As Correlações Psicossomáticas – doenças e seus significados emocionais – mostram tendências observadas, de Sócrates, Galeno e Hipócrates aos dias atuais, porém não podemos deixar de apontar que, para obtermos um diagnóstico psicossomático preciso, necessitamos entender as correlações psicossomáticas e o significado do órgão, função ou a parte do corpo comprometida.
Identificarmos o biótipo do paciente e suas correspondentes tendências patológicas. Identificarmos o temperamento desta pessoa e as possíveis probabilidades de desenvolvimento patológico. Reconhecermos sua personalidade, consequentemente suas áreas de equilíbrio e conflitos. Realizarmos uma investigação biográfica histórica retrospectiva, isto é, uma anamnese, cujo objetivo é identificar e entender o ser Bio-Psico-Social-Energético-Ecológico-Espiritual que somos e, consequentemente, como conseguimos “lidar” com este ser que somos.
Somente a partir do levantamento e entendimento de todos esses itens descritos é que possível possuir material para a estruturação de um diagnóstico preciso e técnico em Psicossomática.
Grau de tolerância
Os processos do adoecer estão estreitamente ligados ao grau de tolerância às adversidades da vida, que cada um de nós tem.
Quanto mais baixo o grau de tolerância genuína (não o que aparento sentir, mas o que sinto de verdade) mais estresse, luto, ansiedade, depressão, indignação, revolta, raiva, ódio a pessoa vai ter e, consequentemente, mais desgaste energético vai acontecer.
Com isso, uma quebra do equilíbrio ocorre e facilita o processo de adoecer, pois o sistema autoimune (sistema de defesa do nosso organismo contra agressores patogênicos) não consegue manter-se atuante como precisa para nos defender desses agressores (vírus, bactérias, bacilos, fungos etc.) causadores de doenças.
Alguns fatores são determinantes para entendermos estes índices de grau de tolerância:
Reação às perdas vividas pelo indivíduo; Reação às frustrações e a elaboração ou não destas frustrações; O estresse crônico, tanto físico quanto psíquico e a baixa tolerância ao “não” é suas consequências na vida emocional da pessoa
Exemplificando: pessoas de uma mesma família passam por problemas juntos, ou seja, o problema é o mesmo, mas como vão reagir e que consequência vai ter em cada um, vai depender do grau de tolerância, que é individual.
As teorias apontam que a convergência de alguns componentes são bases para o entendimento da estruturação da afetividade, sexualidade, personalidade, do estilo de vida e também do processo de adoecer.
Aspectos genéticos
Os fatores genéticos estão provavelmente implicados na etiologia da personalidade, pois os estudos realizados sugerem uma alta concordância entre gêmeos monozigóticos que foram separados e criados em famílias distintas. Aponto neste item uma amplitude do entendimento do aspecto genético, migrando seu potencial e determinância do físico para também o psicológico.
Cada vez mais os estudos concluem que traços de personalidade pode ser herança genética.
Não é a personalidade em si, mas traços, como algumas características de ações e reações ou uma tendência de humor
Má formação congênita, deficiências, síndromes diversas. Esse item ocorre na formação embrionária.
Está ligada ao orgânico primário e estrutural da pessoa. São inúmeros e múltiplos itens que o compõem, pois, se abrangermos os transtornos de síndromes, deficiências e má formação, chegaremos a milhares de situações possíveis, diagnosticadas e catalogadas.
Doenças desenvolvidas ou adquiridas, acidentes graves com sequelas, uso de drogas, dependência de álcool.
Organização psíquica
Uma pessoa pode ter sua vida bastante modificada por situações vividas e enfrentadas durante sua trajetória. Um acidente sofrido que restringe sua mobilidade significativamente, por exemplo, vai determinar e limitar muitas das possibilidades que anteriormente poderiam ser desenvolvidas. Tanto quanto o uso abusivo de álcool ou mesmo a dependência a algum tipo de droga geram sequelas e limitações.
O ambiente desempenha um papel dominante e fundamental na estruturação e organização psíquica. Aqui, não só se enquadram o grupo sócio-econômico-cultural-afetivo, mas também, e principalmente, os aspectos do ambiente físico, como: moradia, alimentação, lazer, saneamento básico adequado, transporte coletivo de qualidade. Podemos resumir esse tópico como: a qualidade de vida vai ser determinante para organizar e propiciar uma relação mais harmônica e equilibrada emocionalmente.
Esses componentes são mutantes de cultura para cultura. São estimulados ou castrados por reforços e punições sociais explícitos ou implícitos.
As explícitas englobam as leis, as normas e a ética, portanto ligadas as instituições sociais reguladoras de comportamento como polícia e religião; que se burladas, acarretara em punição determinadas e previstas por estatutos, regimentos ou códigos. As implícitas são determinadas por uma espera menor e podem ter algum viés em relação às explicitas, seriam determinadas por grupos sociais que a pessoa transita (família, amigos, religião, trabalho) com códigos de conduta e comportamento específicos, como por exemplo, os conceitos de: ser adequado neste grupo, conceito de bonito e bom, de estar bem vestido, de boa alimentação, de como se comportar em situações sociais, preconceitos etc.
Quando neste grupo alguém tem postura e comportamento discrepante do que e considerado adequado, ele é isolado e aos poucos é rejeitado, pois “não é um de nós”. Depende muito do: país, estado, região, cidade, bairro e nível social em que a pessoa vive.
Estrutura de personalidade
Vivemos realidades diferentes, com conceitos e valores muito discrepantes se levarmos em conta essas inúmeras diferenças sociais.
O tipo de estrutura de personalidade que a pessoa desenvolve será determinante para uma maior tendência para o adoecimento do psíquico ou do físico.
Personalidades que possuem características ou tendências depressiva, ansiosa ou fóbica tendem a favorecer o rebaixamento do sistema imunológico, responsável pela defesa do organismo e, consequentemente, se tornam mais vulneráveis as patologias físicas.
Enquanto que as personalidades que apresentam características ou tendências histriônicas, obsessivo-compulsivas e narcisistas apresentam uma tendência maior a desenvolver os transtornos psíquicos.
Devemos assinalar que a maturação e o equilíbrio da personalidade geram uma maior estabilidade psíquica/emocional quando a pessoa se depara com os fatores estressantes e são apontadas como favorecedoras do estado de saúde do indivíduo.
Cada teoria psicodinâmica da estruturação psíquica terá uma representação própria do processo de formação da personalidade.
A teoria freudiana
Para ilustrar, vamos citar Sigmund Freud. De acordo com sua teoria, a formação da personalidade ocorre da interação de três elementos: o Id, o Ego e o Superego.
O Id está presente desde o nascimento é totalmente inconsciente e é comporto de comportamentos instintivos e primitivos.
É a fonte primária da energia psíquica. A pulsão de vida.
O ego se desenvolve a partir do Id, é o responsável por lidar com a realidade que o mundo representa.
Ele regula as pulsões do Id e o modo que essas pulsões podem ser expressas de forma adequada no mundo real. É o princípio da realidade. Transita entre o consciente e o inconsciente.
É o mediador entre o Id e o Superego.
O Superego é o último componente da tríade a se organizar. É o processo de socialização internalizado. Compõem a aquisição de normas, valores e éticas que adquirimos dentro das instituições normativas: família, escola, grupo social e religião. E ele que nos fornece diretrizes para formarmos julgamentos de valores, seguirmos regras e termos posicionamentos éticos.
Como visto, a personalidade é formada a partir do resultante dos conflitos gerados pela interação destas três instâncias opositoras.
A maneira como conseguimos integrar os valores pessoais e os valores sociais será determinante para uma personalidade menos conflitiva e desorganizada.
Portanto, o resultado dos conflitos e o modo que a pessoa atua com estas oposições internas, encontrando uma forma pessoal, às vezes única, de moderação e resolução, emergem o que denominamos de Personalidade.
É muito importante ressaltar é que todas as nossas preocupações e expectativas negativas são traduzidas para o nosso corpo como um perigo real. Mesmo que as ameaças sejam imaginárias, o nosso cérebro vai ativar todos os mecanismos de alerta e defesa, estando à pessoa imaginando intensamente ou vivendo aquela situação.
O cérebro não difere o real e o imaginário
Para a Psicossomática, o hábito de acreditar em determinada situação, desencadeia o desequilíbrio psicofísico e a somatização de doenças pelo corpo, pois o cérebro não sabe discernir entre o real e o imaginário. Isso é bastante complicado e, até certo ponto, perigoso, pois se há desequilíbrio psíquico, imaginando algo irreal e/ou fantasioso, em algum momento haverá uma reação fisiológica e bioquímica causada por esses pensamentos, estressando tanto o corpo ao ponto de favorecer o surgimento de desorganizações físicas, isto é, de doenças orgânicas.
É um ciclo vicioso: o transtorno ou desequilíbrio psíquico gera o transtorno ou desequilíbrio orgânico.
E isso ocorre mais frequentemente quando são intensos e constantes os estados emocionais / psicológicos de: ansiedade, depressão, fobia, pânico, luto, mágoa, decepção e o estresse propriamente dito, entre outros, todos gerando processos de adoecer físico que podem ser detectadas pelas constantes do corpo.