Dados oferecidos pela Organização Pan-Americana de Saúde mostram que os países gastam, em média, apenas 2% de seus orçamentos de saúde em saúde mental. Esse descaso se apresenta no número de pessoas que deixam de receber tratamento adequado. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), quase 1 bilhão de pessoas vivem com transtorno mental, 3 milhões de pessoas morrem todos os anos devido ao uso nocivo do álcool e uma pessoa morre a cada 40 segundos por suicídio.

Com a pandemia de Covid-19, o quadro, que já era assustador, ficou ainda mais tenebroso: os serviços essenciais de saúde mental foram interrompidos em 93% dos países em todo o mundo, embora a demanda por saúde mental seja cada vez maior.  

Uma pesquisa realizada pela UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) revelou que casos de ansiedade e estresse no Brasil mais do que dobraram, enquanto os de depressão tiveram aumento de 90%.

Palavras de especialistas

O psicólogo especialista em Transtornos e Patologias Psíquicas, Anderson Zenidarci, percebeu aumento significativo de pacientes com doenças psicossomáticas, entre elas insônia, enxaqueca, problemas alérgicos e gastrointestinais. No aspecto psicoemocional, também cresceu o número de pessoas com diferentes tipos de ansiedade e depressão. “A pandemia trouxe uma grande ameaça invisível, que pode nos destruir a qualquer momento. Isso fez com que as pessoas se sentissem totalmente vulneráveis e passassem a pensar mais sobre a finitude da vida”, diz o psicólogo. “A somatização e os transtornos emocionais são reflexo da ameaça real do vírus, que tirou de todo mundo as premissas de segurança, jogando por terra todas as fantasias de controle”, completa.

Para o psiquiatra forense Guido Palomba, além do confinamento ter servido como fator desencadeante de transtornos mentais para pessoas pré-dispostas, outro ponto de atenção que a Saúde Mental tem de considerar para os próximos anos é a Pandemia dos Psicofármacos que o setor enfrenta. “Hoje é comum as pessoas irem ao psiquiatra e saírem com um diagnóstico e uma receita de antidepressivos”, ele afirma. “A grande maioria dos pacientes não precisa de remédio, porque são pessoas apenas inadaptadas, que têm determinados quadros mentais por vivências dolorosas. Neste caso, elas precisam de aberturas de perspectivas – e isso é possível oferecer, por exemplo, pela musicoterapia e arteterapia. E não pelo uso de medicamentos que agem nos neurônios.”

Para Palomba, a esperança de uma nova perspectiva na Saúde Mental está nos novos estudantes e nos formandos que estejam dispostos a tratar o paciente de forma acolhedora. “É preciso, sim, de troca de informações de ambos os lados e abertura de perspectivas.”, finaliza o psiquiatra.

E MAIS ….

Uma data para refletir

O dia 10 de outubro foi instituído em 1992 como o Dia Mundial da Saúde Mental, pela Federação Mundial de Saúde Mental.

Transtornos mentais acompanham a história da humanidade desde que o mundo é mundo. É possível encontrar relatos de quadros depressivos, histeria e outros comportamentos – que hoje relacionamos às doenças mentais -, em poemas gregos, passagens da Bíblia e textos históricos antigos. Muitos destes textos abordavam transtornos que conhecemos atualmente, como Bipolaridade e Esquizofrenia, como loucura.

De um modo geral, o mundo ocidental do século XIX e meados do século XX, enquadra os distúrbios mentais dentro de um grande bloco denominado “loucura”. Encarado pela sociedade como dádiva dos deuses ou falha da natureza humana, o termo era empregado sempre de forma depreciativa (o sujeito louco), e não como doença.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 31% a 50% da população brasileira pode vir a apresentar pelo menos um episódio de transtorno mental durante a vida. Por essa razão, estabelecer uma data representativa que coloque temas da saúde mental nas agendas dos governos como uma causa comum a todos os povos, independente dos limites nacionais, culturais, políticos ou socioeconômicos, é fundamental para que ocorram novos avanços sobre o assunto. Muito já se alcançou nesse cenário que hoje conta com mais pesquisas, respeito às intervenções relacionadas à essas doenças e acolhimento adequando às pessoas que sofrem delas. Entretanto, estabelecer o dia 10 de outubro como o Dia Mundial da Saúde Mental, serve como um marco de reflexões sobre os problemas que ainda se fazem presentes na realidade do diagnóstico e tratamento de transtornos mentais e para fomentar o desenvolvimento de políticas públicas voltadas ao tema.