ESTUDO DE CASO

Este artigo faz um resumo de insights pessoais, que podemos chamar de um estudo de caso sobre meu EU.

Sim, me sobreveio um insight durante os 14 anos de idade, aquele de que “não há solução individual nesse mundo; ou a solução é coletiva ou ela não existe” e que levaria inevitavelmente à conclusão clássica aos meus 15 de que “Essa solução só poderia vir por uma Revolução, Revolução essa que consistiria em a Classe Trabalhadora levar a Luta de Classes às últimas conseqüências agindo fora das vias institucionais”, porém esse insight veio seguido de todo um novo longo processo que levou outros muitos anos.

De modo que esse processo não dependeu apenas da aquisição da cultura, da aquisição da informação, da aquisição do conhecimento, do recebimento de uma educação, do desenvolvimento da própria sabedoria de vida ou mesmo da mera passagem do tempo.

Formação e carreira

Esse insight se manteve em mim até os meus 20 anos, momento em que comecei a ter contato com os Professores e Psicanalistas do Curso de graduação em Psicologia da UFRJ no ano de 1993. Cursei 1 ano nessa Graduação. Depois Cursei mais 3 períodos no Curso de graduação em Psicologia na PUC-Rio ao longo da década de 1990, onde também mantive contato com outros Professores e Psicanalistas do Curso. Em 2003 fiz vestibular para o Curso de Psicologia da UFF, iniciando o Curso de graduação em Psicologia naquela instituição no ano de 2004, o que me deu a oportunidade de conhecer outros Professores e Psicanalistas.

Também assisti aulas como aluno ouvinte nas disciplinas de Psicologia e Psicanálise no Curso de Graduação em Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ durante o período de minha graduação em Psicologia na UFF e me formei na UFF em Março de 2013. Depois de formado voltei a assistir como aluno ouvinte as disciplinas de Psicanálise do Curso de graduação em Psicologia da UFRJ, durante os anos de 2014 à 2017. Vale levar em consideração também que, durante todos esses anos – isto é, de 1993 até hoje, eu trabalhei paralelamente como vendedor, o que serviu para me iludir não só sobre a possibilidade de eu alcançar a minha independência financeira, como sobre a questão do capitalismo ser o único sistema passível de proporcionar a seus cidadãos uma Meritocracia saudável.

Em minha trajetória, acabei não me inclinando para a Clínica Psicanalítica e nem ao Divã de uma forma tradicional, prática e efetiva, mas o fato é que ao longo de todos os anos que foram decisivos para mim – de 1993 à 2013 – toda a questão da Luta de Classes fora colocada em segundo ou terceiro plano ou ainda relativizada como problema relevante dentro das nossas sociedades.

Passei a ficar na dúvida sobre se a questão da Luta de Classes era um problema realmente relevante ou se era apenas uma questão colateral ou mesmo uma mera puerilidade juvenil.

Trajetória na Clínica

Exerço a Clínica desde Setembro de 2013, mas foi por volta dos anos de 2016 e 2017 que esse meu contato passado com os Psicanalistas me fez trazer a tona toda essa questão da Luta de Classes, não apenas como a questão central de todos os problemas humanos, mas também como a questão central da Clinica. Eu intuía que a Luta de Classes estava recalcada não apenas em mim, mas em todas as pessoas com as quais eu tive contato.

Segundo um terceiro Professor que tive na UFF, a Psicanálise só fala de quatro coisas – O corpo, “a mulher”, o amor e a Morte (ele menciona a mulher sem aspas; “a mulher” com aspas é obra minha). Para chegar ao fim de uma análise é preciso que a pessoa – seja ela homem, mulher, Trans, Cis, LGBTQIAPN+, Genderfluid ou qualquer outra coisa – é preciso que essa pessoa aprenda a lidar com essas quatro coisas e isso significa compreender e aceitar que essas quatro coisas são incompletas e que, por conseguinte, nos condicionam a experiências de incompletude – tanto quando somos sujeitos, como quando somos assujeitados nas relações humanas.

Mas isso tudo só é possível quando passamos pelo processo de castração – isto é quando entendemos quando acaba o meu poder sobre mim mesmo e sobre o outro e quando começa o poder do outro sobre suas decisões. Porém isso tudo só é passível de acontecer quando inserimos a Morte na Vida.

Ponto de vista da Psicanálise

Esse processo de inserir a morte na vida ou de fim de análise não se dá de forma repentina, mas é um processo de submeter-se a um Divã, onde as associações vão nos levando a questões cada vez mais próximas daquilo que realmente é significativo para nós e o tempo que esse processo leva é proporcional ao próprio tempo que essas idéias levaram para serem recalcadas ao longo dos anos. No meu caso particular esse Divã foi um “Divã” onde o Significante ou conjunto de Significantes – ou a idéia – mais remota seria o processo Revolucionário e a necessidade do engajamento de mim e de todos(as)(es) nele.

Na pauta da Filosofia

O leitor pode ter ficado com a impressão de que “ de acordo com o autor, preciso me tornar um Revolucionário para perder o medo da morte… mas, para perder o medo da morte preciso me tornar um Revolucionário…” o que o deixaria em um impasse, em uma situação de imobilismo. A questão é que tanto a Morte quanto o processo revolucionário, ambos emergem conjuntamente, lado a lado. Mas essa Co-emergência não é a Co-emergência que vemos em Deleuze, Guatarri, Michel de Certeau, Humberto Maturana, Manuel Delanda, Judith Butler (sim parte do seu pensamento está alicerçado na Filososofia de Gilles Deleuze), Jacques Derrida e toda a tradição da Filosofia da Diferença, da Pós-modernidade, do Pós-estruturalismo ou do Hiper-Pós-estruturalismo (com exceção de Foucault, que aliás é um autor que praticamente não utilizo), baseada na Vortexologia de Henry Bergson.

Toda a Arquitetura do pensamento de Bergson bem como de quase todas as Correntes Filosóficas da Pós-Modernidade e do Pós-Estruturalismo, bem como da Hiper-Pós-Modernidade são fundamentadas nos conceitos de Atual, Virtual e Intensivo, em que esses autores trabalham com a noção de tempo distendido, com o passado, o presente e o futuro acontecendo simultaneamente.

Porém, como Freud defende em sua Obra ‘O Futuro de uma Ilusão’(1927), é preciso dizer de forma direta e objetiva  para as massas que a Religião e a conduta da vida baseada na Fé em algo Transcedental só vai adiar os seus problemas e não resolvê-los. Freud postula que a propagação dessa ideologia vai ser mais cedo ou mais tarde descoberta sim e, quando for, vai provocar uma desilusão tão grande nas massas que as mesmas poderão explodir em uma Convulsão social sem direção, o que poderia não só levar a várias tragédias como a levar a Sociedade a um estado de anomia.

Na proposta desse Artigo a Morte e o processo revolucionário emergiriam simultaneamente diante dos olhos do observador não como um encontro entre esse ou aquele corpo, entre esses ou aqueles corpos; elas emergiriam uma diante da outra quando o sujeito for capaz de sentir que todos os corpos do planeta estão em tensão mútua, clamando por uma Revolução.

Referências Bibliográficas
– Amaral, Johnny. O Futuro da economia capitalista nos Estados Unidos. In: gazeta revolucionaria.net   em 26/11/2022;
– Bergson, Henry. Matéria e Memória. Editora Martins Fontes, São Paulo, 1999 ;
– Engels, Friedrich; Marx, Karl (1848). O manifesto comunista de 1848, Editora Zahar, Rio de Janeiro, 1967 ;
– Freud, Sigmund. Artigos sobre Técnica(1911 – 1915). Volume XII da Coleção Standard das Obras Completas de Sigmund Freud, Editora Imago, Rio de Janeiro, 1969 ;
– ____________. Inibições, Sintomas e Angústia(1926). Volume XX da Coleção Standard das Obras Completas de Sigmund Freud, Editora Imago, Rio de janeiro, 1969 ;
– ____________. O Futuro de uma Ilusão(1927). Volume XXI da Coleção Standard das Obras Completas de Sigmund Freud, Editora Imago, Rio de Janeiro, 1969 ;
– ____________. O Mal estar na Civilização(1930). Volume XXI da Coleção Standard das Obras Completas de Sigmund Freud, Editora Imago, Rio de janeiro, 1969 ;
– ____________.  Porque a Guerra?(1932). Volume XXII da Coleção Standard das Obras Completas de Sigmund Freud, Editora Imago, Rio de janeiro, 1969 ;
– Gala, Paulo. Bolhas e Crises: Sempre a mesma História!  In: youtube.com/watch?v=ZolLvnyGBsA  ;
– Maccauley, Robert Neil; Kindleberger, Charles P.  Manias, Pânico e Crashes: Uma História das Crises financeiras. Editora Nova Fronteira, Rio de janeiro, 2000 ;
– Ouriques, Nildo Domingos. O colapso do figurino Francês: Crítica às Ciências Sociais no Brasil. Editora Insular, Florianópolis, 2021 ;
– _____________________. Revolução Brasileira: Uma Utopia necessária? – Nildo Ouriques – Programa 20 Minutos. In: Youtube.com  ;
– Pinto, Eduardo Costa. Diário da Crise 91: especial Financeirização(episódio 1). In: youtube.com/watch?v=xlL2U5yW_ks   ; (conferir Diário da Crise 92 e Diário da Crise 94, também no youtube);
– Samten, Padma.  A Jóia dos Desejos. Editora Peirópolis, São Paulo, 2001.