Em tempos de Burnout docente, falta de infraestrutura e desigualdades gritantes entre redes públicas e privadas, a IA pode ser uma das chaves para transformar a realidade de quem ensina no Brasil. Mas ainda temos um longo caminho.
Recentemente, tive acesso ao estudo da UTFPR e do Instituto Significare, apresentado na Bett Brasil 2025, e fiquei impressionado: mais de 80% dos professores da educação básica já enxergam benefícios no uso da IA.
Muitos começaram a usar ferramentas como o ChatGPT para desenvolver planos de aula, elaborar avaliações e até criar atividades personalizadas.
O dado mais revelador foi que 61,6% desses docentes já utilizam IA generativa em seu cotidiano escolar — ainda que muitas vezes sem formação adequada (UTFPR & Significare, 2025).
Investimento em tecnologia
Nas escolas privadas, esse movimento acontece com mais força e velocidade. Instituições com maior investimento em tecnologia já adotam plataformas como Khanmigo, da Khan Academy, que foi recentemente disponibilizado no Brasil.
Trata-se de um assistente virtual que oferece sugestões pedagógicas, tira dúvidas dos alunos e até ajuda o professor a acompanhar o desempenho individual.
Professores relatam que, com isso, têm mais tempo para o que mais importa: interagir com os alunos (Khan Academy, 2025).
No entanto, o uso da IA também começa a florescer na rede pública. No Distrito Federal, por exemplo, foi criado o Centro Integrado de Inteligência Artificial (CIIA-DF), que já distribuiu 1.000 licenças e treinou professores da rede estadual para o uso responsável dessas tecnologias (Agência Brasília, 2024).
Essa iniciativa é um exemplo de como políticas públicas podem nivelar o acesso e reduzir a desigualdade digital entre os sistemas.
Muitos desafios
É claro que os desafios são muitos. Segundo a Nova Escola, 21,5% dos professores brasileiros avaliam sua saúde mental como ruim ou muito ruim.
Problemas como cansaço extremo, ansiedade, insônia e até quadros de depressão se tornaram rotina em salas superlotadas, sem recursos, com pressão por resultados e, muitas vezes, com pouco reconhecimento (Nova Escola, 2022).
Em São Paulo, uma pesquisa da Apeoesp revelou que 64% dos docentes da rede pública relatam sintomas graves de estresse e exaustão emocional (Apeoesp, 2023).
Já se tem dados de experiências promissoras no uso da IA como co-orientadora em projetos de aprendizagem por projetos (PBL).
Um exemplo notável vem do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), onde o ChatGPT foi testado com 16 professores e mais de 300 alunos.
O resultado foi maior engajamento e senso crítico — tanto dos estudantes quanto dos docentes (IFSC, 2024).
IA não é solução mágica
Mas não nos enganemos: IA não é solução mágica. Sem infraestrutura, formação continuada e suporte emocional, a tecnologia pode aprofundar desigualdades e gerar novas ansiedades.
Ainda há escolas onde nem internet de qualidade existe. Professores precisam mais do que ferramentas — precisam de políticas públicas que os valorizem.
A saúde mental dos professores precisa ser prioridade nas discussões sobre inovação educacional.
Só assim a IA pode cumprir seu papel: reduzir a sobrecarga, ampliar o cuidado e fortalecer a atuação do educador, não apenas como transmissor de conteúdo, mas como ser humano.
A verdadeira inovação acontece quando o uso da tecnologia e empatia caminham juntas. E isso só é possível com ação colaborativa entre educadores, gestores, psicólogos, terapeutas e formuladores de políticas públicas.
Porque cuidar da educação começa com cuidar de quem educa.