De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o leite materno é considerado um “alimento de ouro”. A campanha que aconteceu em agosto, chamada de Agosto Dourado, teve como objetivo a conscientização da importância do aleitamento materno é estabelecida pela Lei Federal n°13.345 de 12 de abril de 2017.  

Bom desenvolvimento da criança

É necessário ter um mês dedicado a este tema, uma vez que os primeiros meses de vida são primordiais para um bom desenvolvimento da criança, principalmente em relação aos aspectos físico, cognitivo e psíquico.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), recomenda que o aleitamento materno é fundamental nos seis primeiros meses de vida do bebê, podendo se estender até dois anos de idade ou mais. Não é recomendável que se introduza outros alimentos antes dos seis meses.

A introdução antecipada de alimentos pode causar sintomas físicos, tais como diarreia, problemas respiratórios, risco de desnutrição pela menor absorção de nutrientes que contém o leite materno, como o ferro e o zinco, bem como a menor duração do aleitamento materno (Brasil, 2009).

O Ministério da Saúde (2009) adverte sobre o uso de mamadeiras e chupetas, pois podem dificultar o fluxo da amamentação, o bebê pode ter dificuldade em retomar a sucção no seio. As mamadeiras e chupetas também são fontes de contaminação.

Marcas psíquicas da criança

O aleitamento materno traz inúmeros benefícios a saúde do bebê. Segundo o Ministério da Saúde (2009), o aleitamento materno evita mortes infantis, diarreia e infecção respiratória; diminui o risco de alergias, hipertensão, colesterol alto e diabetes; reduz a chance de obesidade; melhora a função nutricional; tem efeitos positivos no desenvolvimento cognitivo; melhora o desenvolvimento da cavidade bucal; auxilia contra câncer de mama; evita nova gravidez; reduz custos financeiros; melhora a qualidade de vida e promove o vínculo afetivo entre mãe e filho.

A amamentação é necessária por uma necessidade corporal de sobrevivência do bebê, ao mesmo tempo em que é um dos primeiros contatos que ele experimenta com a mãe após o nascimento. As sensações experimentadas no útero e as experiências principalmente que ocorrem nos primeiros meses de vida ficarão marcadas no psiquismo da criança, de alguma forma registram-se estas experiências que lhe influenciarão ao longo de sua vida.

Ainda é importante destacar, que o aleitamento materno é fundamental para a estruturação psíquica do bebê, principalmente pela promoção do vínculo mãe-bebê. No momento da amamentação, o corpo do bebê está junto  da mãe, e esse contato promove um amparo a criança, ou seja, a criança se sente segura, uma vez que o bebê necessita de alguém que promova os seus cuidados mínimos de sobrevivência.

Tendo em vista que antes de nascer, o único contato da criança era com o corpo da mãe, considera-se que ela consegue reconhecer o seu cheiro e sua voz. Ao nascer o bebê se sentirá seguro se estiver próximo daquilo que lhe é conhecido, ou seja, estar junto ao corpo da mãe, principalmente pelas mudanças que o bebê sente ao nascer.

Durante a gestação, o corpo da mãe mantém os órgãos do feto em funcionamento, ao nascer essa tarefa é do bebê. O bebê ainda não conseguirá sobreviver sozinho, precisará de um cuidador, a diferença é que o corpo do bebê está separado do corpo da mãe, por isso a importância do contato corpo-a-corpo nos primeiros meses de vida – fator primordial para a constituição do vínculo mãe-bebê.

Afeto além da amamentação

Para que haja a constituição de um vínculo forte entre mãe e filho, faz-se necessário que o momento da amamentação não seja somente com a finalidade de alimentação, deve ser um momento em que a mãe interaja com a criança, principalmente através do olhar, toque e a fala. A interação com a criança significa que a mãe quer ter contato com ela.

Com o desenvolvimento do vínculo mãe-bebê, aos poucos o recém-nascido vai se adaptando ao mundo externo e reconhecendo o seu próprio corpo. Olhar para o rosto da mãe, sentir seu cheiro, seu toque e ouvir sua voz promovem o seu reconhecimento enquanto ser humano.

A substituição do seio que alimenta, para objetos, tais como a chupeta ou mamadeira podem prejudicar o desenvolvimento psíquico da criança, pois nunca serão capazes de substituir o contato humano – a comunicação que ocorre na amamentação promove a humanização do bebê. O bebê ainda não se comunica com palavras, mas consegue se comunicar de outras formas, principalmente com gestos, nesse contexto a mãe precisa nomear as expressões e sensações do bebê.

 A mãe que oferece o seio para a amamentação, promove a comunicação com o bebê, o que vai proporcionar o vínculo. O vínculo somente pode ocorrer se a mãe desejar amamentar.

Desejo cúmplice na mãe

O seio é ao mesmo tempo resposta à necessidade e sinalização de um provável desejo cúmplice na mãe, quando ela se dispõe a amamentar o bebê. E é isso que é terrível na chupeta ou na mamadeira apoiada em almofadas, não é? Não há nenhum rosto para humanizar a necessidade que é acompanhada, no bebê, pelo desejo de se comunicar com o outro, para além da fome e da sede (Dolto, 2013, p.259).

O vínculo que se constrói com a criança sempre perpassará pelo afeto. O afeto amoroso é o principal alimento que a criança precisa para sobreviver psiquicamente. O afeto está necessariamente ligado ao desejo de ser mãe, ou seja, o afeto promove o desejo da mãe querer lhe dar parte de si, algo exclusivamente seu – o leite materno.

Não pode-se deixar de mencionar, que há situações em que a mãe está impossibilitada de amamentar, ou até mesmo devido a separações repentinas e bruscas entre mãe-bebê, como no caso de doenças ou óbito da mãe. A ausência da mãe ou a ausência do seio materno não invalida o vínculo da criança com outros cuidadores ou de outras formas,  uma vez que o afeto é o alimento mais importante. Todavia, é importante mencionar o quão é importante a amamentação nos aspectos do desenvolvimento físico e psíquico do bebê.

Portanto, o vínculo mãe-bebê pode ocorrer em todas as interações entre eles. Ainda assim, a amamentação tem um lugar especial na constituição desse vínculo, em que  se constrói uma relação que envolve o corpo e o afeto.

Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: nutrição infantil: aleitamento materno e alimentação complementar / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009. 112 p.: il. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos) (Cadernos de Atenção Básica, n. 23).
DOLTO, F. Seminário de psicanálise com crianças. Tradução Marcia Valéria Martinez de Aguiar. 1. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013. 504 p.