A Covid-19 chegou como uma bomba e afetou a todos nós de forma significativa da noite para o dia. Ninguém passou ileso. Até o início do ano de 2020, estávamos pulando carnaval, indo a teatros e cinemas, festas, restaurantes, exposições e vivendo a vida normalmente.
De uma hora para outra, o Corona entra sem ser convidado para a festa. O vírus se reproduz com velocidade assustadora, ninguém (ainda) pode detê-lo, mete medo em todo o mundo, fecha tudo, isola o planeta, mata muita gente, gera notícias fúnebres, e notícias cada vez mais intensas e preocupantes. Ele acaba com as Olimpíadas, os campeonatos de futebol, não tem mais restaurantes, bares e museus abertos para usufruir. O vírus vem para mostrar como a saúde física é frágil e, também ou mais, a saúde mental. Afinal, apesar de tantos falecimentos, há uma grande parcela da população mundial que não se contaminou. Mas nenhum ser humano, seja de que parte do planeta e de qualquer faixa etária, deixou de sofrer os impactos emocionais e psicológicos da Covid-19, sejam eles diretos ou indiretos.
Do outro lado
Na outra ponta, estão os médicos, enfermeiros, atendentes de enfermagem, fisioterapeutas e demais funcionários da linha de frente sobrecarregados a atender infectados, incessantemente. Morre um aqui, outro ali, caminhão frigorífico para conservar os corpos mortos que não são enterrados a tempo pelo excesso de mortes. A Associação Paulista de Medicina publicou, em julho de 2020, uma pesquisa muito bem feita que mostra que mais de 50% dos médicos que trabalham em hospitais apresentam a Síndrome de Burnout, ou seja, canseira crônica devido a trabalho excessivo. Pudera: além de esses profissionais estarem o tempo todo face a face com o sofrimento e com a morte, ainda encaram constantemente o medo de acabar contaminados e levar o vírus para dentro de suas casas infectando entes queridos. Com certeza isso causa um enorme estresse, desânimo, depressão, mesmo sabendo que os que lidam com a saúde estão acostumados a encarar doenças, crises e sofrimentos.
Vacina em teste
O fato é que essa pandemia acrescenta o imponderável, pois estamos há meses sem saber como “pegar esse vírus pelo rabo”. Há uma esperança de que, até o começo de 2021, a vacina estudada em Oxford é uma promessa, já quase realidade, sendo testada com rigor em vários centros mundiais, entre eles, na Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo. Quando ela vier, a certeza que ficará desse período ruim é que todos passamos por um profundo ensinamento, não somente sobre a convivência e a solidariedade humana que, sem dúvida, aumentou bastante, mas sobre hábitos simples e muito salutares, que estão sendo aprendidos de forma significativa agora, como estar sempre com as mãos limpas, não coçar o nariz, os olhos e a boca, pois essa prática, tão comum entre as pessoas, é uma das grandes responsáveis pelo aumento da propagação do vírus pandêmico e também de outras muitas doenças infecto-contagiosas.
Por ora, o que nos cabe é aguardar, com paciência, resiliência, equilíbrio emocional e máscara, até a vinda da cura.
Terreno fértil para a desordem do cérebro
O longo período pandêmico gerado pela Covid-19 criou uma realidade assustadora para muitos. São imagens de funerais, estatísticas de pessoas contaminadas, cidades com ruas praticamente vazias, escolas sem data para reiniciarem as aulas presenciais, ameaças de perda de trabalho. Esta realidade tem as emoções como um terreno fértil para se instalar e causar uma grande desordem. Ansiedade, medo, estresse, inquietude, sofrimento, tormento, tristeza, depressão, pânico são respostas do cérebro, tendo em vista as informações sensoriais oriundas do mundo exterior. Este desequilíbrio emocional cria, ainda, uma falta psíquica que, por assim ser, pede uma recompensa que poderá vir em forma de uma alimentação excessiva que terá, como consequência, um aumento da circunferência abdominal. Além disso, os instintos agressivos poderão ser liberados e traduzidos na violência doméstica, conforme comprovam as estatísticas.
São incontáveis as informações sensoriais que chegam ao cérebro humano e há uma seleção delas para que o Sistema Nervoso não entre em colapso. Quem faz isso é uma estrutura cerebral chamada Sistema Ativador Reticular Ascendente. Se o “SARA” focar somente na pandemia, o cérebro vai interpretar que a realidade é assim e assim sempre será. As emoções vão se alterar e a saúde, seja ela mental ou somática (corpo), ficará comprometida.
Autor: Ivo Carraro é professor e psicólogo do Centro Universitário Internacional Uninter.