Dados de 2024 mostram que o país registrou mais de 470 mil afastamentos do trabalho por transtornos mentais. Trata-se do maior número desde 2014. E isso não é apenas um número: é um grito coletivo de esgotamento emocional. Algo precisa mudar — e com urgência.

A ansiedade, por si só, não é inimiga. Em pequena escala, pode nos impulsionar para realizações. O problema começa quando ela ultrapassa os limites saudáveis — o que ocorre com frequência no ambiente de trabalho, especialmente no modelo home office.

Ausência de fronteiras

A ausência de fronteiras claras entre o tempo pessoal e o tempo profissional transforma a casa em um prolongamento do escritório e dificulta o desligamento mental.

É preciso, sim, estabelecer limites no trabalho. O funcionário deve compreender que o perfeccionismo não é virtude quando o leva a buscar padrões irreais.

A constante sensação de que o que se faz nunca é bom o suficiente, somada ao medo de críticas, acaba por gerar altos níveis de ansiedade. Saber lidar com críticas é um aprendizado necessário: é preciso escutar, reconhecer falhas, mas também valorizar qualidades. Ignorar a realidade e viver sob o peso de expectativas distorcidas não contribui para o crescimento, apenas para o adoecimento.

Perda de equilíbrio

Outro ponto que precisa ser discutido são as profissões que envolvem grandes responsabilidades, riscos e metas rígidas. Elas, naturalmente, geram mais ansiedade. E aqui cabe uma reflexão: para conviver bem com essa ansiedade e usá-la de forma produtiva, é fundamental entender que o trabalho é apenas uma parte da vida. Quando ele passa a dominar todas as relações e pensamentos, perde-se o equilíbrio.

Muitos se tornam reféns do status que um cargo ou promoção proporciona. Isso, infelizmente, reduz a identidade da pessoa ao seu título profissional. O medo de perder esse status acaba gerando uma cobrança interna desumana, uma busca constante por perfeição, que esgota e adoece. Para que isso não aconteça, é essencial manter outros prazeres, outras fontes de realização além do trabalho.

Autocuidado e ajuda profissional

A criatividade deve ser aliada na busca por uma vida mais saudável. Se o trabalho é, de fato, uma fonte permanente de sofrimento, talvez seja hora de pensar em mudanças — de área, de empresa ou de perspectiva. E, nesse processo, cultivar o bom humor, praticar atividades físicas e buscar olhar as dificuldades por novos ângulos são atitudes que ajudam muito.

Quando tudo isso não for suficiente, buscar ajuda especializada não é fraqueza — é autocuidado. A psicoterapia, e quando necessário o uso de medicação, podem ser grandes aliadas na reconstrução do equilíbrio emocional.

O cenário atual pede mais do que resiliência: exige coragem para mudar. Precisamos parar de tratar o adoecimento mental como algo secundário. A ansiedade não pode continuar sendo o preço pago por produtividade. O ser humano deve estar no centro das relações de trabalho — e isso começa com empatia, limite e respeito.