Nesta pandemia, foram muitas as mudanças impostas no dia-a-dia das famílias. Planos foram adiados, a vida escolar mudou totalmente em termos de tempo e espaço, novas maneiras de convivência doméstica tiveram de ser adotadas. O isolamento social trouxe incertezas que fizeram com que as pessoas não pudessem mais sair de casa. O medo de ir para a rua impediu de avaliarem a real necessidade deste hábito antes tão rotineiro, que agora foi cerceado. 

Como especialista, no entanto, alerto para cuidados especiais que não podem ser suspensos nem em uma situação de isolamento. Falo de famílias que tenham filhos com bipolaridade ou autismo. Nos dois casos, existe a necessidade de uma atenção permanente, em qualquer circunstância.

A falta de acompanhamento desses distúrbios é um sério risco de ver anos de esforço continuado irem por água abaixo. Nenhuma família vai querer isso e, neste momento de tantas dúvidas, vale a certeza da ciência: o tratamento de crianças e adolescentes com qualquer quadro psiquiátrico, como o transtorno de humor bipolar e o autismo, não pode ser suspenso. É um conjunto de atenções, como as terapias e as medicações, que deve ser visto com seriedade. Pais de filhos bipolares e com autismo sabem a gravidade da situação e sabem também que os cuidados podem perdurar a vida toda. E este é mais um motivo para entender que uma interrupção por meses poderá ser fatal para o desenvolvimento saudável desta criança ou adolescente.

Além disso, nos dois casos é importante considerar a prematuridade do diagnóstico. Quanto antes for detectado um quadro de autismo ou de bipolaridade, maiores são as chances de sucesso no tratamento para que as doenças regridam e a criança ou adolescente tenha uma vida mais tranquila. Pais e mães não devem colocar em dúvida a necessidade de investigar este quadro caso tenham qualquer suspeita.

Alerta ao tratamento 

Quero chamar a atenção para algo que percebo em ambos os casos: quando o tratamento está dando certo e seguindo conforme o previsto, é comum a família achar que vai tudo bem e, com isso, minimizar, de alguma forma, os cuidados. Por isso, o momento atual pode se tornar uma armadilha nestes casos. Desestimulados a sair, com outras prioridades no dia-a-dia impostas pela pandemia, os pais vêem o quadro de seus filhos como algo que estaria “encaminhado’, que não precisa mais da mesma atenção de antes, quando as manifestações das doenças eram mais acentuadas. É importante que estas famílias redobrem a atenção e não se deixem cair por esta cilada. Especialmente nos casos em que houve sucesso no tratamento, é fundamental não reduzir a atenção e manter toda rotina de acompanhamentos em dia.

Posso assegurar que a suspensão da medicação nestes casos é a fórmula perfeita para uma grave crise. Faço o alerta porque tenho conhecido histórias de tratamentos nestes dois quadros deixados de lado durante a pandemia da Covid-19. Sei que o trabalho para a retomada será longo e extenuante para muitas famílias. Por isso, não deixe cuidados essenciais de seus filhos ou pacientes autistas ou bipolares para depois.

E MAIS…

Adaptações necessárias para o cuidado permanente

O momento é delicado para todos e alguns pais podem começar a ver que os filhos parecem estar regredindo. Brincadeiras e interações são ótimos termômetros de como os filhos estão se desenvolvendo – até mesmo para um olhar leigo. 

Idealmente, a terapia presencial é a melhor opção, principalmente em casos com sintomas mais graves. Se a consulta presencial não for possível, a sugestão é de que ela seja feita on-line, com a presença do adulto responsável. O importante é não deixar de acompanhar.

Já nos casos de crianças com sintomas mais leves, o atendimento a distância é super possível. Meu alerta é para que a família não deixe que a pandemia traga esta sensação de que a terapia destes quadros é dispensável porque ela realmente não é.