A experimentação na adolescência é comum e até saudável, afinal é nela que inauguramos muitas vivências (o primeiro beijo, o primeiro amor, o primeiro sexo, o primeiro porre etc), mas uma coisa é experimentar na condição de “escute seu desejo”, de curiosidade em vivenciar algo e outra coisa é acreditar que deve necessariamente experimentar porque todos estão fazendo, porque aí passa-se de uma situação libertária para uma impositiva que pode não trazer nada de proveitoso ou benéfico (Professora Julieta Jerusalinsky).

Não menos comum atendermos um adolescente que está descobrindo sua sexualidade, que sente o corpo reagir a um amigo do mesmo sexo e só consegue sentir medo dessa sensação e do que seus pais vão achar disso.

Também não raro o jovem estar numa família em que os pais se mostram homofóbicos, chegando em alguns casos até mesmo a ouvir que isso não está certo, não é de Deus, mas sim coisa do demônio.

Fora do padrão

É assustador ao adolescente quando sente no seu corpo algo “fora do padrão”, como o desejo por alguém do mesmo sexo. Mais, quando em sua própria casa se sente oprimido por saber que não terá a aceitação dos pais e familiares e se sente sozinho nessa.

O fato é que além de ter que lidar com sua descoberta, tem que lidar  com a falta de aceitação do outro. Como dar conta disso?

Muitas vezes o sofrimento pode ser tão intenso que vem no corpo, com a sensação de estar sem ar, de que vai desmair, morrer, com tremedeira, suor, choro descontrolado. Busca ele então o alívio da dor psíquica com os cortes que faz em seu próprio corpo.

Dor física e dor psíquica

A dor física momentaneamente alivia a dor psíquica, mas esta ao fim retorna trazendo culpa pela atuação.

Muitos pais dizem não compreender por que seus filhos estão deprimidos ou com crise de ansiedade se eles têm tudo.

É preciso que saibam que a questão da sexualidade adolescente pode ser causa de grande ansiedade, depressão, automutilação e mesmo ideação suicida.

Como lidar

O que os pais devem fazer com isso?

O primeiro momento precisa ser de escuta, pois o adolescente está com medo e confuso.

É fundamental tentar compreender o jovem que ainda poderá definir-se sobre sua identidade/sexualidade que, frise-se, só estará madura no final da adolescência.

Mostrar acolhimento é o passo seguinte. É dizer que está tudo bem independente de qual seja, de fato, o desejo do filho.

A conversa sobre sexo e sexualidade é muito importante para os pais que podem se libertar de um tabu, e para os filhos que podem entender melhor o que está acontecendo com eles.

É pensar que a pior opção é sempre a de não aceitar, a de querer mudar o que o outro é. Assim, vamos lembrar que proibir Elvis Presley de requebrar escondeu o seu talento e o tornou infeliz e no caso desse grande cantor por um bom tempo subtraiu o brilho do seu show e o prazer do seu público de assistí-lo.

E MAIS…

Quem realmente somos

Uma jovem paciente me disse outro dia que seu pai não ia mais cortar as asinhas das suas calopsitas, ainda que o risco fosse perdê-las num vôo para além das janelas de seu apartamento, porque isso as fazia tristes.

Sim, é necessário entender que somos melhores sendo nós mesmos e que só podemos ser felizes sendo quem realmente somos.

Assim, é preciso que deixemos que nossos filhos voem.