Com a evolução da ciência, trazendo possibilidades antes inimagináveis, muitas pessoas têm receio de que evoluções que podem alterar a ordem natural das coisas possam trazer consequências desastrosas. O clássico de terror ‘Frankenstein’ é conhecido pela famosa história do médico que criou um novo ser de forma artificial com partes de corpos humanos que, após ganhar consciência, acaba se transformando em uma aberração.

Essa história ilustra o medo de muitas pessoas em relação às consequências da exploração de áreas sensíveis, alterando funções antes tidas como estritamente naturais, transformando-as em artificiais pela ciência possa causar consequências catastróficas para a humanidade.

Não raro, evoluções da ciência são barradas por preceitos éticos e morais, como a clonagem humana ou a manipulação genética. Esse é o tema abordado pelo neurocientista Fabiano de Abreu Agrela em seu artigo ‘A síndrome de Frankenstein’, publicado pela Ciencia Latina Revista Multidisciplinar.

“A história de Frankenstein incorpora o medo de que os humanos sejam de alguma forma controladas por suas invenções? (…) A nova tecnologia faz isso parecer uma ameaça real. A síndrome pode colocar o sujeito em uma realidade abstrata de modo que imagine coisas que possam vir a acontecer, o que pode desencadear uma ansiedade que acarreta outros problemas.”

Apreensão

Mudar dá medo. A perspectiva de alterar tudo que vinha sendo feito anteriormente gera ansiedade e apreensão em muitas pessoas. Embora nenhum novo procedimento seja isento de riscos, todas as novas evoluções têm cunho terapêutico e podem representar avanços importantes no tratamento de diversas doenças, mas esse ponto de vista raramente é analisado por quem tem a síndrome de Frankenstein, dando ênfase apenas no lado negativo.

“Uma ‘novidade’ pode levar à rejeição. Principalmente quando atinge diretamente os seres humanos, a existência de uma tecnologia capaz de alterar a evolução natural dos seres vivos repugna a muitos por suas crenças ideológicas. (…) Os avanços tecnológicos são parte integral de nossas vidas hoje, é claro, também devemos reconhecer que esses avanços nem sempre são perfeitos. (…) No entanto, desse medo à síndrome de Frankenstein, ainda há um longo caminho a percorrer.”

Familiaridade e medo

O desconhecido causa medo. Em especial em relação às evoluções da ciência e da tecnologia, essa máxima sempre foi verdadeira. A revolução industrial, o surgimento da internet, dos aviões, das vacinas etc. Em diversos momentos, a sociedade rejeitou novas perspectivas tecnológicas que, com o tempo, fixaram-se como essenciais para a vida contemporânea.

Isso diz respeito à familiaridade com as tecnologias, um processo lento, mas essencial para que novas ideias sejam melhor assimiladas. No entanto, a capacidade de desenvolvimento tecnológico ocorre muito rapidamente, o que não acompanha nossa capacidade de se familiarizar; mal nos acostumamos com uma nova descoberta e surgem várias depois.

“Talvez a realidade seja que são duas curvas a considerar. A primeira é o rápido – quase exponencial – crescimento em tecnologia e soluções para a saúde. (…) A segunda curva pode até ser mais complicada do que a própria tecnologia – para a mente humana. A capacidade de nosso pensamento emocional mudar e adotar é real, mas muitas vezes de forma lenta.”

Lembre-se que a história de Frankenstein é fictícia e o mito envolto nas evoluções tecnológicas é pura e simplesmente isso: mitos. Obviamente deve ser feita uma série de perguntas e se tomar uma série de cuidados para evitar que novas tecnologias prejudiquem a humanidade. No entanto, frear o desenvolvimento da sociedade baseado única e exclusivamente em medos pessoais da mudança não é a solução. Todas as grandes revoluções apresentaram grandes rejeições, no entanto se tornaram itens essenciais para nossa vida. Por que a história não se repetiria com novas inovações?