O corpo sempre foi elemento de estudos e pesquisas no campo da Psicanálise. Pensar como memórias, as quais, são arquivadas e armazenadas. Tornando-se o lugar, nas quais, as emoções expressam-se, em modo de sintomas ou doenças. Somos um corpo, que demanda sentimentos, dores, lembranças, que não foram elaboradas e ressignificadas. Ao olhar e interpretar, aquilo que o paciente expressa, amplia os cenários da análise.
As manifestações psicossomáticas e os processos envolvidos, despertam toda uma carga de representações simbólicas, sendo, então, inscritas no corpo. Lacan fala de uma “inscrição”, que necessita ser analisada e interpretada.
Sistema saudável do organismo
O corpo ao guardas memórias, acercar-se a transforma-se, e mudar o sistema saudável do organismo. Determina uma ação autodestrutiva, as quais, doenças psíquicas, tendem a anteceder a orgânicas, afetando toda a comunicação, mente e corpo. Ao memorizar essas memórias, traumáticas, de dor, sofrimento, abandono, rejeição, espelham-se, como pulsão autodestrutiva.
O objetivo deste artigo, é, então, mostrar que o corpo humano, expressa memórias e consciência. Tudo aquilo que não foi curado ou elaborado, apreende, aparecer, em fragmentos emocionais negativos, bloqueando, a saúde do organismo. Ao trazer para a consciência, através da análise, o paciente transforma num potencial de vida, evolução, criatividade e crescimento.
A memória celular
As células carregam informações, imagens, lembranças de todos os acontecimentos, desde o momento da concepção. Todos os episódios e fatos, são, armazenados e guardados, com o tempo procuram se manifestar. Deepak Chopra, afirma, “as células têm uma consciência afiada de seu ambiente, ou seja, estão sempre recebendo e reagindo a informações bioquímicas” (CHOPRA, 2016, p.250). Há comunicação e interação entre ambas. Ao trocar informações bioquímicas e elétricas, afetam todo a inteligência do organismo. Elas sabem, sentem e percebem todos os acontecimentos e ações, reagindo e respondendo, tanto num modo, positivo ou negativo.
Sempre as memórias vão se manifestar, causando modificações e alterações em todo o organismo. A criança que durante o processo de gestação foi rejeitada ou abandonada, as células arquivam essas imagens. Com o passar do tempo, não constituídas e ressignificadas, ressurgindo em modo de sintoma ou doença. Todas as experiências que vivemos, sentimos, ouvimos ou visualizamos, “nossas células estão vivendo as mesmas experiências que estamos vivendo, partilhando os mesmos propósitos e significados” (CHOPRA, 2016, p.250). Emoções negativas, desaceleram e destroem a saúde das células, possibilitando, o esgotamento e a morte.
A medida que as células tornam-se mais inteligentes, eficazes, determinantes, e complexas, ativam a criatividade do corpo, para juntas produzir saúde e vida no organismo. As memórias das células, guardam informações e lembranças, contendo cargas de energias, capazes de modificar com algum órgão, conseguindo adoecer e levar a morte. Ao alterar esse padrão, induzindo vida, harmonia, equilíbrio e criatividade, elaborando essas memórias, a inteligência celular, consegue transformar a evolução de uma doença.
As marcas do trauma no corpo
Com o tratamento da histeria , Sigmund Freud, entendeu que manifestações desta doença, apresentavam modificações na parte física, oriundos se acontecimentos traumáticos que permaneciam bloqueados. Sempre o Trauma vai mudar algo na pessoa. Nossa mente e cérebro, estão reprogramados a criar fatos e peripécias, conforme nossas experiências, ainda mais, baseadas em Eventos Traumáticos.
Pessoas traumatizadas, tendem a reter e reprimir o seu potencial, criatividade, saúde e evolução. Como corpo guardas essas marcas, que não se apagam e sim, se transformam em emoções negativas, com capacidade e força de criar nódulos no organismo. Podemos reagir de várias atitudes e situações, a traumas. Contudo, sempre vai alterar algo na nossa vida. Não é mais como antes. Tudo tende a mudar. Essa mudança sempre vai trazer consequências negativas, pensamentos distorcidos, fobias, apatia, vazio, solidão, fantasias e doenças.
Como ferida, procura afetar não somente o corpo como também a mente. Um corpo hipersensível, hipervigilante, modificando o sistema imunológico. A mente torna-se bloqueada, pensamentos intensos, transtornos mentais, fobias, angustia, ansiedade, pavor. O trauma é mais intenso que o estresse, causando mais sintomas e patologias. Por isso, no trauma ‘há uma ferida, e esta, ferida, se for suficientemente grave, resistirá a cura e pode até causar danos irreparáveis’ (Tracey Shors). Danos, com capacidade de necrosar com o organismo, levando ao esgotamento e morte.
Alerta aos gatilhos
Quando aciona o gatilho da cena traumática, desperta emoções negativas, que são jogadas no corpo. Essas memórias traumáticas, criam consciência, inteligência, força e capacidade de mudar o ciclo saudável da existência. O que adoece o organismo, é o trauma que permanece ativo e consciente. Crianças, que passaram pelo trauma do abuso sexual, amadurecem mais cedo, desde a libido, o corpo que modifica mais rápido do que o normal. Isso, reforça as marcas gravadas, não somente no corpo como na mente. Bessel Van Der Kolk, fortalece essa tese, “os que haviam sofrido abuso sexual na infância tinham dificuldade para se concentrar, queixavam-se de nervosismo constante e viviam tomados de sentimentos negativos sobre si mesmo” (KOLK, 2020, p.172). Essa marca traumática, fortalece o negativismo, o complexo de inferioridade, a falta de amor.
A ferida somente é curada, quando é acionada e falada, ressignifica, isto é, dar um sentido e significado. Na análise o paciente sente-se seguro, para falar, olhar para o passado traumático, para assim, curar essas marcas profundas.
A expressão do sofrimentos do paciente em seu corpo
Como psicanalista, percebo as dores e sofrimentos que o paciente carrega em sua existência. Sempre o corpo memoriza e arquiva lembranças, em forma de imagens e emoções. Nada se apaga, tudo aproximar-se a se transformar.
O corpo, expressa inteligência, consciência, atitude e memórias. Essas memórias, não tratadas e curadas, podem se expressar em sintomas e doenças. Na análise, o paciente ao falar das suas dores, sofrimentos e traumas, liberta-se destas cargas e pesos. A criança que ao ser abusada, o corpo arquiva esse acontecimento traumático. Então, depois de adulta, por exemplo, ao ser tocada, a memória do corpo, aciona esses gatilhos, despertando, não somente a lembrança, contudo, medo, pavor, angustia, ansiedade, pânico.
Através da escuta, a acolhida no setting psicanalítico, o paciente consegue refazer sua trajetória de cura, libertação e resiliência. Ao tocar nas memórias do corpo, nestas feridas, é possível sim, com tempo e análise, transforma-se num potencial de vida, saúde, criatividade. A cura acontece, quando o paciente permite voltar ao passado, fazer a ‘travessia’, e assim, encontrar seu verdadeiro Eu.