O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que, até 2025 o país registre 73.610 novos casos de câncer de mama, com uma taxa de 66,54 diagnósticos a cada 100 mil mulheres e cerca de 18 mil mortes anuais.
O impacto do diagnóstico desses tumores vai muito além das estatísticas. Reverbera emocional e psicologicamente tanto na vida das pacientes quanto no cotidiano dos familiares e parceiros ou parceiras que acompanham essa experiência intensa e transformadora.
A comunicação aberta, o apoio mútuo e a presença constante se tornam essenciais para que o tratamento seja conduzido com uma base emocional mais sólida. Porém, a natureza da doença apresenta uma série de desafios emocionais e físicos e, muitas vezes, casais que já viviam uma desconexão emocional se veem diante de um teste que evidenciará ainda mais as dificuldades desse vínculo.
Diagnóstico e o tratamento
O diagnóstico e o tratamento envolvem, frequentemente, muitas mudanças e reestruturações. A mastectomia (retirada total da mama) e a quadrantectomia (remoção da parte afetada) são procedimentos que podem deixam cicatrizes físicas e que podem também causar marcas profundas na autoimagem da paciente.
Diante da perda do corpo saudável, e da autonomia, a paciente experimenta uma vulnerabilidade que muda a sua maneira de se ver e de se relacionar com o mundo. A alteração de traços físicos valorizados socialmente e associados com a feminilidade e a sensualidade, além do mito da maternidade, pode desencadear uma crise de identidade. A paciente sente o impacto de uma transformação na identidade e no papel que desempenha em seu ambiente social e familiar.
No processo de luto pela própria imagem dessa mulher, a [psicoterapia oferece um espaço de acolhimento e ressignificação, ajudando a paciente a reconstruir sua autoimagem de maneira positiva.
Estudos internacionais apontam que muitos parceiros de pacientes oncológicas se sentem isolados emocionalmente durante o processo de tratamento. Embora poucos escolham abandonar a relação, o fato de não terem espaço para expressar suas próprias dores e medos pode levar a um afastamento emocional.
Apoio para todos os envolvidos
A psicoterapia não atua apenas como um suporte para a paciente, mas também para parceiros e família, que experienciam seu próprio processo de adaptação e luto. Nesse contexto, ela emerge como um elemento fundamental não apenas para fortalecer a paciente, mas para consolidar os laços que sustentam seu processo de cura.
Ainda que no Brasil faltem pesquisas específicas sobre como os companheiros enfrentam essa experiência ao lado de suas parceiras, a observação clínica destaca que o apoio emocional da família e do casal está diretamente ligado ao fortalecimento da mulher com câncer de mama.
Participação familiar
Quando o parceiro ou parceira e a família participam das sessões de psicoterapia, recebem o suporte necessário para compreender e lidar com os muitos desafios que envolvem o câncer. Um deles é conseguir falar sobre temas delicados, como o medo da morte e a ressignificação da vida após o diagnóstico.
A experiência acumulada no atendimento a pacientes oncológicos mostra que as sessões de terapia familiar e de casal promovem uma reconexão importante entre a paciente e seus entes queridos. Estudos evidenciam que essa abordagem contribui para que as relações interpessoais se fortaleçam, uma vez que a terapia incentiva a expressão genuína das emoções.
À medida que os encontros se sucedem e o processo avança, o ambiente seguro da psicoterapia possibilita que o casal e a família encontrem a confiança para expressar suas preocupações e anseios, permitindo uma comunicação que vai além do superficial e que se torna um alicerce para enfrentar as várias fases do tratamento.
Conscientização necessária
A União e Apoio no Combate ao Câncer de Mama – Unaccam é um exemplo de instituição que reconhece a importância desse suporte psicológico e há sete anos oferece terapia familiar gratuita, ajudando pacientes a ressignificar suas experiências.
Ao promover uma comunicação sincera e trabalhar os vínculos entre os envolvidos, a terapia permite que cada membro da família encontre sua maneira de contribuir e de encontrar forças para enfrentar as adversidades.
Pode inaugurar caminhos para que as relações interpessoais se tornem mais resilientes e para que as experiências de vida da paciente e de sua família sejam ressignificadas, criando um espaço onde a vulnerabilidade se transforma em uma oportunidade de crescimento e reconexão. Estabelecer essa rede de apoio sólida é fundamental para que a mulher com câncer de mama e seus familiares possam enfrentar as incertezas e limitações impostos pela doença, redescobrindo-se em meio aos desafios.