Para quem não conhece, a série Monk acompanha o detetive Adrian Monk. Nos primeiros minutos do primeiro episódio, já nos deparamos com sinais claros de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) do personagem, como a incessante dúvida se desligou o fogão antes de sair de casa ou o ato de tocar repetidas vezes em um mesmo objeto. Mais adiante, acompanhamos o personagem escovando os dentes (40 vezes cada lado) e organizando a sala do seu psicólogo durante a sessão.

Mas será que o TOC é só isso: ações e repetições “fáceis” de identificar? Na verdade, trata-se de um transtorno caracterizado por obsessões com pensamentos, ideias ou sensações recorrentes e indesejadas (causando ansiedade) que resultam em ações compulsivas de repetição, como limpar compulsivamente objetos, lavar as mãos ou checar as coisas sem parar (esses rituais são feitos a fim de tentar aliviar essa ansiedade), interferindo significativamente na vida do indivíduo.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o TOC está entre as dez maiores causas de incapacitação, com cerca de 4 milhões de brasileiros convivendo com a doença. Embora tenha grande impacto, ainda não se compreende completamente a origem da doença, mas os estudos apontam para uma combinação de fatores biológicos e ambientais.

Após passarem por eventos traumáticos ou estressantes, algumas pessoas podem aumentar o risco de desencadear pensamentos, rituais e angústias emocionais característicos do transtorno obsessivo-compulsivo. No caso do nosso personagem, a morte de sua esposa reforçou os comportamentos e as obsessões já existentes, elevando o grau de prejuízo causado.

A série Monk ficou conhecida por trazer representação ficcional do TOC por meio de seu protagonista, apresentando de forma cômica várias dimensões do transtorno que podem ser analisadas sob a ótica da psicologia. Ele exibe uma série de preocupações obsessivas, como medo intenso de sujeira e um desejo extremo por ordem e simetria. Seus comportamentos compulsivos são evidentes em seus rituais de limpeza e organização e repetidos como forma de aliviar a ansiedade e o desconforto provocados por seus pensamentos obsessivos.

A série destaca como o TOC de Monk afeta sua vida cotidiana e suas interações com os outros. Seus rituais e suas preocupações, embora muitas vezes apresentados de forma exagerada para fins cômicos, interferem significativamente em sua vida profissional e pessoal.

Diagnóstico

De acordo com o Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM), o TOC e os transtornos relacionados diferem das preocupações típicas das diferentes fases de desenvolvimento pois são excessivas e persistentes. Por isso, o critério diagnóstico precisa apresentar:

A. Presença de obsessões, compulsões ou ambas;

B. As obsessões ou compulsões tomam tempo ou causam sofrimento clinicamente significativo;

C. Os sintomas obsessivos-compulsivos não se devem aos efeitos fisiológicos de uma substância ou outra condição médica;

D. A perturbação não é mais bem explicada pelos sintomas de outros transtornos.

Embora a série não se concentre detalhadamente no tratamento do transtorno, o personagem é mostrado buscando apoio profissional e tentando lidar com sua condição, tratamento esse que, de acordo com o livro O que você precisa saber sobre TOC e tem medo de perguntar, é a terapia cognitivo-comportamental (TCC), frequentemente focando na exposição e prevenção de resposta, em que os pacientes são gradualmente expostos às suas obsessões e aprendem a resistir às compulsões, junto com a farmacoterapia, sendo os antidepressivos a primeira escolha medicamentosa.

Muitas pessoas com TOC possuem crenças disfuncionais, que podem incluir senso aumentado de responsabilidade e tendência a superestimar a ameaça, com perfeccionismo e intolerância à incerteza, sendo comum que evitem pessoas, lugares e situações que desencadeiem as obsessões e compulsões.

Como ajudar

Uma etapa muito importante nas sessões de TCC é a psicoeducação sobre o transtorno e seu modelo cognitivo. Ensinar o paciente sobre seu transtorno e seus sintomas gera maior adesão e efetividade do tratamento, pois há o aprendizado de padrões de pensamentos e comportamentos, assim podendo ser seu próprio terapeuta no futuro. Por meio da psicoeducação, o indivíduo passa a ter um papel colaborativo no qual monitora seus pensamentos automáticos e testa a validade deles com estratégias fornecidas pelo psicólogo, assim participando de forma ativa em seu processo de mudança.

Com as sessões estruturadas de TCC, você auxiliará seu paciente a identificar pensamentos automáticos, modificar interpretações distorcidas, a fazer uma lista de sintomas e a trabalhar por meio da exposição às obsessões e prevenção de rituais, sendo em alguns casos recomendado o uso de medicamento.

É importante considerar que Monk utiliza uma abordagem humorística para retratar o TOC. A representação exagerada de certos aspectos da condição é feita para gerar comédia, o que pode não capturar toda complexidade e seriedade da experiência real de indivíduos com o transtorno. Portanto, enquanto a série oferece uma visão acessível e envolvente, é essencial distinguir entre a representação ficcional e a realidade clínica.

Em resumo, Monk explora o TOC de forma acessível e cativante, mas com viés cômico. Para estudantes de psicologia, a série oferece uma oportunidade para discutir a manifestação do transtorno, o impacto nas funções diárias e a importância do tratamento.