O poder de concentração da mente

O psicólogo Daniel Goleman ganhou projeção mundial com publicação do livro Inteligência Emocional, traduzido em 40 idiomas e que se tornou um dos mais vendidos em muitos países. Atuou, durante muitos anos, como jornalista científico das revistas Psychology Today e a famosa The New York Times, produzindo e analisando artigos dentro da sua especialidade. Seu primeiro trabalho científico sobre meditação é de 1971, após um longo período na Índia, cumprindo uma bolsa de intercâmbio acadêmico da Universidade de Harvard, momento em que teve a oportunidade de ser introduzido em diversos cursos intensivos de meditação. 

Em seu mais recente livro, A Ciência da Meditação: como Transformar o Cérebro, a Mente e o Corpo, Goleman apresenta um rico panorama de trabalhos científicos que analisam os efeitos da prática meditativa aplicados à área de saúde, com importantes resultados junto a tratamentos de ansiedade, dores crônicas e depressão.

Entre as pesquisas citadas, está uma análise, realizada em 2016, por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Oxford, liderada pelo psicólogo especialista em Cognição e Depressão, John Teasdale. Nove estudos mostraram que portadores de depressão severa que praticaram um programa de meditação promovido por essa universidade, por um período de um ano, tiveram um taxa de 50% de taxa de reincidência para o mesmo quadro de antes da adesão ao programa. O achado foi considerado um grande avanço em relação aos resultados obtidos por métodos convencionais.

Um dos colaboradores da equipe de Teasdale, o psicólogo cognitivo e também especialista em depressão, Zindel Segal, ao analisar os resultados de outra pesquisa de sua autoria, que também envolveu o uso de meditação no tratamento de pacientes depressivos, percebeu que os melhores resultados vinham daqueles que seriam mais capazes de fazer o que ele chamou de “descentramento”, ou seja, conseguiram seguir de maneira mais atenta alguns princípios de meditação, como o hábito de apenas observar os próprios pensamentos, como veremos mais à frente. Eles foram capazes de entender que estes vêm e vão, assim como alguns sentimentos disparados por eles, no lugar de se deixar arrastar pelos pensamentos e sentimentos, numa clara identificação com seus conteúdos.

Neuroplasticidade

Segundo a neurocientista Sara Lazar, as pesquisas nesta área do conhecimento conseguem comprovar a existência de um ciclo dinâmico em que mudanças de atitude alteram as funções do cérebro e, consequentemente, sua estrutura físico-química se modifica. Da mesma maneira em sentido inverso, um novo cérebro permite a organização de suas atividades de maneira diferente que, por sua vez, produzem novas formas de perceber, redirecionar estratégias e agir. Essa predisposição do cérebro de se reinventar é chamada pelos especialistas de neuroplasticidade. Em outros termos, corresponde à atuação da nossa consciência sobre o sistema nervoso.

Um dos primeiros efeitos da prática de meditação é um espaçamento cada vez maior entre os blocos de pensamentos. Apesar da percepção ser desviada nos movimentos do corpo por divagação, há o retorno à concentração correta, e ela se torna cada vez mais rápida. Ou seja, vamos nos tornando mais próximos do que está acontecendo dentro de nós, os nossos sentidos vão se aguçando porque já não existem tantas distrações na mente. Podemos sentir, com mais clareza, o momento presente em sua riqueza de detalhes, pois nos permitimos ficar mais conscientes sobre o caráter transitório dos pensamentos. Eles surgem e desaparecem, como tudo na vida, mas, com a meditação, reduzimos as chances de sermos arrastados pela rápida sucessão de um pelo outro, a partir do momento em que não nos identificamos com eles.

Por fim, a mente fica mais harmoniosa com o todo que somos, quando passa a ocupar o lugar de veículo da consciência para utilização de suas inúmeras propriedades de criação, realização e expressão, mas sem o inconveniente de nos definirmos e orientarmos pela sua produção aleatória de conteúdo, fruto da desconexão com quem somos de fato. Somos o que sentimos, não o que pensamos. A serviço do coração, a mente é uma excelente assistente, pois está alinhada com o nosso ser. A mente pensa, enquanto o coração sabe, de modo que este sim é nossa grande bússola. O bom uso da lógica jamais dispensa nosso poder intuitivo, e só de maneira equivocada podem ser colocados como antagônicos. Grandes cientistas fazem uso de seu poder intuitivo, por exemplo.

Estilo da ativação

Ao longo de 28 anos, inúmeras pesquisas vêm sendo desenvolvidas em importantes universidades do mundo para relacionar cientificamente os efeitos da meditação no cérebro. Estes estudos foram iniciados através do entusiasta cientista Richard Davison que, em 1992, foi convidado por Dalai Lama para subir as montanhas e medir a atividade cerebral dos meditadores. Após tal experimento, o assunto foi colocado como linha de pesquisa por diversas universidades, entre elas: Unifesp, USP, Universidade de Oxford, Harvard e Cambridge. 

Um achado surpreendente para Richard Davison foi o estilo de ativação encontrado ao longo da meditação. Para ele, a meditação estaria relacionada a um cérebro relaxado, mas o que ele encontrou foi um cérebro extremamente ativo.

O estudo ainda comparou a ativação do cérebro dos monges que eram experts em meditação e os que praticavam meditação havia pouco tempo, demonstrando maior ativação em determinadas áreas do cérebro de meditadores experientes. Este estudo foi desenvolvido com a tecnologia da ressonância magnética funcional.

Estudos comprovam

Dentre muitas pesquisas em Neurociências que demonstram os benefícios da prática meditativa com relação à saúde e bem-estar, os resultados do trabalho da pesquisadora Sara Lazar, professora do departamento de Psicologia de Harvard, são de grande relevância. Neste experimento, as pessoas observadas jamais haviam praticado qualquer técnica de meditação, não mantinham uma dieta vegetariana ou qualquer estilo de vida muito diferente do comum. Sofisticados exames de ressonância magnética foram utilizados para detectar alterações na estrutura cerebral dos participantes iniciantes. Após um período de oito semanas, com 30 minutosde prática diária, as conclusões da pesquisa demonstram uma clara diferença.  

Os participantes iniciantes da pesquisa não tiveram, durante o período que foram observados, nenhuma alteração significativa em suas vidas, mesmo trabalho, mesma casa, meio social, mesmas dificuldades do dia a dia, e ainda assim relataram menor sensação de estresse e mais satisfação em situações cotidianas. Uma das conclusões da pesquisa associa à redução da amígdala e o aumento na sensação de bem-estar. Essa região do cérebro, depois do programa de meditação, respondeu ao modo como o ambiente foi percebido e não ao ambiente em si, tendo em vista que não houve mudanças no meio externo que representassem uma redução de fatores estressantes. Somente o modo de organizar e processar os ambientes já conhecidos é que produziram uma reorientação das sensações, inclusive a de bem-estar.

Ondas cerebrais

Objeto complexo que inspira tanta curiosidade, o cérebro é um órgão eletroquímico, seus neurônios se “comunicam” através de sinapses elétricas e químicas. Pesquisas já demonstraram que, se todos os neurônios se ativassem ao mesmo tempo, seríamos capazes de acender uma lâmpada.

Ondas cerebrais são provenientes do sistema nervoso central e podem ser caracterizadas pela frequência, amplitude e fase. As oscilações e sincronizações dos neurônios são associadas às distintas funções cognitivas, como: transferência e processamento de informação, percepção, controle motor, atenção e memória.

Nosso cérebro possui uma variedade de ondas cerebrais que se mantêm ativas no cérebro ao longo do dia. Todavia, em algumas áreas, um determinado tipo de onda se manifestará em maior proporção quanto que, em outras áreas, em menor. Temos cinco tipos de ondas principais: delta, teta, alfa, beta e gama.