No final do mês de janeiro, recebi do Conselho Profissional da FEBRAPSI, no qual represento a SBPSP, um vídeo chamando a atenção para o que está acontecendo com a nossa querida Psicanálise.
Trata-se de um curso, que ao final de seis meses você sai diplomado, com dez módulos de vídeos apresentando “noções de psicanálise”. Basta o ensino médio para se inscrever.
Intensa e séria formação
Assim como esse, a todo momento recebemos propaganda de instituições oferecendo psicanálise de curto prazo. O Conselho Profissional da FEBRAPSI acompanha a capilaridade dessas ofertas.
Estes cursos, acreditamos que possam ser questionados pelo próprio pretendente, mas nem sempre isso ocorre. Sabemos que, diante da dimensão do sofrimento humano, ser necessário intensa e séria formação.
O que causa mais perplexidade são os cursos de graduação em Psicanálise. Existe uma preocupação do Conselho Profissional, que hoje tem como suas federadas todas as Sociedades de Psicanálise do Brasil, com o futuro da formação do Psicanalista em nosso país.
O Conselho da Febrapsi vem se mobilizando junto ao MEC para tentar impedir a regularização de cursos com esse viés de formação rápida e sem embasamento profundo e outros ligados a instituições religiosas.
Movimento de regulamentação
Gostaria de comentar também o recente artigo publicado na Revista Superinteressante, do dia 19 de janeiro de 2023. Nesse artigo, o jornalista compara profissões regulamentadas com a Psicanálise, que não é uma profissão regulamentada, nem regulada, não existindo um órgão regulador como tem a Psicologia e outras disciplinas.
Sendo assim, esses cursos não poderiam ser validados, à medida que não existe a Psicanálise como profissão. Bem oportuno a revista abordar esta séria e importante questão. Ficou faltando explicar os motivos pelos quais a Psicanálise não buscou este caminho, ou seja, da regulação ou regulamentação.
Nosso atual presidente da Febrapsi, Hemerson Ari Mendes esclarece esta questão trazendo a posição da Febrapsi, representante de todas federadas. Após pesquisa e reuniões com psicanalistas representantes de instituições que seriamente oferecem cursos de Psicanálise, e que se uniram através do Movimento Articulação das Entidades Psicanalíticas Brasileiras para defender a não regulação/regulamentação, em função de se preservar a particularidade do processo formativo, e, se diferenciar, de instituições com graduações universitárias e de cursos de extensão universitária que não prezam pelos critérios defendidos por esse movimento.
Defesa firme e ética
O Conselho Profissional da Febrapsi vem produzindo vídeos sobre temas interessantes para o público em geral. Foram transmitidos, até o momento, oito vídeos por profissionais vinculados às nossas instituições que cuidadosamente informam, esclarecem e defendem o nosso patrimônio histórico de conhecimentos, evidenciando a seriedade necessária na formação do psicanalista das nossas federadas com o selo da IPA. (assista aqui aos vídeos)
E por que tanto interesse e tantos cursos de Psicanálise? Acreditamos que seja pelo valor que tem a psicanálise na comunidade, através de seus resultados clínicos. Também, neste momento que toda a humanidade passa, pós pandemia, talvez haja oportunismo mercadológico.
Nesse sentido, é fundamental que nossas sociedades sigam atentas aos movimentos, e firmes na defesa de uma psicanálise ética em consonância com os preceitos consagrados pela história da qual somos participantes e fiadores. Nosso compromisso profissional é com o bem-estar psíquico do paciente que procura nossas clínicas, e nossa Instituição.
Assim, a Psicanálise é um ofício, que se transmite ao longo de uma longa trajetória contínua, que não se completa num tempo cronológico e que possibilita além do desenvolvimento pessoal e conhecimentos adquiridos, um frutífero convívio com colegas.
Seleção criteriosa
Sabemos que nos nossos Institutos, os interessados em fazer formação, são criteriosamente selecionados, sendo fundamental análise pessoal de alta frequência (no mínimo cinco anos), além de supervisões, cursos teóricos e apresentação de trabalhos que representem sua atividade clínica, sua apreensão teórica, tudo validado pelos nossos pares junto à IPA (International Psychoanalycal Association), é a melhor maneira de defender a qualidade e a ética de uma formação psicanalítica.