A ideia de que a morte é tão natural quanto a vida levou a escritora e roteirista paulistana Natália Marques, pós-graduada em teoria literária e literatura comparada, a escrever Sete centímetros. Em uma narrativa que combina autoficção e realismo mágico, a autora apresenta a história de uma mulher que enfrenta um câncer e, nesse processo, ressignifica sua própria existência.
Finalista do Prêmio Carolina Maria de Jesus, promovido pelo Ministério da Cultura, o livro é dividido em duas partes: A morte, centrada na descoberta da doença, e A vida, que mostra como a personagem desenvolve uma nova relação com a proximidade do fim. “A morte é natural. Todo ser vivo morrerá um dia, por isso temê-la talvez não seja o melhor caminho, mas tratá-la como uma amiga que chegará em certo momento”, reflete a autora.
Inspirada na história real da família de Natália, que conviveu com o câncer no fígado da mãe durante dois anos, a escrita do livro foi a maneira que encontrou para responder algumas das perguntas originadas do seu processo de luto. “Este é o livro mais pessoal que escrevi até o momento e também representa uma abertura de portas na minha carreira”, afirma a autora, que antes se dedicava principalmente à literatura romântica voltada ao público jovem adulto.
Paradoxo
Marcia, a personagem central, é uma professora que já leva décadas de dedicação ao ensino. Mora com o filho, Natanael, um jovem universitário que também cuida da banca de jornal da família no centro de São Paulo, e com a mãe, Amélia, uma senhora octogenária que venceu recentemente um câncer. A rotina familiar muda completamente quando Marcia descobre dois tumores no fígado: um pequeno, com cerca de dois centímetros, e o outro, que dá nome ao livro, com sete centímetros.
Do início do tratamento, que a professora decide guardar segredo da família, ao apoio e suporte que recebe dos seus entes queridos, a personagem encara uma jornada de esperança e frustrações resultantes da imprevisibilidade do câncer. O esvaziamento da rotina como ela conhecia termina por fortalecer os laços familiares, principalmente com o filho Natanael, que acompanha a mãe durante todo o tratamento.
A figura de Natanael é essencial para a trama, porque é de onde Marcia tira forças para seguir o tratamento exaustivo, que nem sempre tem os resultados ansiados. Em muitas vezes, o filho é o único motivo que a faz seguir lutando contra a doença, já que o desgaste físico e emocional a leva a questionar várias vezes se vale a pena todo esse esforço.
Com influências do realismo mágico, a autora escolhe personificar a morte como uma personagem que guia Marcia por uma jornada paradoxal de celebração da vida. “Acredito que essa seja uma maneira poética de tornar mais palpáveis as coisas que não temos como explicar”, comenta Natália.
Ela define sua escrita como empática, com frases diretas que criam conexão entre leitor e personagem. Essa característica, reforçada por sua atuação como preparadora de texto, permite tratar de temas densos com leveza e proximidade. “Mesmo tratando de temas pesados, como a morte e o câncer, eu o faço de maneira tranquila, como uma conversa entre pessoas próximas”, explica.
Ficha técnica
Título: Sete centímetros
Autora: Natália Marques
Editora: Flyve
Páginas: 149