A trágica morte da publicitária Juliana Marins, de 26 anos, durante uma expedição ao vulcão Rinjani, na ilha de Lombok, na Indonésia, gerou comoção nacional.

A jovem brasileira, que havia se aventurado sozinha pela trilha, acabou sendo encontrada sem vida dias depois de cair em uma encosta. Sua história comoveu milhares de pessoas, viralizou nas redes sociais e foi amplamente divulgada pela mídia nacional e internacional. Mas afinal, por que esse caso específico tocou tanto o público?

Potencial interrompido

Há, sem dúvida, uma série de fatores que explicam a dimensão da repercussão. Juliana era jovem, bonita, tinha uma carreira promissora e parecia viver plenamente, com um espírito aventureiro e inquieto — características que muitas pessoas admiram ou aspiram.

A sensação de potencial interrompido, de uma vida que estava apenas começando a florescer, naturalmente evoca sentimentos de perda mais profundos.

Gatilhos emocionais

Além disso, a forma como ela morreu tocou em um medo coletivo e existencial: morrer sozinha. A narrativa de uma mulher desaparecida, isolada, em uma região remota, ativou gatilhos emocionais em muitos.

Há um simbolismo forte nessa imagem, que conecta a história de Juliana com a solidão moderna que muitos experimentam.

Outro fator importante para entender a repercussão é a forma como o caso foi tratado pela mídia e, especialmente, pelas redes sociais. A cobertura foi intensa, com atualização constante, imagens fortes e, em muitos casos, uma exposição profunda da dor da família.

A comoção pública foi alimentada, em parte, por essa superexposição: as lágrimas dos pais, os depoimentos dos amigos, os vídeos da busca, tudo isso contribuindo para criar uma narrativa envolvente — e, infelizmente, explorada em alguns casos.

Indignação coletiva seleta

É importante refletir também sobre os inúmeros outros casos de mortes precoces, muitas vezes de jovens tão promissores quanto Juliana, que não recebem o mesmo nível de atenção.

Jovens vítimas de violência urbana, feminicídio, tragédias cotidianas que seguem sendo ignoradas ou tratadas com indiferença. Isso revela uma seletividade na indignação coletiva, que merece ser questionada.

A comoção é legítima, o luto é coletivo, mas é preciso ponderar se essa amplificação pode ser extremamente dolorosa para a família. O respeito ao momento de dor deve estar acima da busca por audiência ou engajamento.

A morte de Juliana nos lembra da fragilidade da vida, dos perigos do mundo e da forma como nossas histórias são contadas. Mas também nos convida a pensar sobre como nos comovemos, com quem nos comovemos e por quê.