Recomenda-se o uso do termo ‘fenômeno do impostor’ pelo fato de não ser reconhecida como uma patologia e não constar nas obras-chave acima mencionadas. Acredita-se que se trata de uma questão relacionada à autopercepção e não um transtorno mental propriamente dito.

O fenômeno foi descrito pela primeira vez em um estudo realizado com mulheres do alto escalão, que se sentiam menos inteligentes e menos capazes do que as outras pessoas as viam.

O fenômeno do impostor tem como principal característica o não acreditar na própria capacidade e competência, tendendo a se subestimar e a se autossabotar, mesmo que as evidências apontem o contrário. O indivíduo que vivencia o fenômeno do impostor tende a superestimar as críticas recebidas em detrimento dos elogios, reforçando assim a ideia que não é competente. Por não se sentirem capazes costumam evitar desafios, o que se caracteriza como autossabotagem. É comum que estas pessoas sofram de ansiedade e medo de serem avaliados, pois sempre pensam que serão avaliados de maneira negativa, mesmo que já tenham atingido altos cargos.

Quando estes indivíduos recebem retorno positivo acerca de seu desemprenho, atribuem à sorte e jamais à própria capacidade. Tendem ainda a se autodepreciar e a serem excessivamente críticos consigo mesmos, sempre pensando que a tarefa realizada por eles não tem a qualidade adequada.

Círculo vicioso

Já se pôde observar que o fenômeno desencadeia um círculo vicioso no qual se sentem inclinados a fracassarem, tornando-se menos produtivos, o que vem a caracterizá-los como inseguros e procrastinadores. Famílias e ambientes profissionais muito exigentes, características psicológicas como perfeccionismo, insegurança e falta de habilidades sociais são considerados fatores de risco para o fenômeno do impostor3

Por conta da autocrítica excessiva, do medo de serem mal avaliados e de serem dispensados do trabalho costumam assumir muitos afazeres, pois pensam que delegar é demonstrar incapacidade. O perfeccionismo também traz sobrecarga, visto que costumam verificar diversas vezes um trabalho até que se torne “perfeito”. Em decorrência da carga excessiva de trabalho assumida por estes indivíduos e da dificuldade de impor limites no trabalho, estes estão maios propensos a desenvolverem a Síndrome de Burnout, que de acordo com a OMS, “é uma síndrome conceituada como resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi administrado com sucesso”.

Aspectos relativos

O burnout costuma ocorrer como uma resposta prolongada a fatores interpessoais crônicos e o ambiente de trabalho. A primeira dimensão relacionada ao esgotamento é a primeira fase da doença e ao mesmo tempo seu principal fator. Nesta fase, o sujeito já apresenta redução de recursos físicos e emocionais, que podem ser caracterizados como sentimento de sobrecarga, exaustão emocional, fadiga crônica, falta de energia para o trabalho, irritabilidade e dificuldade de relaxar.

A segunda dimensão, que também pode ser denominada despersonalização, pode ser observada quando o indivíduo refere falta de sensibilidade em suas relações interpessoais, distanciamento excessivo em diversos aspectos relativos ao trabalho e redução na performance ocupacional. A redução da eficácia profissional é um aspecto relativo à autopercepção, visto que inclui variáveis cognitivas como diminuição da satisfação pessoal no trabalho2. A diferença entre a Síndrome de Burnout e a Depressão é o fato de o burnout estar relacionado exclusivamente ao trabalho, enquanto a depressão pode ser desencadeada por conta de fatores de outras áreas da vida.

Alguns estudos afirmam terem encontrado relação entre compulsão por trabalho (indivíduos workaholics) e desenvolvimento de burnout. Por sua vez, muitos indivíduos workaholics sofrem de fenômeno de impostor e como mecanismo compensatório exageram na quantidade de trabalho, desencadeando assim, um círculo vicioso.

Outros fatores

A sobrecarga não é o único desencadeante de burnout, pois a síndrome também está relacionada ao ambiente de trabalho. De acordo com um estudo, além da sobrecarga, os principais fatores laborais relacionados ao desenvolvimento da Síndrome de Burnout são:

  • Baixo nível de controle sobre as atividades e acontecimentos no ambiente de trabalho e baixa participação nas decisões organizacionais
  • Expectativas profissionais não condizentes com a realidade
  • Sentimentos de justiça e desigualdade nas relações laborais
  • Trabalho noturno ou por turnos
  • Suporte organizacional precário e relacionamento conflituoso entre colegas
  • Tipo de ocupação
  • Relação muito próxima e intensa do trabalhador com quem é atendido,
  • Conflitos de papel
  • Ambiguidade de papel e normas4

A sobrecarga pode ser imposta pelo gestor/empregador, mas também cabe ao colaborador sinalizar quando sentir que está recebendo maior volume de trabalho do que consegue realizar. Caso o colaborador tenha fenômeno do impostor, o fato de não conseguir realizar toda a carga que lhe é atribuída, causa sensação de menos valia e ansiedade, visto que este não consegue perceber que lhe estão atribuindo mais trabalho do que deveriam, pois pensa que não consegue entregar as tarefas por falta de competência. A sensação de falta de competência faz com que o funcionário não imponha limites e corra maior risco de desenvolver burnout.

Sensação de desamparo

Quando as expectativas do profissional estão muito além do que a empresa oferece, este se sente frustrado, o que pode ser considerado mais um fator de risco para a síndrome. Sentir-se injustiçado ou tratado de maneira diferente de seus pares também pode desencadear sentimento de frustração e menos valia. O trabalho por turnos ou noturno altera o ritmo circadiano, o que traz desequilíbrio físico e psíquico. O suporte organizacional precário causa sensação de desamparo e falta de orientação no trabalhador.

Certos tipos de ocupação, como cargos cuja demanda é o cuidado, são mais propensas a causarem burnout, assim como quando a relação do trabalhador com o atendido é próxima e intensa. A ambiguidade de papel e normas está relacionada à falta de regras claras, objetivos ou métodos na empresa.

Se você pensa que sofre do fenômeno do impostor, é importante procurar ajuda de um profissional para poder trabalhar sua autoestima, autocrítica e perfeccionismo. Pode ser que você também sofra de ansiedade e/ou depressão, que também devem ser tratados. Pode ser necessário o uso de medicação para aqueles casos mais graves que cursam com ansiedade e depressão. O processo psicoterapêutico te auxiliará a ter mais autoconfiança e a enxergar suas habilidades e competências, além de identificar como e quando ocorrem os comportamentos de autossabotagem.  

E MAIS…

As três dimensões da Síndrome de Burnout

A Síndrome de Burnout já é reconhecia como uma doença desde 01 de janeiro de 2022, quando o novo CID (CID-11) começou a ser utilizado. De acordo com a literatura, o burnout é caracterizado por três dimensões:

  1. “sentimentos de esgotamento ou esgotamento de energia;
  2. distanciamento mental do trabalho, sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados ao trabalho; e
  3. redução da eficácia profissional. Burnout refere-se especificamente a fenômenos no contexto ocupacional e não deve ser aplicado para descrever experiências em outras áreas da vida”1.
REFERÊNCIAS
1.     Chrousos GP, Mentis A-FA, Dardiotis E. Focusing on the Neuro-Psycho-Biological and Evolutionary Underpinnings of the Imposter Syndrome. Front Psychol. 20 de Julho de 2020;11.
2.     Barreto MFC, Galdino MJQ, Fernandes FG, Martins JT, Marziale MHP, do Carmo Fernandez Lourenço Haddad M. Workaholism and burnout among stricto sensu graduate professors. Rev Saude Publica. 2022;56:1–12.
3.     Trigo TR, Teng CT, Hallak JEC. Síndrome de burnout ou estafa profissional e os transtornos psiquiátricos. Arch Clin Psychiatry (São Paulo). 2007;34(5):223–33.
4.     World Health Organization. ICD-11 International Classification of Diseases for Mortality and Morbidity Statistics. Eleventh R. 2020.