Elas choram, têm nome, ganham roupas novas, cuidados, passeiam de carrinho e até recebem certidão de nascimento (alguns têm até parto simulado). As bonecas conhecidas como “bebês reborn” são versões hiper-realistas que imitam recém-nascidos, ultrapassaram o universo infantil e conquistaram adultos, influenciadores digitais e até celebridades brasileiras como Xuxa Meneghel, Jojo Todynho e Sabrina Sato.
O padre Fábio de Melo também aderiu à tendência e, em uma viagem aos Estados Unidos, visitou uma maternidade de bonecas e “adotou” um bebê reborn com síndrome de Down em homenagem à mãe, Ana Maria de Melo, falecida em 2021.
A tendência se popularizou com vídeos virais de partos simulados e rotinas maternas encenadas. Um dos exemplos mais conhecidos é o vídeo de Carolina Rossi, postado originalmente em 2022, que voltou à tona após um encontro de “mães” de bebês reborn feito em São Paulo.
Síndrome
O envolvimento emocional com os bebês reborn levanta discussões sobre os limites entre o afeto simbólico e o comprometimento psicológico dentro e fora das redes sociais. De acordo com a neuropsicóloga Karliny Uchôa, não se pode generalizar os riscos, é preciso entender cada caso de forma particular.
“A régua para um comportamento ser considerado danoso à saúde mental é a medida em que ele prejudica a saúde física ou mental da pessoa ou de terceiros. Quando isso não ocorre, não podemos falar de prejuízo”, afirma.
A especialista alerta, no entanto, para casos em que a relação com o boneco ultrapassa o lúdico e passa a interferir na percepção da realidade. É nesse ponto que pode surgir o que a psicologia denomina de síndrome de Annabelle, um quadro caracterizado por obsessão excessiva por bonecos hiper-realistas, com apego emocional intenso, reprodução de vínculos parentais e comprometimento das relações sociais reais.
A pessoa começa a substituir vínculos afetivos reais por vínculos simbólicos com o boneco, o que pode gerar isolamento, negação de perdas ou fuga de situações emocionais mal elaboradas. “Em casos extremos, deve-se buscar tratamento, acompanhamento psicológico e abordagens terapêuticas voltadas para ressignificação afetiva”, orienta.