“O ser humano precisa descobrir a si mesmo. A tecnologia é apenas ferramenta. Utilizá-la é imprescindível, mas a ferramenta que abre novos horizontes pode ser você mesmo”. Esse é um dos depoimentos apontados no Estudo OPEE 2023 com educadores brasileiros: educando na era digital.
Em sua segunda edição, a pesquisa, realizada em setembro de 2023 com educadores de escolas públicas e privadas, foi desenvolvida pela OPEE Educação e executada pela Mercare! Educação, com o objetivo de diagnosticar o cenário pedagógico e escolar brasileiro nos últimos 12 meses sobre essa temática.
O estudo, que contou com 1.746 respondentes – mais de 50% professores – de todas as regiões do país, apresenta um conteúdo expressivo sobre a percepção dos educadores em relação à era digital e como a tecnologia pode impactar na formação e no desenvolvimento dos comportamentos infantil e juvenil.
O uso de telas por crianças e jovens
Quando perguntados sobre o uso da tecnologia pelas crianças e pelos jovens, 97,02% dos educadores responderam que as crianças e os jovens estão usando excessivamente as telas sem acompanhamento familiar.
A inteligência artificial (IA) vem ganhando cada vez mais destaque nos diversos setores, inclusive no de educação. Ferramentas como o ChatGPT, chatbot de inteligência artificial desenvolvido pela OpenAI, respondem dúvidas, criam histórias, resolvem problemas e muito mais — tudo isso com uma linguagem semelhante à humana. Nesse sentido, outro dado interessante que a pesquisa evidencia é que 43,81% dos educadores afirmam que o tema da utilização de recursos como inteligência artificial por parte dos alunos é debatido com frequência, visto que é uma preocupação em relação à aprendizagem.
A tecnologia facilita muitos âmbitos da nossa vida, mas quando usada com precaução: “É essencial incentivarmos a presença autêntica, treinar o foco no presente, nas pessoas, reaprender a ‘desligar’ e repousar a mente”, afirma Leo Fraiman, psicoterapeuta, palestrante internacional, escritor e autor da metodologia OPEE.
Tecnologia na sala de aula
A pandemia da Covid-19 acelerou muitos processos, como o maior uso da tecnologia em um momento de isolamento social, cuja alternativa foi adaptar a realidade presencial à remota. Na sala de aula, isso não foi diferente: a tecnologia ganhou ainda mais espaço.
Diariamente, 32,07% dos educadores relatam utilizar a tecnologia em sala de aula. E essa frequência é justificada por 48,40% dos profissionais devido à disponibilidade de recursos tecnológicos da escola. Já em relação ao uso de celulares e de tablets nas salas de aula, 45,59% dos educadores permitem, mas estabelecem uma aplicação consciente.
“A OPEE considera que há ganhos sim no uso da tecnologia, mas considerando o dado de que o Brasil tem sido um dos países cuja população fica mais tempo diante de telas por dia, precisamos urgentemente entender que se ‘em terra de cego quem tem olho é rei’, como diz o ditado, em tempos de tecnologia, quem tem humanidade se torna soberano sobre seu destino”, explica Silvana Pepe, diretora-geral da OPEE Educação.
Bullying e tecnologia
A pesquisa revela, de forma ampla, que os educadores consideram que os impactos da tecnologia no desenvolvimento do comportamento infantil e juvenil são mais negativos (67%) do que positivos (33%). Dentre as grandes consequências desfavoráveis, estão a redução da interação e da convivência entre os pares (30,20%) e a dificuldade de concentração e foco (29,86%). Já os impactos positivos de destaque são a facilitação do aprendizado (44,68%) e o melhor rendimento escolar (22,70%). Vale também destacar que para 80,87% dos educadores, o bullying e o cyberbullying são práticas favorecidas pela tecnologia. Essas práticas violentas vêm ganhando amplitude no país, como mostra o estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apontou que um em cada dez estudantes sofre com o cyberbullying, marcado por ofensas praticadas pela internet.
“Educação em tempos digitais não é sobre vigiar, punir ou controlar, apenas. Educar nestes tempos é sobre cuidar, amar e proteger nossas crianças e jovens para que, a partir de relações humanas saudáveis e equilibradas, cresçam de forma integral e integrada”, afirma Pepe.
Motivação do educador
Na primeira edição do estudo, em 2022, a avaliação média de motivação dos educadores em relação à própria carreira foi de 7,7. Já na pesquisa deste ano, o índice caiu, chegando aos 7,4. Dentre os grandes estímulos dos educadores estão: propósito e impacto gerados (46,79%), gosto pelo que é feito (35,85%), competência (12,08%) e garantia do sustento (5,27%). Em resumo, a maioria dos educadores brasileiros é movida pela paixão. O propósito e o impacto da educação na vida de crianças e jovens ao redor do país é o que os mantêm na profissão.
“Evidências robustas têm nos ensinado que, em uma era digital, o ser humano se torna o grande diferencial na educação. Ironicamente quando tantos correm atrás de telas e de tecnologias, muitas vezes às cegas ou com parcas evidências científicas de sua eficácia, isso não necessariamente se reflete em uma melhor performance dos estudantes”, explica Pepe.
Dados objetivos da pesquisa
O Estudo OPEE 2023 com educadores brasileiros: educando na era digital foi conduzido com profissionais da educação com mais de 24 anos (com prevalência da faixa entre 35 e 44 anos – 35,97%) e das cinco regiões do país (com o estado de São Paulo representando a maior fatia – 34,48%).
O público feminino representa 86,54% dos respondentes da pesquisa e os educadores de escolas privadas são maioria, com 78,58%. A maioria dos educadores, representando 38,60%, está na profissão há mais de 21 anos. Já em relação aos cargos ocupados, 29,32% são professores especialistas, 28,18% são professores polivalentes e 16,61% coordenadores.
As escolas com um número de alunos entre 201 e 500 se destacam, representando 36,08%, e o ensino fundamental nos anos iniciais é a grande área de atuação entre os educadores, equivalendo a 56,19%. No que diz respeito à metodologia OPEE, 47,65% dos educadores respondentes atuam com ela.