Desde a revolução industrial, a partir de 1760, a interação do homem com o trabalho vem sendo alvo de debate e análise a partir da ótica de quase todas as ciências e campos de conhecimento. A Psicanálise, enquanto área de saúde mental e análise social, observa, cautelosamente, a relação estabelecida entre homem e corporação e faz isso de forma sistemática, compreendendo os ganhos e perdas que advém desse relacionamento. Uma das perdas significativas para o indivíduo, chamado neste contexto de trabalhador, é justamente o estresse absorvido, que causa danos inúmeros para a saúde física e mental.

Para uma compreensão mais ampla, é necessário entender o termo e suas especificidades. É fundamental entender que o estresse é uma doença, e está listado na Classificação Internacional de Doença sobre o código: F43 (“Reações ao “estresse” Grave e Transtorno de Adaptação”. Outro ponto de relevância é entender a etimologia do termo que, segundo Gonçalves na obra Psicossociologia do trabalho e das organizações, apresenta que o termo provém do latim “stringere, strinxi, strictum”, que significa: apertar, comprimir, restringir. A expressão existe na língua inglesa desde o século XIV, tendo sido utilizada durante bastante tempo para exprimir uma pressão ou uma constrição de natureza física. Apenas no século XIX é que o conceito se alargou, para passar a significar, também, as pressões que incidem sobre um órgão corporal ou sobre a mente humana (Serra, 2000).

Conceito científico

Já no meio científico, Zanelli expõe o termo que foi consolidado por Hans Selye que, como estudante de Medicina, observou as reações de angústia e tristeza e, posteriormente, em 1936, pelas pesquisas como endocrinologista, cunhou a denominação síndrome geral de adaptação ou síndrome do estresse biológico.

Ancorado em descobertas da fisiologia que postulavam que ambiente externo, e na concepção de homeostase como o estado de equilíbrio interno do organismo, Seyle interpretou o estresse como ruptura deste equilíbrio (Lipp 2003).

O trabalho observado como um fator provocador de adoecimento já é percebido desde o início da revolução industrial que, de forma massacrante, expôs as trabalhadoras e os trabalhadores a horas excessivas de jornada sem intervalos para descompressão psicológica. Ou seja, horários adequados de refeição e descanso necessários para restabelecer as energias. Este cenário, hoje em dia, não está tão diferente. Certamente que houve ganhos gigantes quanto às garantias trabalhistas, como uma estrutura de segurança pessoal, profissional e psicológica. Não obstante, fatores como carga horária, que o Brasil, por exemplo, possui uma das maiores do mundo, e o despreparo das organizações para lidar com o fator humano de maneira mais profissional e adequada, considerando os fatores de saúde, e o despreparo dos líderes organizacionais em conduzir as equipes de maneira estratégica e saudável, tende a  provocar danos estressantes nas pessoas.

Psicanálise na empresa

Um trabalho psicanalítico dentro das empresas é de fundamental importância para assegurar a satisfação plena com o trabalho. A atuação do psicanalista é bem-vinda na conscientização das lideranças sobre a importância de discutir o tema de saúde mental dentro das empresas e como isso se transforma em uma arma poderosa para acelerar resultados, atingir metas e contribuir criativamente para novas abordagens profissionais, o que refletirá na entrega dos serviços e na fabricação dos produtos. Portanto, investir na atuação de psicanalistas em organizações é, antes de tudo, algo extremamente útil para a consolidação estratégica das corporações. Evidente que isso requer que o psicanalista conheça bem a estrutura cultural da empresa, seus administradores, suas práticas, as práticas na gestão de pessoas que é realizada pelo setor de Recursos Humanos e todas as práticas de gerenciamento da rotina – pois é justamente esta rotina que impacta diretamente no adoecimento dos trabalhadores, provocando níveis preocupante de estresse no trabalho e consequente efeitos danosos à saúde física e mental, refletindo na diminuição da produtividade e comprometendo as entregas necessárias para a empresa. Muitas vezes, o prejuízo é tamanho que gera afastamento do trabalhador, ultrapassando os limites do vínculo empregador e empregado e alcançando a esfera da saúde pública.

Portanto, investir em programas que estimulem o bem-estar laboral evita o surgimento dos sintomas físicos, psicológicos e comportamentais de seus colaboradores, trazendo maior produtividade e, consequentemente, maiores resultados. No final, todo mundo ganha.

E MAIS…

Fatores e sintomas do estresse no trabalho

Em 2009 uma pesquisa realizada pela Stress Management identificou que o trabalho é a maior fonte de estresse para as pessoas, atingindo os 26%, atrás inclusive de relacionamentos (com 21%) e da parte financeira (20%). Mas, o que causa estresse no trabalho especificamente? São vários fatores e o especialista Stephen Robbins, em seu livro Comportamento Organizacional, agrupou os potenciais em três grandes grupos:

  1. Fatores ambientais: incerteza econômica; incerteza política; mudança tecnológica.
  2. Fatores organizacionais: demandas das tarefas; demandas dos papéis; demandas interpessoais.
  3. Fatores individuais: problemas familiares, problemas econômicos e personalidade.

Uma vez expostos a estes estressores é possível desenvolver uma série de problemas que também são agrupados em três grupos:

  1. Sintomas físicos: dor de cabeça, pressão alta ou quadros hipertensivos, e doenças cardíacas.
  2. Sintomas psicológicos: ansiedade, depressão, diminuição da satisfação no trabalho.
  3. Sintomas comportamentais: baixa produtividade, absenteísmo e rotatividade

A Psicanálise, enquanto suporte terapêutico dentro do trabalho e das organizações, tende a observar todos os fatores listados acima para ter amplitude das possibilidades dos sintomas, sobretudo os físicos e psicológicos, para assim assistir de maneira mais prática os trabalhadores da corporação. Certamente que o esquema acima não elimina o diagnóstico psicanalítico final do analista, uma vez que os relatos feitos pelo paciente darão fundamentação para as intervenções. Entretanto, mostra de maneira mais ampla o efeito, a princípio pessoal e consequentemente coletivo, que o estresse pode causar.

Referências:
Gonçalves, Sónia P. Psicossociologia do Trabalho e das Organizações. 1. ed. Editora Pactor, 2014.
Bendassolli, Pedro F. Borges-Andrade, Jairo Eduardo. Dicionário de Psicologia do Trabalho e das Organizações. 1. ed. Editora Casa do Psicólogo 2015.
Robbins, Stephen P. Comportamento Organizacional. 14. ed. Editora Pearson Prentice Hall 2011.
Site:https://pebmed.com.br/cid10/?utm_source=google&utm_medium=cpc&utm_campaign=search_cid&gclid=EAIaIQobChMItongx8vG6gIVRYGRCh17XQe-EAAYASAAEgJYYvD_BwEConsulta em 11/07/2020 às 22h54min.