bem-estar da mãe e do bebê”, conclui.
O que pode ajudar nesse momento?
Respeitar o tempo da mãe. Nem todas conseguem visitar o bebê de imediato, e isso não significa rejeição.
Evitar pressão emocional. Comentários do tipo “você precisa ser forte” podem aumentar o sofrimento.
Atualizar a mãe com delicadeza. Fotos e relatos sobre o bebê ajudam na aproximação gradual.
Criar vínculo com apoio. Práticas como o método canguru ajudam a fortalecer a relação entre mãe e bebê.
Garantir atendimento com psicólogo perinatal. Esse profissional tem preparo técnico e emocional para lidar com casos delicados