Bebê Rena, série da Netflix criada pelo comediante escocês Richard Gadd, tem chamado a atenção da internet, principalmente por ser baseada em uma história real que trata de temas complexos, como stalking (perseguição), abuso de substâncias e violência sexual. “No entanto, além de entretenimento, a série ajuda a pensar sobre o amor e situações em que outros sentimentos são considerados amor” afirma o filósofo, palestrante e escritor Luiz Fellipe de Carvalho.

A série é protagonizada por Donny, um personagem perseguido por uma stalker. Além disso, mostra como ele, de certa forma, gostava dessa atenção. “Isso ajuda a repensar amor e afeto e como nós os buscamos até de modos esdrúxulos”, afirma Luiz Fellipe. Segundo ele, a situação retratada lembra a história mitológica de Eros, que representa o amor, mas um tipo de amor que chamo de ‘amor potência’.

Eros era filho de Ares, deus da guerra e do impulso, com Afrodite, deusa da beleza. “Ou seja, a junção do impulso com a beleza gerou o amor, mas um que tem poder sobre nós. O impulso de amar e ser amado é tão inescapável que, quando não o conseguimos de formas saudáveis, ele nos toma de modos não saudáveis, como o que acontece na série”, explica.

Segundo o filósofo, a mitologia é um meio importante de expressão do inconsciente coletivo e da condição humana. Por isso, analisar as histórias presentes nessa ‘enciclopédia de mitos’ ajuda a entender mais as questões existenciais dos indivíduos.

“Segundo os mitos, Eros se casou com uma mortal chamada Psiquê, que representa a alma humana. No mito, eles estavam destinados a estarem juntos, mas, em um dado momento, Psiquê traiu a confiança de Eros, o amor, e teve que realizar trabalhos penosos para retomar o amor de Eros. Isso tudo é uma forma de representar que, ao mesmo tempo que o amor adoece, ele também cura”, avalia.

“Por isso, é muito importante ficar atento a esse tipo de situação e tentar entender se o que você chama de amor realmente é amor ou é mais uma necessidade de preencher o espaço que deveria pertencer ao amor”, conclui.