Antes de haver a compreensão deste transtorno em crianças, é muito importante entender a diferença entre a ansiedade natural e a patológica, e a partir daí identificar se está gerando algum prejuízo social ou cognitivo.
É normal nos sentirmos ansiosos por alguma coisa que acontecerá em nossas vidas. A ansiedade natural funciona como uma bússola, nos direcionando para uma atitude mais proativa frente aos acontecimentos. Essa ansiedade se porta de forma mais equilibrada e é racional. Em contrapartida, a ansiedade patológica é mais intensa, desproporcional ao estímulo que a desencadeia e é irracional, se preocupando de forma ilógica frente ao que ocorre, tornando o indivíduo mais reativo.
Estima-se que até 10% das crianças apresentam alguma ansiedade patológica durante a infância ou na adolescência. Alguns estudiosos afirmam que o surgimento precoce é de grande vulnerabilidade para o aparecimento de outros transtornos de ansiedade na vida adulta, inclusive o próprio TAG. Quanto mais cedo é tratado, melhores serão as chances de minimizar os prejuízos na infância e a ocorrência de outros transtornos na vida adulta.
Como grande parte das doenças psiquiátricas, os transtornos de ansiedade estão relacionados ao neurodesenvolvimento, tendo contribuição genética dos pais. Além disso, a própria saúde emocional dos pais pode influenciar no comportamento dos filhos.
Observação do comportamento
As crianças, principalmente as menores, podem não ser capazes de diferenciar se os seus medos são naturais ou intensos e exagerados, por isso dificilmente poderão por si só distinguir se se trata de algo natural ou patológico. Diferentemente de adultos, as crianças não verbalizam sobre as suas emoções, porém demonstram significativamente através de seus comportamentos e atitudes, que devem sempre ser observados.
Na infância, o TAG possui características particulares como preocupação demasiada com compromissos (dando a impressão de que a criança é um adulto em miniatura), além de seguir as regras de forma mais rígida em relação às demais crianças. Nos adultos, essa característica tende a ser “camuflada” por ser um comportamento esperado. Crianças com TAG podem ser mais preocupadas consigo mesmas, inquietas, perfeccionistas, extremamente pontuais, além de poderem ter preocupação com a própria saúde.
Outros transtornos associados
Em grande parte das crianças, será apresentado mais de um transtorno de ansiedade, sendo muito comum haver comorbidades. Os sintomas do TAG na infância são muito similares aos apresentados em adultos, como a fadiga, irritabilidade, distúrbios do sono e tensão muscular, porém alguns podem se apresentar de forma preponderante na infância como dor de estômago e agitação. O TAG na infância pode indicar outros tipos de transtornos que podem ser levados para a fase adulta, podendo desenvolver por exemplo o Transtorno de Pânico, a Fobia Social e a Depressão. O atraso no diagnóstico e tratamento pode acarretar sérios prejuízos na infância e vida adulta.
O tratamento do transtorno de ansiedade na infância possui muita similaridade com os métodos utilizados para adultos, porém a forma como é avaliado e o tratamento apresentam características mais específicas, adequadas ao público infantil. Muitas crianças com os sintomas de TAG recebem queixa da escola quanto ao seu comportamento. Essa queixa inicial é utilizada pelo psicólogo para dar início a um tratamento multidisciplinar, envolvendo diversos profissionais da área da saúde. Em alguns casos, haverá a necessidade do uso de ansiolíticos, por se tratar de um transtorno de ansiedade, a qual está relacionado a disfuncionalidade de algumas células nervosas, que fazem as conexões em diferentes regiões do cérebro, responsáveis pela emoção e o pensamento.
Tratamento pela TCC
A Terapia Cognitivo-comportamental mostra-se bastante eficaz no tratamento deste tipo de transtorno, pois possui técnicas capazes de ajustar os pensamentos disfuncionais, provocando mudanças na maneira como a criança percebe e raciocina sobre o ambiente dela. Os cuidadores participam ativamente nessas readaptações, sendo responsáveis por auxiliar o psicoterapeuta em controlar esse comportamento, tranquilizando a criança e diminuindo a atenção do comportamento ansioso. Com isso, o comportamento tenderá a se extinguir. Ao final da terapia cognitiva, é proposto um modelo de intervenção chamado de prevenção de recaídas, onde são criadas estratégias para prevenir o ressurgimento dos sintomas. Essa estratégia pode ajudar a criança a identificar situações que possam ser de alto risco para ela, tornando-a capaz de gerir seus comportamentos disfuncionais.
É de extrema importância que a família perceba se houve uma aliança terapêutica bem estabelecida entre a criança e o psicólogo, que deve estar atento a todas as necessidades dela, pois caso isso não tenha acontecido, a terapia tende a não progredir. Existem três aspectos que a família pode observar se houve ou não a construção dessa aliança: o interesse da criança na proposta terapêutica, os progressos da terapia e a confiança que a criança possui no psicólogo.
Como a família deve ajudar a criança com TAG?
A família exerce um papel primordial, pois é capaz de reforçar ou modificar (com ajuda dos profissionais adequados) o comportamento disfuncional da criança. A família precisa ser envolvida em todo o processo terapêutico, não se limitando apenas em estar presente nas sessões, mas possuir uma escuta e participação ativa nos problemas encontrados. A participação da família deve acontecer de forma periódica e se houver a necessidade, poderá ser incluído outro membro que possua vínculo significativo com a criança. Todas as possibilidades serão construídas com o psicólogo, cuidadores, paciente e psiquiatra. Por isso, não se trata de uma tarefa exclusiva das sessões de psicologia, mas algo mais amplo, multidisciplinar.
Muitas das vezes, as mudanças que ocorrem na vida da criança influenciam na dinâmica familiar, por isso há a necessidade que todos estejam juntos e atentos. Torna-se fundamental o diálogo e a paciência durante esse período.
A família funciona como um sistema, onde todos estão interligados, influenciando uns aos outros. Logo, o desenvolvimento da criança está intimamente ligado aos familiares.
A criança, que é um ser em desenvolvimento, é capaz de absorver tudo aquilo que não está acontecendo de forma funcional dentro da família, portanto, não haveria sucesso na terapia sem a participação dos cuidadores.