Tão difícil quanto entender que invejamos, é entender o que é a inveja. A inveja é um afeto inconsciente, inerente ao ser humano, que existe desde o início da vida. Invejar é sentir raiva/ódio, quando alguém tem/é, algo que você gostaria de ter/ser e, mais do que isso, desejar que essa pessoa se dê mal e ficar “feliz” com a desgraça dela.

A inveja conta a história do mundo interno do invejoso. O invejoso pode até ter tudo de material, mas é empobrecido em seu mundo interno.

Um desejo admirado

A inveja é um sentimento que, em maior ou menor intensidade, todos sentimos. Isso não quer dizer que toda pessoa seja invejosa. O invejoso admira, mas na impossibilidade de se identificar, ele (a) ataca, destrói, deprecia o invejado.

Todo invejoso admira, mas não é capaz de reconhecer. Na admiração não há o desejo de destruir o outro, ao contrário, há o reconhecimento da admiração e o desejo de ser alguém como o admirado.

Mecanismo da inveja

Melanie Klein em “Inveja e gratidão” (1957-1974), explica o mecanismo da inveja. Nos primórdios da vida humana, a inveja surge na relação do bebê com o seio materno, que ao mesmo tempo o nutre, também o frustra. Diante da impossibilidade de um seio inexaurível, o bebê experimenta a privação.

Essa privação aumentaria a voracidade do bebê, criando assim uma relação onde esse seio é odiado e invejado. Nesse manejo da relação inicial entre mãe x seio x bebê, estaria a raiz da inveja.

A Rainha má da Branca de Neve pode ser um bom exemplo para entender o mecanismo da inveja, isto é, o ódio que ataca e visa a destruição.

No filme da Branca de Neve, a Rainha má contava com a ajuda de um espelho, que lhe falava “na cara” as duras verdades. Verdades essas que denunciavam as fragilidades e a vulnerabilidade interna, dais quais a rainha estava exposta, mesmo sendo uma Rainha, dona de um lugar e de beleza. Ou seja, não necessariamente precisaria se importar, ou se comparar com outras pessoas.

Fora do filme, esse espelho nada mais é, que nossos sentimentos, que nos comunicam os desconfortos mais genuínos quando nos relacionamos com outras pessoas. Todos nós sentimos, mas nem todos nós percebemos esses incômodos.

Parece que o maior drama da Rainha má, era desconhecer ser possuidora de um inconsciente. No inconsciente ficam armazenados as lembranças, memórias, conteúdos que são inaceitáveis, desagradáveis, e que em razão disso, foram reprimidos. Entretanto, mesmo que desconhecidos, esses conteúdos emergem sem uma percepção consciente.

Maior projeção

Em tempos de redes sociais, se observa com muita facilidade, essa agressividade dirigida ao outro. A vida das outras pessoas pode parecer mais interessante, porque se olha apenas por um ângulo, e esse olhar é incrementado pela imaginação e projeções. Quanto menos intimidade a pessoa tem consigo própria e mais vazia a pessoa, do ponto de vista interno, maior será a projeção.

A inveja destrói o próprio invejoso, como a Rainha que mostra seu mundo interno através de suas ações, e ao final morre.

Se descortinarmos a inveja do invejoso, iremos encontrar uma dor profunda, cercada de sentimento de inferioridade, desamparo, incapacidade, desamor, baixa estima por sí mesmo. São essas as fragilidades desconhecidas do próprio invejoso, que não se percebe invejoso e rebaixa o invejado como forma de diminuir a sua própria dor.

Nenhum aspecto positivo

A inveja não traz nada de bom, não há nenhum aspecto positivo nela. Quando se diz: “senti uma invejinha de fulano”, já não é mais inveja, já existe algo em processo de elaboração, algo de consciente.

Quando é possível se dar conta do que sente, e do lado sombrio da própria personalidade, pode surgir também a parte amorosa, e o sentimento de humanidade, passando assim a tolerar e tratar a própria dor. O invejoso com seus ataques destrutivos vai minar a criatividade, as conquistas, a beleza, o valor do outro.

E MAIS…

Cuidado com a dinâmica destrutiva

Como mudar alguém é algo do impossível, a não ser que seja por vontade e trabalho próprio, ao detectar esses sinais em alguém por perto, é importante se proteger para não entrar nessa dinâmica destrutiva.