A série Spin Out, disponível no streaming Netflix, aborda muito mais que os altos e baixos da patinação artística e dos relacionamentos, trazendo uma visão sensível sobre a bipolaridade e os impactos causados por um transtorno não tratado. Na trama, acompanhamos Kat Baker (Kaya Scodelario) lutando para voltar à pista de patinação após um grave e traumático acidente, mas essa não é a única luta travado pela protagonista. O que muitos ao seu redor não sabiam, é que ela lidava com o transtorno bipolar somado à pressão do esporte e aos problemas familiares.

Spin Out retrata a bipolaridade com uma visão interessante e diferente da que normalmente vemos, acompanhando a hereditariedade do transtorno. Carol Baker (mãe de Kat) lida com o transtorno bipolar desde jovem, oscilando entre episódios os quais, infelizmente, suas filhas lidam com as consequências desde crianças.

Ao voltar para a pista de patinação, Kat decide arriscar a modalidade em dupla como a única chance de alcançar seu sonho de ir para as Olimpíadas. Sentindo-se muito cansada e sobrecarregada, decide parar de tomar sua medicação para ter mais energia e disposição nos treinos, porém há muitas consequências envolvidas ao parar o tratamento do transtorno bipolar.

Em diversos momentos, vemos a dinâmica familiar das personagens, mostrando como o transtorno pode ser uma herança genética, além das discussões delas acerca da bipolaridade e os altos e baixos da doença, tanto a fase maníaca quanto a depressiva. A trama aborda os preconceitos a respeito e como o tratamento é importante para que o paciente possa manter sua saúde mental sob controle. Assim, sem o devido tratamento, a doença acaba afetando a rotina da família e trazendo até mesmo consequências financeiras.

Intensidade

Mas o que caracteriza o transtorno bipolar? Diferentemente do que se acredita, a bipolaridade não é caraterizada pela pessoa estar feliz em um momento e do nada ficar triste, afinal mudanças de humor acontecem com todos. Indivíduos com o transtorno lidam com mudanças de humor muito intensas que são caracterizadas como episódios de mania e depressão.

Episódios de mania são caracterizados por um pico de energia, impulsividade, euforia e agitação. Na série, acompanhamos diversos episódios maníacos que ocorrem quando Kat e Carol param com a medicação (ou diminuem a dose). Nessas situações, vemos Kat intensificando seus treinos, perdendo o medo de patinar com movimentos complexos, ou quando Carol faz gastos exagerados.

Já os episódios de depressão apresentam sinais muito parecidos com os sintomas de depressão mesmo. Na série, vemos esses sinais em momentos como quando Kat e Carol acabam enfrentando as consequências das ações impulsivas que tomaram durante o episódio maníaco, sentindo a frustração por não controlarem os sintomas da doença, além de ficarem excessivamente cansadas e reclusas.

Tratamento

Embora a série tenha uma visão sensível e represente ambas as fases do transtorno, ela deixa muito a desejar quando se fala sobre o tratamento. Nela, as personagens fazem apenas o tratamento medicamentoso, com o lítio, sendo que o recomendado para ser eficaz é a combinação do medicamento com sessões de terapia.

No início, a personagem toma os remédios no horário certo, todos os dias, porque ela e a irmã viram a mãe negligenciando a medicação durante a infância delas e tiveram que vivenciar todas as consequências. Porém, em um momento de pressão por conta da patinação, Kat passa a diminuir a dose até parar de vez com a medicação, gerando um episódio maníaco que traz sérias consequências para ela. Se o tratamento fosse combinado com a terapia, a situação poderia ter sido diferente.

A história também aborda os preconceitos a respeito da doença, que não tem cura, mas o tratamento pode ajudar a pessoa a manter sua qualidade de vida. O transtorno bipolar é considerado um fator de risco para o comportamento suicida, por isso, o tratamento deve ser constante para prevenção da oscilação e evitar a crise.

As mudanças de humor de Kat e Carol dão o tom em cada episódio, mostrando a rotina complicada não só de quem tem a doença, mas também daqueles que convivem com pessoas assim, como é o caso da irmã, Serena. Se você tem interesse em saber mais sobre esse transtorno, recomendo a leitura do livro O que você precisa saber sobre transtorno bipolar e tem medo de perguntar, da Sinopsys Editora. E se ligue nesta dica: estudante de graduação em psicologia tem 50% de desconto.