A ideia que a sociedade possui a respeito dos idosos deve ser analisada, abrindo espaço para reflexões no processo de aprendizagem.
O que é ser idoso?
Pela lei, idoso é quem tem mais de 60 anos de idade e está enquadrado numa legislação própria, o Estatuto do Idoso, que surgiu com o objetivo de protegê-los e garantir seus direitos. Porém, essa definição é muito simples, e o ser humano muito complexo para este enquadre.
Em termos quantitativos, a população brasileira, segundo o censo 2010, tem mais de 3.000.000 de idosos acima de 70 anos e a estimativa é que tenhamos mais idosos do que jovens em 2060.
O que contribuiu para o aumento da população idosa foi o desenvolvimento científico e tecnológico, as condições socioeconômicas e culturais, as medidas sanitárias, as políticas públicas de saúde que colaboraram para a melhoria da qualidade e o aumento da expectativa de vida da população. Com isso, atingiu-se um progressivo envelhecimento populacional nos diferentes países e um número cada vez maior de pessoas passaram a sobreviver até 70, 80, 90 anos. Urge, então, que se dê atenção a este grupo de pessoas, considerando suas expectativas de vida, suas possibilidades e seus anseios de realização pessoal.
Mudança de enfoque
O uso do conceito de terceira idade, ao invés de idoso ou velho, já assinala entre nós uma modificação latente na maneira social e cultural de definir tal papel. Trata-se, agora, de uma faixa etária. A de número três na escala ordinal cronológica. A conotação pejorativa não se mostra tão evidente quando como se diz velho, com determinada entonação desdenhosa.
É preciso mudar o enfoque sobre o idoso, considerado como alguém que é velho, descartável, que não serve para nada. Como um sistema vivo, o ser humano é sujeito ao desgaste físico. O envelhecimento não é velhice, mas um processo irreversível iniciado no nascimento e encerrado com a morte do ser. Fazem parte do envelhecimento os processos de transformação do organismo ocorridos após a maturação sexual. O envelhecimento é acompanhado por alterações na aparência, no comportamento, na experiência e nos papéis sociais. Porém, hoje, não há mais dúvidas em relação à necessidade de continuidade do processo de aprendizagem durante toda a vida humana, como uma maneira de se evitar e ou postergar o envelhecimento senil.
Para toda a existência
A Psicopedagogia tem demonstrado que processos de aprendizagem são mantenedores da vida e, por isso, são considerados processos vitais e se apresentam como uma alternativa para o atendimento à terceira idade, seja em grupos ou em espaços terapêuticos individuais.
Esta área de conhecimento e de atuação é voltada para o processo de aprendizagem humano. Seu objeto de estudo é o ser cognoscente, ou seja, o sujeito que se dirige para a realidade e dela retira um saber. Vista no âmbito de um sistema complexo e inerente à condição humana, a aprendizagem não é estudada pela Psicopedagogia no espaço restrito da escola, ou num determinado momento da vida, posto que ocorre em todos os lugares, durante todo o tempo da existência.
O olhar psicopedagógico para o estágio do desenvolvimento do idoso tem sido valorizado em função do aumento populacional e das possibilidades no mercado de trabalho, o que implica em aprendizagem para este grupo de pessoas, as quais estão ingressando em cursos técnicos e superiores, para o atendimento desta demanda.
O que move o sujeito
As condições psicológicas da aprendizagem estão relacionadas à motivação do sujeito, ou seja, à forma pela qual ele se mobiliza e se direciona para a vida. A motivação é um processo interno e se constitui na resposta pessoal de cada ser humano diante da realidade. Pode ser extrínseca, quando baseada em recompensas externas, tais como um salário, uma bolsa de estudos, um prêmio de qualquer natureza, ou intrínseca, quando é o desejo de aprender, de se auto superar, de fazer aquilo que deseja, que movimenta o sujeito. A família e a sociedade, em geral, podem contribuir para que a pessoa se mantenha motivada intrinsecamente para aprender e trabalhar, quando investem em seu potencial, dão crédito às suas escolhas, abrem espaços colaborativos nos quais esse grupo possa se expressar e colocar a serviço do outro suas habilidades e experiências.
Na criança, a motivação é geralmente garantida pela curiosidade, que a disponibiliza intrinsecamente para a ação. No adolescente e no adulto, a motivação extrínseca cumpre um papel preponderante, tendo em vista objetivos a serem alcançados, tais como ingresso na Universidade ou no mercado de trabalho, que são valorizados socialmente. No idoso a motivação intrínseca é muito pequena porque, geralmente, nesta fase da vida, o ser humano se fixa mais no passado do que no presente, e no futuro enxerga a morte. Por isso, o trabalho psicopedagógico é tão relevante nesta faixa etária, pois a aprendizagem pode manter a motivação extrínseca, já que, sem motivação o ser humano não vive.
Organização social
A Psicopedagogia se nutre da ideia de que envelhecimento e morte são vivenciados da maneira como foram aprendidos. Isso significa que componentes aprendidos são tão importantes como os biológicos no processo de envelhecimento e formam um padrão pessoal que define como uma pessoa irá envelhecer. Esta posição epistemológica sobre a aprendizagem no processo de envelhecimento humano abre um enorme campo de atuação psicopedagógica na terceira idade.
O idoso depende da organização social na qual vive para a garantia de sua dignidade e direitos. Mas depende também de cada um de nós mudarmos os paradigmas sobre a maturidade e a velhice em nosso meio, contribuindo para que se amplie a compreensão de que o ser humano, independentemente de sua idade cronológica, é um ser aprendente, um ser de mudança, um ser criativo e adaptativo, capaz de superar-se e de surpreender-se consigo mesmo e com seus semelhantes.
Esta postura permitirá que idosos se beneficiem do trabalho psicopedagógico em termos do diagnóstico de sua situação de aprendizagem, assim como da intervenção psicopedagógica dirigida para a otimização deste processo ou da superação de dificuldades que nele possam ocorrer.
Envelhecimento saudável
E por falar em terceira idade, o que se tem como elemento de análise, hoje em dia, é a diferença entre senescência e senilidade.
- Senescência é o processo de envelhecimento que ocorre sem deterioração da mente e a pessoa se mantém ativa e produtiva. No envelhecimento saudável, apesar de existirem mudanças, tais como a perda de musculatura, enrugamento da pele, branqueamento dos cabelos, perda de funções sensoriais, como a visão e audição, assim como a diminuição na velocidade de processamento das informações, o esperado é que a mente permaneça apta à aprendizagem, mantendo-se capaz de se adaptar aos estímulos;
- Senilidade é o envelhecimento patológico, quando instalam-se demências que afetam a produtividade e a vida social do indivíduo, pois são acompanhadas por perda de memória, o que é uma ameaça para a própria identidade, quando a pessoa já apresenta mais vulnerabilidade física e maior risco de comprometimento da autonomia, necessitando de cuidados especializados constantes.