ESTUDO DE CASO
Em 2013 é publicado o DSM- V e nessa versão, o TEA recebe uma nova classificação. A classificação Transtornos Globais do Desenvolvimento foi reformulada e substituída pelo termo Transtorno do Espectro Autista (TEA). O principal foco foi para acabar com as inúmeras subdivisões existentes e incluí-las dentro de um único grupo. Para a atuação clínica, os “profissionais não se baseavam nas diferenças entre os vários subtipos, mas sim utilizavam os graus de severidade do transtorno como principal critério. Agora, segundo o DSM-V, o TEA pode ser classificado em: Grau leve (Nível 1), Grau moderado (Nível 2) e Grau severo (Nível 3)”. (DSM-V, 2016, 99).
Com relação ao desenvolvimento cognitivo, mesmo levando-se em conta as dificuldades de avaliação, observa-se pequeno número de portadores de inteligência normal. Tal fato é categoricamente enfatizado, considerando-se real a ligação entre autismo e deficiência intelectual, estabelecendo-se a noção de um “continuo autismo” ou de um “espectro autístico”, conceito esse utilizado na construção da categoria no DSM-V, em função exatamente da variação de inteligência, com características sintomatológicas decorrentes desse perfil de desempenho.
A tríade do autismo
O aluno em questão tem o diagnóstico de autismo e apresenta a tríade de comportamentos autísticos como: dificuldade na interação social, observado pela dificuldade em relacionar-se com o outro, associado a comportamentos restritos, estereotipados e repetitivos, além de uma comunicação restrita e precária. Este déficit na área social consiste na dificuldade de contato com a realidade externa, que resulta em um isolamento de si próprio, não aceita contato físico com o outro. Essa criança demonstra um atraso na linguagem não mantendo relações de comunicação, porém, em algumas situações, emite sons aleatórios para expressar sentimento. É um modo muito particular da fala, marcada por irregularidades do timbre com repetição ecolalia, inversão das palavras ou do padrão correto da língua portuguesa.
Conforme Orrú (2007) destaca que a comunicação fica comprometida quando há “[…] anormalidades de respostas a estímulos verbais e não verbais, a falta de verbalização e mímica, a resistência ao diálogo e a indiferença aos estímulos sensoriais” (ORRÚ, 2007 p.39). Para Kanner (1997), estas “repetições consistem num esvaziamento do ato, de tudo o que é de um valor pré-simbólico, restando apenas o vestígio de um trabalho humano que apenas começou a acontecer” (KANNER, 1997 p.16). Entre outras preocupações, proporcionar a aquisição de linguagem para esta criança tem sido o principal objetivo da inclusão escolar, com o objetivo de relacionar as produções verbais.
Inclusão efetiva
A presença de alunos com TEA nos diferentes níveis escolares tem sido cada vez mais frequente. Essa realidade exige que os profissionais da educação se atualizem e reorganizem a rotina pedagógica, de tal modo que possam promover efetivamente a inclusão.
A criança de dois anos chegou à escola em 2019, no infantil 2. Não demorou muito para começamos a perceber que ela era diferente, pois costumava ficar isolado e pouco brincava. As vezes chorava e demorava para se acalmar. Apresentava dificuldades no relacionamento com os amiguinhos da sala. Também trazia problemas na comunicação (não falava nada) apenas emitia alguns sons, quando queria algo, pegava na mão das professoras e apontava o que desejava.
A criança não se direcionava para quem o chamava, parecia que não ouvia nada. Ainda percebemos que tinha alguns movimentos repetitivos como ficar se balançando. Poucas vezes se alimentava e não podia misturar os alimentos.
O centro de educação infantil não realizou muitas intervenções, devido à idade da criança e por estar em uma sala na qual havia, além da educadora, as auxiliares, a rede municipal não disponibilizava mais profissionais. Foi então que o centro de educação infantil destinou um rodizio entre as auxiliares da turma para trabalhar mais diretamente com esse aluno. Assim, as atividades com ele passaram a ser realizadas individualmente, na intenção de buscar a interação do aluno com as demais crianças, bem como de favorecer o bom desempenho da criança nas suas próprias atividades.
A terapeuta orientou que os pais precisavam estar bem unidos para proporcionar um modelo positivo, pois crianças com TEA precisam estar em ambientes estruturados mais do que qualquer criança.
Lacunas da inclusão
Ao analisar esse relato, torna-se possível perceber as lacunas no processo de inclusão da pessoa com deficiência na realidade educacional brasileira, a precariedade do atendimento oportunizado à criança e à família a partir da identificação de um aluno com TEA na lista de matriculados. Apesar de se intitular inclusivo, nosso sistema educacional não oferta um atendimento especializado desde o início do processo educacional, permitindo assim que as práticas pedagógicas ali realizadas, bem como as intervenções no processo de aprendizagem, se tornassem falhas pela falta de capacitação profissional.
A oferta de um atendimento especializado no processo de inclusão não compreende somente a aceitação daquele aluno no espaço escolar, mas sim, proporcionar professores de apoio especializados. Falta também orientar os meios para adaptação de materiais e aperfeiçoamento continuo.
Por fim, é possível afirmar que a inclusão escolar deste aluno, verdadeiramente não ocorreu.
A aquisição da linguagem, fator principal no caso apresentado, bem como toda a aprendizagem da criança resulta da interação com o ambiente que a rodeia e do convívio com os pares humanos. Podemos considerar a linguagem como um instrumento complexo que viabiliza a comunicação e a vida em sociedade. Sem a linguagem, o ser humano não é social, nem cultural.
O breve relato da presença de uma criança com autismo em um centro de educação infantil, reflete somente o quanto mais precisamos caminhar no processo de inclusão, apresenta a necessidade de se investir em formação dos educadores, para que conheçam e saibam intervir na educação de estudantes sob essa condição, para que assim de fato possamos dizer que uma inclusão realmente foi um sucesso.
Faltam pesquisas científicas na área
A ONU, através da Organização Mundial da Saúde (OMS), considera a estimativa de que aproximadamente 1% da população mundial esteja dentro do espectro do autismo, a maioria sem diagnóstico ainda.
No Brasil, temos apenas um estudo de prevalência de TEA até hoje, um estudo-piloto, de 2011, em Atibaia (SP), de 1 autista para cada 367 habitantes (ou 27,2 por 10.000) — a pesquisa foi feita apenas em um bairro de 20 mil habitantes da cidade. Segundo a estimativa da OMS, o Brasil pode ter mais de 2 milhões de autistas.
Fonte: Revista Autismo. Disponível em: https://www.revistaautismo.com.br/o-que-e-autismo/ Acesso 18 de Agosto de 2020.