Eu tenho certeza de que você já ouviu falar em Sheldon Cooper, da série The Big Bang Theory. Um dos personagens principais, interpretado por Jim Parsons, ele é um físico teórico altamente inteligente, com QI de 187, mas tem dificuldades significativas em interações sociais e compreensão de normas sociais, o que gera muitos momentos de comédia. Trata-se de um personagem tão icônico e aclamado que sua história se estendeu a um spin-off sobre sua infância, que é a indicação de hoje!
Young Sheldon (disponível no streaming Netflix), que estreou em 2017, oferece uma visão mais detalhada da infância do personagem, mostrando sua vida na cidade de Medford, no Texas, e como ele, com sua inteligência extraordinária, enfrenta os desafios de ser uma criança superdotada em um ambiente social e culturalmente diferente do que ele é acostumado.
O protagonista demonstra sinais de superdotação desde o início da série, em que o acompanhamos em seu primeiro dia de aula no ensino médio, com apenas 9 anos de idade. Em uma conversa com seus colegas de classe, Sheldon se apresenta de forma técnica, utilizando termos acadêmicos avançados para explicar conceitos simples. Nesse momento, a professora fica perplexa e os outros alunos não sabem como lidar com ele.
Conceito de inteligência
Para falarmos de superdotação, precisamos compreender o conceito de inteligência e como ela se manifesta nos indivíduos. O conceito de inteligência como função psicológica surgiu no final do século 19. Pode ser definida como um conjunto de habilidades cognitivas do indivíduo que permite a identificação e a resolução de problemas respondendo às exigências de adaptação biológica e sociocultural. Confuso, né? Mas não se preocupe, vamos simplificar: a inteligência é a capacidade de resolver problemas e se adaptar às situações da vida tanto para sobreviver quanto para viver em sociedade.
Surgiram diversas teorias sobre a inteligência, incluindo a proposta da inteligência múltipla, que foi a usada para investigação e definição sobre altas habilidades/superdotação. O relatório Marland (relatório dos EUA sobre investigação de crianças superdotadas) diz que crianças com altas habilidades apresentam notável desempenho e/ou elevado potencial em qualquer das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: capacidade intelectual geral, aptidão acadêmica específica, pensamento criador ou produtivo, capacidade de liderança, talento especial para artes visuais e artes dramáticas e habilidades psicomotoras.
O personagem que estamos analisando, Sheldon Cooper, apresenta capacidade intelectual geral, aptidão acadêmica específica (em física teórica) e, de certo modo, pensamento criador ou produtivo (no campo científico), mas não possui habilidades relacionadas a liderança, artes visuais ou dramáticas, nem habilidades psicomotoras.
Já segundo a psicometria, indivíduos superdotados são aqueles com quociente de inteligência (QI) maior ou igual a 130 pontos. No caso de Sheldon, ele ultrapassa em 57 pontos a pontuação mínima para ser considerado superdotado.
Como surge?
Mas como a superdotação surge? É genética? Para Piaget, é algo dinâmico e que surge da construção de estruturas cognitivas que, à medida que vão sendo construídas, vão se estabilizando no cérebro em um processo contínuo. E não é inata, pois muda ao longo da vida, sendo desenvolvida por meio da habilitação de funções, substituição e integração de esquemas cognitivos
Há certo consenso na literatura de que, ao menos uma parte da inteligência, tem influências genéticas, que, embora importantes, não são 100% do construto. Existe grande interferência ambiental no desenvolvimento da inteligência, mesmo com crianças superdotadas, com estímulos psicossociais, condições de saúde adequadas, ambiente motivador.
Existe uma teoria, chamada ‘A teoria dos 3 anéis’, de Renzulli, que leva em conta a interação entre fatores individuais e ambientais para o desenvolvimento da superdotação. As características consideradas foram motivação, habilidade acima da média e criatividade. O criador dessa teoria e outro pesquisador identificaram dois tipos de superdotados: os acadêmicos e os produtivo-criativos.
O personagem analisado, Sheldon, se enquadra como superdotado acadêmico, pois apresenta notável desempenho escolar, aprende rapidamente, tem grande vocabulário e excelente raciocínio verbal e/ou numérico. Em um episódio, ele ajuda sua mãe a resolver um problema matemático complicado enquanto ela está tentando organizar o orçamento da família. A rapidez e a precisão com que ele resolve equações complexas mostram sua habilidade acadêmica excepcional desde cedo, tratando esses problemas como simples questões de lógica e raciocínio, algo que seria desafiador até mesmo para matemáticos experientes.
Impactos emocionais
A superdotação pode ter impactos emocionais significativos, já que pessoas com habilidades excepcionais muitas vezes enfrentam desafios sociais e psicológicos. Entre os principais efeitos, estão o isolamento social, devido à dificuldade de se conectar com os outros, e o perfeccionismo, que gera alta autoexigência e ansiedade. A sensibilidade emocional aumentada também é comum, o que pode resultar em sobrecarga emocional e dificuldades em lidar com interações superficiais.
Além disso, pessoas superdotadas podem sentir-se diferentes e incompreendidas, o que pode levar à solidão e à frustração. A pressão externa para alcançar grandes feitos pode intensificar o estresse e a sensação de não se encaixar nas expectativas pode criar inseguranças. Outro desafio é o tédio intelectual, quando as tarefas cotidianas não oferecem desafios suficientes, gerando desmotivação.
Em Young Sheldon, no primeiro dia de aula, vemos o menino, com apenas 9 anos, sofrendo com a transferência para a escola secundária, onde ele imediatamente se vê isolado. Seus colegas não conseguem acompanhar seu nível de inteligência, o que o leva a se sentir deslocado, além de não compartilhar interesses com os outros, ficando profundamente solitário.
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